outubro 18, 2024

Sombreamento evita estresse calórico em dias quentes

Embora estejamos no inverno com queda nas temperaturas e geadas por todo o Brasil, é nessa época que o produtor deve se preparar para os dias quentes. Segundo uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o sombreamento aumentou em 22 e 24% a produção leiteira das fêmeas Gir e Girolando respectivamente, em piquetes sombreados quando comparada à produção em manejo tradicional. O estresse calórico é uma das causas de grande impacto econômico na eficiência de vacas leiteiras, provocando efeitos negativos na produção de leite, assim como na reprodução desses animais, podendo,  ainda, provocar distúrbios metabólicos e diminuir a eficiência do sistema de defesa do animal, proporcionando maiores chances de ocorrência de doenças.Esse estresse calórico provoca nos animais uma redução no consumo de alimentos, sendo que essa é uma tentativa do animal em diminuir o metabolismo basal, buscando manter a temperatura constante. Esta redução no consumo de alimento impacta de forma negativa na produção de leite. Vacas que estão em período de lactação, apresentam maior consumo de alimentos e, consequentemente, apresentam maior dificuldade em manter o  equilíbrio térmico, principalmente quando em situação de estresse térmico, seja ela por irradiação solar ou altas temperaturas. O sombreamento, devidamente planejado, poderá impactar de forma positiva na produtividade dos animais, diminuindo a sensação térmica provocada pelas altas temperaturas e diminuindo a irradiação excessiva do sol, tendo efeito direto na melhoria do consumo de alimento. Temos duas formas de fazer o sombreamento, podendo ser naturais e artificiais. As sombras naturais, proporcionadas por vegetações nativas ou mesmo de reflorestamentos, têm por objetivo impedir a incidência solar e reduzir a temperatura ambiental por meio da atividade evaporativa das folhas, amenizando os efeitos indesejáveis do clima tropical, caracterizado por ser quente e úmido, proporcionando assim o conforto térmico para os animais. Sobre o sombreamento artificial, conforme destacado em algumas pesquisas, há uma redução de 30% a 50% da carga total de calor, sendo que é importante considerar a sua localização, orientação conforme o clima e tamanho da sombra. Para utilização de sombreamento artificial, é indicado de 3,5m² a 4,5m² de espaço de sombra por vaca leiteira, com recomendação da orientação de norte-sul com o objetivo de a luz solar sob a sombra secar o chão, evitando o acúmulo de água e formação de lama, diminuindo as chances de contaminação das glândulas mamárias dos animais. Essa alternativa de sombreamento pode ser realizada com estruturas simples como sombrites (mínimo 80% de sombra), podendo ser fixos ou móveis, sendo que a opção de móvel é indicado em situações as quais se queira evitar a formação de malhadouros, degradação do solo e pastagens. O sombreamento artificial como alternativa para o sombreamento natural é uma alternativa interessante, no entanto, não é tão eficiente pensando em capacidade de alterar a temperatura atmosférica ou umidade relativa do ar, sendo que esses fatores são importantíssimos para que um animal em situação de estresse calórico possa realizar o processo de termorregulação de forma mais eficiente.Diante disso, fica claro que o sombreamento natural é a alternativa mais indicada para vacas leiteiras a pasto com o objetivo de se evitar o estresse calórico. Artigo: Cícero Pereira de Carvalho Júnior, Médico Veterinário do Grupo Matsuda na unidade de Imperatriz no Maranhão

Quando parece que tem pouco pasto, o que podemos fazer?

Sergio Raposo de Medeiros, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, aponta ações que podem ser tomadas agora para tentar minorar o problema de falta de pasto e, também, para alertar o que se não se deve fazer Alguns pecuaristas do Brasil Pecuário-Central já começam a ter a impressão de que os períodos de seca parecem estar se intensificando, seja por um aumento de severidade ou na duração. Há algumas simulações que mostram que isso pode ser mesmo efeito das mudanças climáticas e, já escrevemos sobre isso, com o sugestivo título “Seeeeeeeeeeeeeeeeca” cujo link segue na nota de rodapé*. Esse ano, em vários locais, as chuvas do período das águas já foram menos intensas e pararam antes da hora. A situação, então não é folgada em termos das pastagens, com uma “seca” quase inteira pela frente. E não se tem bola de cristal para saber quando as chuvas efetivamente voltarão. Nesse cenário, é aconselhável ter muita cautela, em geral sendo melhor agir para aumentar a chance de sobrar pasto do que arriscar faltar. Ao contrário do texto que passamos o link acima, portanto, esse aqui lida com ações que podem ser tomadas agora para tentar minorar o problema de falta de pasto e, também, para alertar o que devemos evitar fazer. Abaixo, listamos algumas opções para dar folga ao pasto até que as chuvas voltem: 1. Vender animais Essa é a saída mais simples e lógica e, ao mesmo tempo, a mais impopular. Ninguém gosta de se desfazer de ativos, os bois, que são os ganhos futuros na atividade. A questão é que, se a manutenção de todos os animais significar superpastejo, o prejuízo é duplo: os animais terão baixo desempenho e contribuiremos para a degradação do pasto. 2. Usar rações A suplementação de pastagens na seca é uma obrigação no Brasil Pecuário-Central. A questão é que, as opções que têm melhor relação benefício/custo dependem de alta disponibilidade de forragem, mesmo que de baixa qualidade. Assim, as pastagens diferidas na seca serão os locais onde estas estratégias podem ser usadas, mas a realidade de muitas regiões é que as chuvas encurtadas desse verão não permitiram o usual acúmulo de pastagem. É por isso que uma das soluções é usar uma lotação ainda mais baixa do que os cerca de uma unidade animal por hectare que temos como referência (e apenas referência!) nesses casos. Se o pasto tem baixo volume de massa, o uso do proteinado, cuja modo de ação é exatamente aumentar a ingestão dos animais, terá pouco a ajudar se o animal não tiver o que comer. Quantidades um pouco maiores, como nos proteicos-energéticos, também acabam ajudando pouco. Por fim, nos preços atuais dos concentrados, não precisa uma proporção muito grande para deixar a prática antieconômica, algo que cada um deve fazer seus próprios cálculos. Ocorre que, mesmo que a conta de uma suplementação proteico-energético mais intensa, com 5 ou 7 g/kg de peso vivo, se revele econômica, nessa situação a forragem ainda representa entre 75-65% da matéria seca da dieta e, nessa situação indefinida entre em ser uma dieta francamente fibrosa ou outra, bem definida como concentrada, a eficiência biológica é pior, algo que costuma ficar fora da conta financeira. Para fugir disso, uma alternativa a ser considerada é o chamado confinamento a pasto. Nele, usa-se 17 a 20 g/kg de peso vivo de concentrado e, o consumo do pasto pelo animal serve apenas para ele se recuperar do excesso de concentrado, com a fibra de baixa qualidade do pasto ajudando-o a recuperar, minimamente, a função de ruminar. Um alerta é que essa técnica, apesar de ter a grande vantagem de poder ser feita a qualquer momento e por quase todo mundo, não deve ser feita sem o aconselhamento de um técnico, pois há risco real de morte de animais por doenças metabólicas, como a acidose e o timpanismo. Mesmo que não morra nenhum animal, os resultados podem ser bem piores do que seriam com a supervisão recomendada, que vai da formulação da ração e informações fundamentais de manejo com relação, por exemplo, à adaptação dos animais à dieta, um dos ponto-chave para o sucesso desta opção. Uma vantagem do uso do confinamento à pasto, é que as taxas mais elevadas de ganho ajudam o animal a depositar gordura, sendo, portanto, particularmente recomendado para animais que podemos terminar e vender, ou seja, exatamente os que mais vão liberar espaço para os animais que ficam na fazenda, afinal seriam os mais pesados. 3. Usar volumosos Em relação à suplementação concentrada, o uso de volumosos é uma opção bem mais tranquila em termos de segurança de uso, pois, no ambiente de forragem (alimento fibroso), estamos dando mais volumosos (alimento fibroso). O operacional é um pouco mais complicado, exatamente porque, como o próprio nome diz, temos que lidar com volumes maiores para fornecê-los. Aqui, sempre é bom lembrar que o menor custo dos volumosos não necessariamente farão seu uso tão mais barato, pois devemos olhar o custo deles em matéria seca (MS). Uma silagem de milho que custe, por exemplo, R$ 200/t de matéria natural, com 67% de umidade, custa R$ 600 por tonelada de matéria seca (R$200,00/t dividido por 0,33, sendo esse último o teor de MS de 33% da silagem). Para categorias que apenas se deseje manter o peso na seca, como vacas em bom estado corporal, a suplementação com algum volumoso pode ser vantajosa, especialmente quando se considera o custo diário de suplementação, pois fornecemos apenas a quantidade necessária para manter o peso (menos volume), sem conflito entre pasto e concentrado e sem risco de algum animal comer mais concentrado do que deveria. 4. Confinar A pergunta natural depois de considerar suplementar com concentrados e, em seguida, com volumosos: Não seria vantagem usar os dois juntos?. A resposta é que é perfeitamente possível. Nesse caso, então, por que já não fazer uma dieta completa, incluindo minerais e aditivos? E, se fizer, por que já não confinar os animais? Tentar começar um confinamento é especialmente interessante no contexto de reduzir

