O mundo já reconheceu que temos condições – capacidade de produção, qualidade, sanidade, produtividade e sustentabilidade – para alimentar pelo menos um bilhão de pessoas. Essa vocação brasileira para suprir o mundo com alimentos deve ser a catapulta definitiva para superarmos o tratamento terceiro-mundista que ainda recebemos da alguns países.
O agronegócio vem dando uma extraordinária contribuição ao desenvolvimento econômico e à segurança alimentar do Brasil. Esse vasto e multifacetado universo é puxado pela agroindústria da carne, um setor de cadeias longas e complexas que ocupa milhões de pessoas no campo e na cidade e exporta proteína para mais de 160 países.
Apesar do nível de especialização e avanço tecnológico, esse setor sofre poderosas influências de fatores extraorganizacionais que afetam sua competitividade.
No campo, onde se localiza a base produtiva de toda a matéria-prima, o desafio é garantir a sucessão nas propriedades rurais, transformadas em empresas rurais, como resultado dos intensos programas de capacitação técnica e gerencial dos produtores e suas famílias. A sucessão é essencial para a perpetuação da atividade agropecuária e fixar a população na área rural. Duas variáveis atuam nesse processo: a melhoria da renda familiar rural, que permite elevar a qualidade de vida, e as condições de vida e trabalho no campo. A agroindústria garante a primeira; o Poder Público precisa contribuir com a segunda.
Mas os grandes flagelos da agroindústria são as deficiências infraestruturais que anulam os ganhos no campo e na indústria. A falta de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, centros de processamento de exportações, gasodutos, água, comunicações e energia ameaçam a expansão empresarial. É notório que a manutenção da máquina pública devora praticamente toda a receita tributária, retirando da União Federal a capacidade de investimento, aparentemente não deixando outra opção a não ser as parcerias público-privadas. Entregar ao capital privado a construção das obras de infraestrutura, mediante a privatização de setores públicos, é uma saída porque, evidentemente, é melhor pagar por essas melhorias do que nunca tê-las…
Outro aspecto é a escassez de mão de obra para ampliar as unidades industriais, fenômeno particularmente presente no sul do Brasil e que vem exigindo crescente automatização e robotização das atividades fabris, de um lado, e o emprego de trabalhadores de países vizinhos, de outro lado. Como se sabe, a agroindústria é um segmento intensivista em mão de obra e assegura elevado índice de desenvolvimento humano e econômico nas regiões onde se faz presente.
A questão sanitária é outro aspecto que realça a complexidade da indústria de alimentos cárneos. O Brasil e, em particular, Santa Catarina conquistaram invejável status sanitário na esfera mundial, condição privilegiada para a conquista dos mercados mais exigentes, ao lado da qualidade e do preço competitivo de nossos produtos. Manter essa condição exige vigilância, tecnologia e investimento.
O mundo já reconheceu que temos condições – capacidade de produção, qualidade, sanidade, produtividade e sustentabilidade – para alimentar pelo menos um bilhão de pessoas. Essa vocação brasileira para suprir o mundo com alimentos deve ser a catapulta definitiva para superarmos o tratamento terceiro-mundista que ainda recebemos da alguns países.
Para cumprir esse papel planetário precisamos de uma atuação diplomática eficaz e efetiva para derrubar, mediante negociações bilaterais, injustas barreiras tributária e não-tributárias que ainda são impostas por mercados potenciais, como Índia e Coreia.
O agronegócio brasileiro é um gigante, mas os seus desafios também são.
Fonte: Por Neivor Canton, presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos
Curadoria: Boi a Pasto