Potencial e barreiras à emissão dos títulos verdes

A emissão de títulos verdes, ou green bonds, é uma possibilidade cada vez mais concreta para os produtores rurais brasileiros, considerando os crescentes ganhos de produtividade e sustentabilidade proporcionados pelo aporte tecnológico no campo. Porém, para que isso ocorra, é preciso avançar na regularização florestal e agilizar a análise dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR’s). Para entendermos melhor os fatores que credenciam os agropecuaristas do País a esse novo modelo de financiamento, é importante lembrar que, nas últimas quatro décadas, a área plantada expandiu-se em 33% no Brasil, mas a produção agrícola teve crescimento de 386%. Ou seja, produzimos muito mais, ampliando em proporção muito menor as terras ocupadas pelas culturas. O ganho de produtividade deve-se, em grande parte, à tecnologia, conforme demonstram os dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a produção nacional de grãos na safra 2020/21, que será de 272,3 milhões de toneladas, com aumento de 6% sobre o período anterior. A produtividade média estimada é de 3.989 quilos por hectare, com incremento de 2,3% em relação à de 2019/20. O crescente aporte tecnológico no campo, somado ao empenho e consciência ecológica da maioria dos produtores, também contribui para a proteção ambiental. O setor agropecuário brasileiro utiliza, em média, apenas metade da superfície de seus imóveis para a produção. A área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) representa mais de um quarto do território do País, mais precisamente 25,6%, revela a pesquisa “Embrapa Territorial”. Com isso, são protegidos no interior das propriedades 218 milhões de hectares, o equivalente à superfície de 10 países da Europa, incluindo Alemanha, Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália e Portugal, dentre outros. Outro estudo da Embrapa mostra que o uso de tecnologias “poupa-terra” no cultivo da soja propiciou economia de 71 milhões de hectares em área plantada no Brasil, o que representa a soma dos territórios da França e da Irlanda. O mesmo processo de inovação possibilitou que a avicultura de corte economizasse 1,55 milhão de hectares e a suinocultura, um milhão. As chamadas tecnologias poupa-terra mais utilizadas por nossos produtores são as de sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos. Uma de suas principais vantagens é que atendem às demandas das pequenas, médias e grandes propriedades rurais. O sistema ILPF, que integra lavoura, pecuária e floresta em área única, ocupava, em 2015, aproximadamente 11 milhões de hectares no Brasil. Em 2021, são 17 milhões.O modelo soma produtividade a ganhos ambientais, pois reduz a emissão de gases de efeito estufa.  Além disso, tem contribuído para o aumento da renda e geração de empregos no Nordeste, a partir da cultura de macaúba em meio a outras plantações. O sistema de plantio direto (SPD) conserva a cobertura do solo por meio da manutenção dos restos da colheita e palhas, diminuindo a compactação, a erosão e o assoreamento e segurando a umidade. Na fixação biológica do nitrogênio (FBN) utilizam-se bactérias presentes no solo ou adicionadas artificialmente. Por dispensar os fertilizantes nitrogenados na cultura de soja, proporciona economia anual de divisas entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões, segundo dados da Embrapa. Os dados evidenciam a concreta viabilidade de os produtores rurais brasileiros emitirem títulos verdes, que podem gerar R$ 700 bilhões no País até 2030, conforme estimativa da Climate Bonds Initiative (CBI), ONG britânica que sistematiza as normas das práticas sustentáveis nos distintos setores de atividade. Os segmentos florestal, agrícola, pecuária e de bioenergia são os que apresentam maior potencial para a captar esses recursos nos próximos dez anos. Porém, para concretizar essa possibilidade, de modo que os produtores possam capitalizar todo o investimento que têm feito em tecnologia e produção sustentável, é preciso avançar na regularização ambiental e conferir efetividade ao Código Florestal. É premente agilizar a análise do CAR, para identificar os passivos das propriedades e promover as adesões ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Consideradas essas demandas, preocupa-nos o fato de que o Código Florestal (Lei 12.651), discutido durante 13 anos no Congresso Nacional e aprovado em 2012, tenha sido questionado durante muito tempo no Poder Judiciário. Somente em 2018 o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade da maioria dos seus dispositivos. Em São Paulo, demorou quatro anos para a que Lei Estadual 15.684/2015, que dispõe sobre o Programa de Regularização Ambiental (PRA), fosse referendada pelo Tribunal de Justiça do Estado. Agora, é preciso recuperar o tempo perdido, estabelecer mais segurança jurídica e agilizar os procedimentos necessários à viabilização dos títulos verdes. É hora de os produtores rurais que plantaram tecnologia e produtividade colherem os frutos da responsabilidade ambiental. João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA). Fonte: AgroRevenda com curadoria Boi a Pasto.

Grupo usa chip que mimetiza o endométrio bovino para estudar fatores que podem comprometer a gestação

Com o objetivo de investigar fatores que podem comprometer o sucesso gestacional em bovinos, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) usaram uma espécie de chip para mimetizar o ambiente do endométrio – tecido que reveste a parte interna do útero. O trabalho foi conduzido pelo biólogo Tiago Henrique Camara De Bem, pós-doutorando na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), e por mais quatro cientistas da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Os resultados foram divulgados na revista Endocrinology. A equipe focou em investigar alteração das concentrações de insulina e glicose nas células maternas (epiteliais e estromais) e as possíveis consequências para o desenvolvimento gestacional inicial. As células epiteliais são as mais externas do endométrio e, portanto, estão em contato direto com o embrião. Já as estromais estão na parte interna do endométrio, são células de suporte que têm entre suas funções guiar o crescimento, a diferenciação e o desenvolvimento das células epiteliais. O grupo descobriu que altas concentrações de glicose alteraram 21 genes codificadores de proteínas em células epiteliais e 191 em células estromais, com mudanças quantitativas também no secretoma das proteínas (conjunto de proteínas secretadas no meio de cultivo que, nesse caso, mimetiza o fluido do endométrio). “Conforme alteramos a quantidade de glicose e de insulina no meio de cultivo, estressando as células, podemos ativar ou desativar os genes.” A alteração das concentrações de insulina modificou a secreção quantitativa de 196 proteínas, embora tenha resultado em mudanças limitadas no tocante à transcrição gênica. “Trata-se de uma possível composição proteica do fluido uterino, ou seja, do que essas células estariam secretando de proteína para o embrião. Vimos que esse conjunto de moléculas está relacionado com vias de sinalização bastante importantes para o sucesso inicial da gestação em bovinos, relacionadas ao metabolismo, à matriz celular e outros determinantes. Todas essas descobertas evidenciam um mecanismo pelo qual as alterações na glicose e na insulina maternas podem alterar a função uterina.” De Bem teve o apoio da FAPESP por meio de Bolsa de Pós-Doutorado, projeto desenvolvido no Laboratório de Morfofisiologia Molecular e Desenvolvimento sob a supervisão do professor Flávio Vieira Meirelles. Também contou com Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE). Estresse De acordo com o biólogo, o Brasil é referência na produção de embriões de bovinos no mundo, mas as taxas de perdas de gestações ainda são altas. “Aqui, grande parte dos embriões é produzida por fecundação in vitro. Os oócitos [gameta feminino> são coletados, maturados, fecundados, cultivados e transferidos para receptoras sincronizadas. Mas em 40% dos casos a gestação se perde na terceira ou quarta semana”, afirma, lembrando que os bovinos têm período gestacional de aproximadamente nove meses, como os humanos. Ele explica que o sucesso reprodutivo está atrelado a várias condições. “A gestação é uma relação de interação entre a mãe e o embrião que está se desenvolvendo no útero materno. Há ali um crosstalk entre as células do embrião e as da mãe, influenciado por múltiplos aspectos. Quando não há uma comunicação correta – ou o embrião não consegue sinalizar sua presença, ou a mãe não reconhece o embrião em desenvolvimento –, pode ocorrer perda gestacional.” O estresse provocado por diversos fatores (ambientais, nutricionais, de processo produtivo, entre outros) pode gerar instabilidade na comunicação entre a mãe e o embrião e, consequentemente, na gestação. Ele revela que o problema maior, no caso dos bovinos, acontece com as vacas leiteiras de alta produção. Nessa categoria, o período pós-parto inicial é frequentemente associado ao estresse metabólico resultante do balanço energético negativo que acomete as fêmeas nesta fase. “A glicose, por exemplo, é um substrato básico para o metabolismo celular e a célula precisa dela para desempenhar suas funções. As vacas em lactação estão sob desafio metabólico, produzindo leite. O consumo de energia delas é grande, pois precisam manter as funções básicas do organismo, além de todas as funções da produção de leite. E o status do metabolismo da mãe interfere muito na reprodução. Daí nossa preocupação em entender esses fatores causadores de estresse metabólico para o ambiente que receberá o embrião.” Endométrio no chip De Bem ressalta que a pesquisa foi uma parceria com a equipe da professora Niamh Forde, da Faculdade de Medicina da Universidade de Leeds, que também assina o artigo. “Ela investiga o reconhecimento materno da gestação em bovinos. Eu estou interessado em investigar os sinais que o embrião manda para a mãe. Achamos que seria uma boa colaboração e tivemos essa ideia de desenvolver um ‘endométrio no chip’ que permitisse um cultivo multicelular, ou seja, de mais de um tipo de célula do endométrio.” O chip é como se fosse uma lâmina histológica, mas dividido em câmaras, que são compartimentos em que os cientistas fizeram a semeadura de dois tipos celulares. A divisão é constituída de uma membrana porosa que permite a troca de informações entre os dois tipos celulares cultivados nas diferentes câmaras, mas não permite que um tipo passe para baixo e o outro para cima. Trata-se de um chip comercial adaptado para simular um endométrio. “Na câmara superior foram colocadas as células epiteliais. Na inferior, as células estromais. São dois tipos de célula fartamente encontradas no endométrio. O meio da câmara superior ficará enriquecido com fatores que as células epiteliais estão produzindo e secretando, representando o secretoma do endométrio”, explica o pesquisador. O chip permitiu que fosse feita uma infusão constante do meio de cultivo. “Cultivamos as células por três dias, injetando meio de cultivo durante as 72 horas [um microlitro por minuto>, contendo três diferentes concentrações de glicose ou duas diferentes concentrações de insulina. Ou seja, fomos mandando nutrientes bem devagarinho, em um fluxo que mimetiza a melhor fisiologia do meio. Isso nos garantiu que as células fossem expostas às mesmas concentrações de insulina e glicose durante todo o período do experimento”, conta. Futuro O método, que nunca havia sido usado para mimetizar um endométrio de bovino, é inovador, levando-se em conta o cultivo celular tradicional, ainda muito simples, pois não simula todas as condições do organismo. “O endométrio é tridimensional, com vários

Tática para melhorar a taxa de prenhez

“O bezerro, por sua vez, será o reflexo da nutrição fornecida para a vaca” Um bom planejamento nutricional deve levar em consideração as necessidades fisiológicas das diferentes categorias e os níveis nutricionais do alimento oferecido. Quando temos oferta de capim, mesmo seco, podemos lançar mão de ferramentas que favoreçam o aproveitamento desse capim e que forneçam os nutrientes que estão em déficit.Levando em consideração os desafios do período de seca, a primeira providência a ser tomada é sempre ajustar a lotação da fazenda, de maneira que se possa ter oferta de capimo ano todo, pois esta é a fonte de alimento mais barata disponível, então recomenda-se que no final do período de águas, normalmente em março, se consiga vedar em torno de 30% dos pastos, preferencialmente Brachiáriabrizantha, para que sejam utilizados como “feno em pé” no período seco.Vale lembrar que o nutriente mais importante para a vida é a água. Bovinos consomem de 10 a 20% do seu peso vivo em água por dia, então precisamos garantir o volume, a qualidade e o acesso a esse nutriente tão essencial. Para manter sua condição corporal e o bom funcionamento do rúmen, os bovinos devem consumir diariamente no mínimo 2% do seu peso vivo em matéria seca (MS), e esta deve conter o mínimo de 7% de proteína. No período seco, toda qualidade nutricional do capim está reduzida, porém o fator limitante é proteína, que não atinge  o mínimo necessário para o animal manter suas funções, então devemos fornecer um suplemento mineral proteico com fontes de energia, sendo que uma parte dessa proteína pode ser uma “falsa” proteína (nitrogênio não proteico) originária de ureia, e o restante de grãos que também fornecem energia, possibilitando o bom funcionamento do rúmen, a manutenção do escore corporal e até ganho de peso. Para a categoria de cria, utilizar proteinado de seca é fundamental, pois é um momento em que o feto está demandando grandes quantidades de nutrientes, e está ocupando boa parte da cavidade abdominal, deixando menos espaço para o rúmen, o que leva a uma menor ingestão de alimento. O manejo de pasto e a correta suplementação possibilitam que a vaca mantenha uma correta mineralização e uma boa condição corporal no momento do parto, faz com que o puerpério (período de recuperação pós-parto) seja menor, e que essas vacas retornem o quanto antes a ter cios férteis, melhorando a taxa de prenhez e possibilitando maior número de bezerros do cedo.O bezerro, por sua vez, será o reflexo da nutrição fornecida para a vaca, pois desde o momento da concepção, todos os nutrientes necessários para a formação e desenvolvimento desse bezerro dependem exclusivamente da nutrição fetal. Ou seja, quando fornecemos as condições necessárias para as vacas manter seu escore corporal e suas funções fisiológicas, estamos permitindo que esse bezerro que está sendo formado possa expressar todo seu potencial genético ao longo de sua vida. O contrário também é verdadeiro, pois quando falhamos nessa fase, estamos prejudicando o bezerro para sempre, e se pensarmos em bezerras que futuramente serão matrizes, estamos prejudicando gerações. A Matsuda é uma empresa que se destaca na pecuária nacional com sua cultura nutricional de pecuária a pasto eficiente e lucrativa. A empresa disponibiliza diversas linhas de produtos para os diferentes biomas e situações, períodos do ano, categoria animal e sistemas de produção. Uma dessas linhas é a linha WinterFós que é um suplemento mineral proteico aditivado com fontes energéticas e prebióticos,destinado a animais mantidos a pasto no período seco do ano. Sua composição é pensada em manter os animais mineralizados e bem nutridos, fornecendo proteína e energia que estão em déficit no capim,favorecendo o sistema imunológico, saúde intestinal, atividade ruminal, e um melhor aproveitamento do capim seco.Com isso estamos mantendo os animais saudáveis, em desenvolvimento, com uma correta nutrição fetal, produção de colostro e leite de qualidade, rápida recuperação pós-parto e até com ganhos de peso. Historicamente, os bovinos mantidos a pasto sem suplementação correta perdiam peso durante esse período de seca. Hoje, conforme vimos, é possível montar um planejamento eficiente, de baixo custo, onde os animais podem manter sua condição e ter ganhos. Com isso, podemos afirmar que mesmo mantendo o peso, estamos tendo lucro, pois do contrário, além da perda, teríamos que usufruir de uma boa parte do período de águas para recuperar essas perdas, o que leva a um prejuízo que se perpetua ano após ano.Fazer o animal ganhar peso não é difícil; o desafio está em fazer isso de maneira viável, por isso, priorizamos a reserva de capim e a suplementação para obter ganhos que, mesmo pequenos, são lucrativos. A suplementação tem por objetivo “corrigir” as deficiências do alimento, de maneira que possa atender as necessidades fisiológicas dos animais. Basicamente essas necessidades variam de acordo com a categoria, peso e objetivo desse animal. Vacas tem o objetivo de parir um bezerro por ano e produzir leite, que no caso de uma vaca de corte será destinado ao bezerro, e da vaca leiteira será ordenhado.“Como a produção de uma vaca leiteira é maior, as necessidades dela também são maiores, porém os princípios básicos de nutrição são os mesmos, e temos sempre que atender as exigências de manutenção, produção e reprodução.” A pecuária é uma atividade muito dinâmica, e norteada por ciclos, sejam eles climáticos, fisiológicos e, obviamente, comerciais. Um bom técnico conhece esses ciclos e vai orientar o produtor sobre sua atividade, com ajustes na suplementação, estratégias para os diferentes períodos, fazer uma programação de reserva forrageira, sempre pensando em atender as necessidades fisiológicas dos animais, utilizando melhor os recursos e tornando a atividade eficiente, produtiva e lucrativa. O Grupo Matsuda atua não somente com sementes e produtos para nutrição animal, como também dispõe de um departamento técnico com profissionais prontos para orientar o produtor dentro dessa cultura nutricional de respeito a fisiologia animal e maior lucratividade para o produtor, pois manter os nossos clientes lucrando com a atividade é a chave para o sucesso da empresa. Por: Pedro Alex Florczak Almeida.Graduação: Universidade Federal de Santa Maria

Zoneamento de risco climático na pecuária leiteira: o que é? Para que serve?

No Brasil, os zoneamentos de risco climático são elaborados para diversas culturas agrícolas e têm sido extensivamente investigados. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), desenvolvido pela Embrapa e parceiros, é aplicado oficialmente desde 1996, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. No entanto, há carência deste tipo de estudo para a pecuária, seja de corte ou de leite, que levem em consideração o desempenho de diferentes raças bovinas, bem como as condições das pastagens que podem ser afetadas pelas variações climáticas locais, regionais ou nacional. O ZARC voltado para a pecuária leiteira pode ser visto como um instrumento de política pública e gestão de riscos climáticos visando minimizar os efeitos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e otimizar a produção e a produtividade da bovinocultura leiteira, considerando a relação entre a genética animal, as condições ambientais para conforto animal e a disponibilidade de forragens. Nos ambientes tropicais, a elevada temperatura associada à alta umidade relativa do ar, com maior intensidade no verão podem causar desconforto térmico aos animais e, consequentemente, perdas de produção. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) disponibiliza para o setor produtivo, estimativas atualizadas do Índice de Temperatura e Umidade – ITU que, entre outras aplicações, são úteis para identificar as condições de conforto térmico dos animais e orientar práticas para amenizar seus possíveis impactos negativos sobre o desempenho do rebanho. A Figura 1 ilustra um exemplo do ITU aplicado ao município de Unaí, um importante produtor de leite de Minas Gerais. Figura 1– Índice de temperatura e umidade (ITU) relacionado ao conforto térmico bovino para o município de Unaí, MG. Fonte: INMET (2021). Observa-se que neste município, durante alguns dias do mês de outubro de 2020 houve perigo, quando o índice esteve acima da linha de cor vermelha que indica forte desconforto térmico. Além disso, nota-se vários dias com indicativos de alerta e de atenção, quando o ITU esteve acima das linhas de cores laranja e amarela, respectivamente. Vale destacar que as condições ambientais têm impacto direto na eficiência dos processos de controle térmico pelo animal, resultando na intensificação de estresse calórico e, por conseguinte, interferindo na sua eficiência produtiva e reprodutiva. Os animais de origem europeia acabam sendo mais sensíveis, mas não são os únicos. No geral, todas as raças sentem o impacto negativo desse estresse. Estudo em sistema ILPF publicado no portal Milkpoint mostrou que mesmo vacas Gir leiteiro tiveram aumento de 22% na produção de leite quando houve o acesso à sombra de eucalipto. Em outra análise, houve a avaliação do estresse em vacas secas e indicou uma redução na produção de leite da próxima lactação em cerca de 4 kg por dia. Dessa forma, é importante observar e monitorar os animais em seu ambiente de produção, seja em sistemas a pasto ou confinado, e ao concluir a existência de estresse calórico, buscar meios para reduzi-lo. As pastagens naturais ou cultivadas constituem base da alimentação do rebanho na maioria das fazendas de produção de leite no Brasil. Assim, qualquer alteração na sua qualidade ou disponibilidade pode interferir na produtividade e na rentabilidade da atividade. Fundamental, portanto, considerar a pastagem como um dos principais recursos para o sucesso desta atividade. A sazonalidade da produção das pastagens é muito afetada pelas condições climáticas, determinando aspectos como a quantidade e a qualidade da massa forrageira e sua interferência na produção de leite em diferentes escalas geográficas (local, regional e nacional). Pastagens em estágio avançado de degradação tem sido um grande problema para a pecuária brasileira. Apesar do consenso entre os especialistas sobre a existência de degradação, há divergências em relação a dimensão do problema, pois as metodologias se diferem quanto a forma de mensuração ou avaliação do fenômeno quantitativa e qualitativamente. O Censo Agropecuário de 2017 (IBGE), de fonte declaratória, apontou a existência de cerca de 12 milhões de hectares de pastagens em condições degradação no Brasil (Figura 2). Figura 2 – Área de pastagens não degradada (barra azul) e degradadas (barra laranja) nas Regiões brasileiras. Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2017). Por outro lado, mapeamentos do vigor ou produtividade das pastagens, por meio de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, como o efetuado pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), vinculado à Universidade Federal de Goiás, indicam que 99 milhões de hectares de pastagens podem estar degradadas no Brasil (Figura 3). O mapeamento foi baseado em dados de satélite e avalia alterações no vigor das pastagens por meio da análise temporal de índices de vegetação. As áreas com tendências de perda de vigor da vegetação foram consideradas como áreas com indicativos de degradação. Tal estatística evidencia o grande potencial de incremento de produtividade na pecuária nacional via melhorias no manejo destas pastagens, o que vai também impactar positivamente a redução de custos de produção de leite e de corte. Conforme mostrado na Figura 3, essa realidade não é específica de um bioma, mas um retrato do País. Vale mencionar que a degradação de pastagens acaba afetando mais a pecuária extensiva de corte, mas tem o seu efeito no leite também. A ausência de dados mais desagregados dificulta uma quantificação do seu impacto, mas é comum a observação de pastagem com algum grau de degradação em fazendas de leite em sistemas mais extensivos e semi confinamentos. Em Minas Gerais, é fácil observar essa situação em propriedades da Zona da Mata, Campo das Vertentes e Norte de Minas. Mas ela pode ser estendida para outras localidades. Em muitos casos a degradação não está no pasto das vacas em lactação, mas nas áreas utilizadas por vacas secas e novilhas, podendo ter efeitos negativos inclusive na reprodução dos animais e idade ao primeiro parto. Figura 3 – Área de pastagens não degradadas (barra azul) e degradadas (barra laranja) em Biomas brasileiros, período 2011 a 2016. Fonte: LAPIG – Atlas das Pastagens Brasileiras.  Dessa forma, o conhecimento do território e a sua representação são condições básicas para a promoção do desenvolvimento, sendo que o fator do risco climático mostra a necessidade premente do desenvolvimento de pesquisas focadas no aumento da eficiência produtiva em condições climáticas tropicais, conforme zoneamento estabelecido. Assim, é importante a criação de programas de seguro de produtividade ou de renda, uma pauta

Devastação ambiental continua alarmante, mas a boa notícia é que a pecuária tem a solução

MEIO AMBIENTE (*)Por Marisa Sevilha Rodrigues No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho último, infelizmente, as notícias não foram das melhores para o Brasil, pois os números divulgados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre a devastação no mês de maio informaram que houve 49% a mais de queimadas em relação a maio do ano passado, só na Amazonia Legal. A preocupação dos especialistas faz todo o sentido, uma vez que ainda estamos no começo de junho, e já temos esses números bem alarmantes, imagine-se quando chegarmos a setembro e outubro, tendo que enfrentar no período o auge da seca. Se nada for feito para conter esse avanço absurdo das queimadas, as consequências poderão ser catastróficas. E, de novo, e mais uma vez, nesses dois anos de Governo bolsonarista, não podemos ter esperanças de que algo melhore neste sentido. Senão, vejamos: onde está o Ministro do Meio Ambiente, senhor Ricardo Salles, que sequer fêz um pronunciamento oficial no Dia do Meio Ambiente, preocupado só em se defender das acusações de envolvimentono escândalo de envio ilegal de madeira para os Estados Unidos? A notícia explosiva, aparentemente, pegou o Ministro de calças curtas, e ele desapareceu da mídia. Não deu entrevistas, e se isolou, preocupando-se unicamente em apresentar suas defesas, e deixando o ministério ao deus-dará, nesse período. O que não faz muita diferença, porquê como todos sabemos, suas intenções são de “passar a boiada”, como ele mesmo se expressou numa reunião gravada em vídeo, no Planalto, junto com outros ministros e até mesmo o presidente Bolsonaro, demonstrando claramente seus interesses escusos em relação ao Meio Ambiente, que em nada corroboram ou somam com as intenções dos especialistas sérios como técnicos do ICNBIO, IBAMA, FUNAI, da Embrapa, entre outros, preocupados em proteger as nossas florestas, sejam as da Amazônia, ou da Mata Atlântica, dos manguezais no Nordeste, e quilômetros de regiões ribeirinhas que são santuários ecológicos marinhos, como as Mangaratiba, na região dos Lagos, etc..etc..etc… Enquanto isso, nós que trabalhamos com pecuária, seja na área de produção de carne e leite à pasto, seja na informação para ajudar o setor a produzir cada vez mais e melhor, em menor área, não podemos ficar de braços cruzados. Nós já sabemos, por meio de vários trabalhos científicos da Embrapa, do IZ- Instituto de Zootecnia, entre outras grandes instituições de renome, nacional e internacional, que nas áreas de pastagens, não precisamos derrubar mais nenhuma árvore, para aumentar a produtividade, embora 74% de nossas pastagens encontrem-se em algum nível de degradação.  Então, não há muito o que pensar: é preciso investir em recuperação e essa é uma decisão que tem que ser tomada com coragem.  Quando soube disso, por volta de 2005, ainda do ponto de vista do marketing, sem muita consciência ambiental, admito, entendi claramente que as empresas do setor tinham ouro em pó nas mãos e que era só investir na divulgação de suas sementes forrageiras e correr pro abraço, pois tínhamos (temos) uns cem anos aí pela frente, pra recuperar tudo o que está degradado, ainda mais com a necessidade de cada vez se produzir mais.  Foi justamente quando criamos o portal Boi a Pasto para incentivar essas ações. Mas,  mudar paradigmas, não é fácil, como dizia Jorge Matsuda, diretor presidente do Grupo Matsuda, e nosso cliente de Assessoria de Comunicação, pela agência Taxi Blue, por onde botamos o nosso pezinho no agro. Infelizmente, o mercado ainda não estava maduro o suficiente para entender e apoiar nossa proposta.  Como profissional de comunicação sempre vivi esse tipo de problema. Tenho ideias para 20, 30 anos à frente do meu tempo. Aí, semeio e outros colhem. Dessa vez, creio que será diferente, pois não dá para adiar ou fechar os olhos para essa questão. Se temos mais de 174 milhões de hectares de áreas de pastagens (esse número é aproximado, provavelmente seja mais do que isso, no atual momento), no Brasil e cerca de 70% são degradadas em vários níveis, já pensaram no tamanho do mercado que temos para vender sementes forrageiras? Mas, para isso, são necessárias ações contínuas de marketing e de comunicação para ajudar a conscientizar os pecuaristas e envolvê-los como parceiros de primeira hora, nesse processo que pode durar os próximos cem anos. Ou seja: garantir a existência dos negócios de sementes forrageiras para as próximas dez gerações e, ao mesmo tempo, transformar em mocinha do meio ambiente aquela que nos últimos 30 anos tem sido vista como sua grande vilã, mesmo que já tenha mudado muito sua maneira de agir sobre o manejo das pastagens. Nós, da porteira para dentro, sabemos disso, mas quem é que sabe lá fora, nas comunidades urbanas, ou no exterior, se os empresários do setor se limitam a fazer o mínimo dos mínimos, em termos de comunicação, até com o seu mercado primário, que são justamente os pecuaristas? É mais fácil mantê-los sob essa pecha de vilões, do que juntar-se a eles e mudar todo esse cenário? Será que é isso e sou eu que estou equivocada? Tenho certeza que não, pois nosso empresariado do agronegócio, mais ainda da pecuária é extremamente conservador, mas não é louco. Acreditamos que a maioria dos pecuaristas já estão conscientes sobre a necessidade da recuperação das área de pastagens degradadas. Aliás, mais que conscientes, estão convencidos disso. Porém, uma andorinha só não faz verão. É preciso que todo o setor forrageiro abrace esse causa. Convenhamos, que não dá mais prá ficar exigindo ou cobrando só do pecuarista que ele faça a lição de casa, garantindo a tal da sustentabilidade em todas as suas ações, sem que as indústrias que dependem dele como consumidor, não apoiem ou incentivem iniciativas nesse sentido. Mesmo porquê, é um trabalho muito profícuo de parceria de mão dupla, onde todos os envolvidos no processosaem ganhando: de um lado, as empresas que têm sementes para vender, investem e desenvolvem sementes cada vez mais tecnológicas para atender a maior e mais abrangente diversidade de condições edafoclimáticas, etc…etc…e de outro lado, temos os pecuaristas necessitando produzir

Genômica pode alavancar a produtividade da pecuária nacional

Superintendente da ABCZ afirma que melhoramento genético permite que animais antecipem reprodução, produzam mais e consumam menos alimentos O agronegócio brasileiro é um setor consideravelmente relevante para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Entre 2019 e 2020, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor acumulou uma participação de 26,6% no PIB total do país, com crescimento de 24,31% em comparação ao ano anterior. Segundo a mesma fonte, o setor pecuário, especificamente, cresceu 24,56% no mesmo período, o que demonstra a importância da produção de alimentos de origem animal no território brasileiro. Uma pecuária produtiva depende de uma série de fatores, entre os quais estão a nutrição, o manejo e a genética dos animais. A genética, particularmente, chama à atenção por ser o único insumo que pode ser “acumulado” ao longo dos anos. Na bovinocultura, selecionar e utilizar os touros e matrizes geneticamente superiores nas características economicamente importantes, tais como precocidade reprodutiva e rendimento de carcaça, geração após geração, resulta em um acúmulo positivo de genes favoráveis ao aumento de produtividade. Com a utilização correta da genética, é possível tornar os rebanhos cada vez mais eficientes, pois os animais vão, progressivamente, entrar em reprodução mais cedo, produzir mais e consumir uma quantidade cada vez menor de alimento para cada quilo de carne ou litro de leite gerados. Do ponto de vista do fluxo gênico, a criação de bovinos pode ser dividida em três estratos: rebanhos núcleos, rebanhos multiplicadores e rebanhos comerciais. Os rebanhos núcleos empreendem esforços e utilizam ferramentas adequadas para obter progresso genético nas características economicamente importantes na produção. Avaliam e selecionam rigorosamente aqueles indivíduos que merecem passar seus genes às próximas gerações e entregam como produto final uma genética superior por meio de touros e matrizes ou de material biológico para reprodução artificial (sêmen ou óvulos). Já os rebanhos multiplicadores, como o próprio nome já diz, multiplicam a genética superior oriunda dos rebanhos núcleos, aumentando a quantidade de reprodutores disponíveis que serão destinados aos rebanhos comerciais, os quais utilizam a genética como insumo e produzem carne e/ou leite.  As tecnologias disponíveis para obtenção de progresso genético evoluíram significativamente nas últimas décadas. Hoje é possível avaliar muito cedo, com uma aceitável chance de acerto, os animais com a utilização de marcadores moleculares do tipo SNP (Single Nucleotide Polymorphism). Os referidos marcadores são mutações naturais encontradas ao longo de todo genoma do animal e estão relacionadas com a genética que determina características importantes para a produção de carne e/ou leite. A genômica, que é o termo aplicado à técnica que lança mão dos referidos marcadores moleculares, permite avaliar geneticamente bezerros recém nascidos e até mesmo embriões com a mesma, ou até mesmo maior, confiança de uma avalição tradicional de um touro adulto com alguns filhos testados. Deste modo, o melhoramento genético acontece mais rápido, pois os machos e fêmeas que merecem passar seus genes para à próxima geração são precocemente selecionados e colocados em reprodução. Os rebanhos núcleos têm investido sistematicamente em genômica e os resultados obtidos são excelentes. Touros e vacas (ou material biológico para reprodução) geneticamente superiores são disponibilizados para o mercado cada vez mais cedo e com uma qualidade cada vez maior. Deste modo, os rebanhos comerciais podem ter acesso ao “insumo genética” com um valor agregado que aumenta, expressivamente, a cada nova geração de reprodutores. Ao utilizar a genética dos rebanhos núcleos, melhorada com o auxílio da genômica, os produtores de carne têm observado ganhos expressivos em peso, precocidade sexual, fertilidade, rendimento e qualidade da carcaça e em muitas outras características economicamente importantes. Assim, a genômica tem impulsionado a bovinocultura, permitindo uma produção de carne e/ou leite com maior lucratividade, com menor impacto ambiental e com maior possibilidade de gerar empregos diretos e indiretos. *Henrique Torres Ventura é superintendente adjunto de melhoramento genético da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), criada em 1919 no Triângulo Mineiro e que congrega cerca de 23 mil associados. Fonte: Revista Globo Rural com curadoria Boi a Pasto.

Agricultura de baixo carbono é lição do Brasil ao mundo sustentável

Nada é tão inovador, na agenda global do clima, como o programa brasileiro intitulado “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono”. O apelidado “Plano ABC” traça a rota do futuro agroambiental do país e dá uma lição ao mundo sustentável. Sua revolucionária formulação cabe à Embrapa. Apresentado inicialmente em 2009, na COP 15 sobre Mudança de Clima (Copenhague, Dinamarca), o Plano ABC serviu de base para o Brasil apresentar, em 2015, suas metas ambiciosas no Acordo do Clima de Paris. Qual é sua novidade, e de onde vem sua força? Da estratégia de combate às mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono da atmosfera. Entender isso é fundamental. Todos os países propõem reduzir emissões de GEE (gases efeito-estufa), cortando o uso de combustível fóssil, principalmente petróleo e carvão mineral. Mas, se o problema central, segundo a teoria do IPCC/ONU, é o acúmulo de CO² na atmosfera, na equação do clima vale também retirar gás carbônico do ar. Pois bem. Por meio da fotossíntese, um maravilhoso fenômeno bioquímico, as plantas crescem absorvendo CO² e liberando oxigênio ao ambiente. Árvores, assim, armazenam carbono em seus tecidos lenhosos. Assim como gramíneas o fazem, especialmente em suas longas raízes. Baseados nesse princípio, os pesquisadores da Embrapa calcularam o efeito benéfico, na equação climática, da transformação de velhas pastagens, degradadas, em novas pastagens. O resultado é surpreendente. Milhões de toneladas de carbono acabam fixadas ao solo pelo revigoramento das gramíneas. O raciocínio vale também para lavouras. O acúmulo de matéria orgânica no solo passou a ser um drive da sustentabilidade rural. No Acordo do Clima (Paris, 2015), a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil estabeleceu, entre outras, as seguintes metas: recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; aumentar a adoção de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em quatro milhões de hectares; ampliar a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) em oito milhões de hectares; e expandir a área com florestas plantadas em três milhões de hectares. A roda começou a virar. Um conjunto de sete ações, constituídas por práticas agropecuárias sustentáveis, serviu de base para a formulação do programa de financiamento dessa transição da agricultura. Um balanço atual, realizado pelo Ministério da Agricultura, mostra que o padrão ABC já atinge 52 milhões de hectares – cerca de 75% da área cultivada do país. Na contabilidade do carbono, foram mitigados 170 milhões de toneladas de CO² equivalente, ultrapassando a meta da NDC brasileira em 115%. É sensacional. Comprova, inequivocamente, o avanço agroambiental no campo, cujo pilar é o revolucionário SPD, que dispensa aração e gradeação das áreas de plantio. Empolgada, a ministra Tereza Cristina lançou no último mês o Plano ABC+, para balizar a década 2020/2030. Afirmou que “seguiremos aliando segurança alimentar à conservação ambiental. É viável e rentável”. Um desejado casamento da agronomia com a ecologia. Quando, em 2018, Jair Bolsonaro afirmou que romperia com o Acordo do Clima, muitos de nós reagimos fortemente para mostrar ao ainda candidato que a agenda do baixo carbono interessava ao futuro da agropecuária brasileira. Fortaleceria nossa competitividade e assim tem ocorrido. Infelizmente, poucos formadores de opinião – políticos, jornalistas e influencers – conhecem os resultados positivos trazidos pela implementação da agricultura de baixo carbono no Brasil. A maioria ainda enxerga o campo com os olhos do passado. Daí surge um grave problema de comunicação, que macula a imagem do agro. Modernos e competentes agricultores brasileiros, que investem em tecnologias sustentáveis e levam o país a disputar a liderança mundial do agronegócio, são confundidos com os criminosos que praticam o desmatamento ilegal da Amazônia. A maioria correta paga o mico dos cafajestes. Não coibidas como deveriam ser, pelo governo, e não condenadas como poderiam ser, pelos líderes do próprio setor, as práticas rurais antiecológicas de uma minoria abrem brechas para o ataque, interno e externo, contra o agro brasileiro. Lamentável. Na recente Cúpula do Clima, bastaria Bolsonaro mostrar os fatos. Nenhum setor nacional, nem qualquer país do mundo, contribui mais para mitigar mudanças do Clima que o agro brasileiro. O resto é discurso. Xico Graziano é engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS). Fonte: Revista AgroRevenda com curadoria Boi a Pasto.

A irrigação no Brasil é uma necessidade e opção estratégica

A irrigação foi a causa da crise hídrica que ocorreu no Brasil em 2014-2015? Ela pode ser a causa de uma nova crise em 2021? A ciência pode ajudar a compreender a situação, motivo de debates e controvérsias. No Brasil, 49,8% da água captada de fontes hídricas é utilizada para a irrigação, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Entretanto, a frase “a irrigação consome 70% da água” foi amplamente divulgada há alguns anos e poderá voltar às manchetes. Mas esse número se refere a uma estimativa sobre o uso de água pela agricultura em escala mundial e, de forma equivocada, tem sido lembrado e utilizado. A analogia com o olhar sobre o copo d’água “meio cheio” ou “meio vazio” pode ajudar a compreender o que representa a agricultura irrigada ou, simplesmente, a irrigação, num País onde o campo é fundamental para a atividade econômica, social e ambiental. A agricultura é uma atividade de risco e a irrigação implica em maior custo de produção, mas ao mesmo tempo pode diminuir o risco e aumentar o lucro, uma vez que sua prática é necessária em regiões onde a demanda de água pelas plantas supera o regime de chuvas. A irrigação pode ser também uma opção estratégica em outras regiões, para garantir a produção em caso de veranicos, ou mesmo para aumentar a produtividade. É fato que a agricultura é a maior usuária de água no mundo. Segundo as Contas Econômicas Ambientais da Água do Brasil (IBGE e ANA), em 2017, para cada R$ 1,00 de valor adicionado bruto gerado pelas atividades econômicas no Brasil foram utilizados 6,3 litros de água. Se somarmos agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, a relação atinge 96 litros para cada R$ 1,00. O Atlas da Irrigação (ANA) mostra que temos 8,2 milhões de hectares irrigados; a participação da irrigação no valor da produção agrícola pode chegar a 100% em muitos municípios brasileiros e, em alguns deles, o valor total da produção agrícola é de centenas de milhões de reais. A produtividade de um cultivo irrigado supera em 2 a 3 vezes o cultivo sem irrigação. Há a possibilidade de aumento da área irrigada brasileira em 55,9 milhões de hectares e aí surge a questão, quanto deixaríamos de produzir sem irrigação, ou ainda, quanto deixaremos de produzir se não aumentarmos a área irrigada? A maior parte da água utilizada (e não consumida) na agricultura volta para a atmosfera pela evaporação e pela transpiração que ocorre nas plantas. Outra parte dela fica armazenada no solo e nas fontes hídricas. É o ciclo hidrológico. Mas uma “terceira parte” da água está presente na matéria-prima vegetal que processamos ou transformamos e nos alimentos que consumimos. Portanto, ao desperdiçarmos alimentos, também desperdiçamos água. A disponibilidade de água em uma região pode variar ao longo dos anos, podendo atingir a escassez, a qual pode ser física (não há água disponível), econômica (há água disponível, mas não há infraestrutura para o seu uso) e institucional (existem água e infraestrutura, mas a água não pode ser utilizada). No entanto, a reservação de água feita com critérios pode minimizar a possibilidade de ocorrer a escassez física. A FAO prevê um aumento de 47% na demanda mundial por alimentos até 2050. Assim, a irrigação no Brasil deve contribuir para aumentar a produção de alimentos, mas deve melhorar a sua eficácia (o que fazer) e sua eficiência (como fazer). E temos tecnologia para isso. Em determinadas situações, pode-se aplicar água em quantidade menor que uma cultura agrícola necessita. É a irrigação com deficit, que ao ser utilizada com critérios técnicos pode ser uma estratégia interessante, em condições de restrição ou escassez de água. A automação pode ajudar no manejo da irrigação (quando e quanto irrigar) e a ligar e desligar um sistema de irrigação (como irrigar). O sistema de informação geográfica, a agricultura de precisão, a agricultura digital, a tecnologia da informação e a conectividade também podem auxiliar a melhorar a gestão da irrigação em áreas agrícolas de diversos tamanhos. Mas devemos aumentar e melhorar a capacitação do setor agrícola, para que isso ocorra de forma mais intensa. Devem ser incentivados e aprimorados ainda o uso de águas residuárias e efluentes para suprir em algumas situações as necessidades hídricas das plantas, diminuindo a retirada de água de suas fontes, além da substituição da energia empregada na irrigação e proveniente de usinas hidroelétricas pela energia solar e energia eólica. Porém, qualquer solução e tecnologia devem complementar o conhecimento agronômico, que é a base para o uso eficaz e eficiente da irrigação. Até o plantio de cultivares mais tolerantes à seca pode contribuir para reduzir o volume de água utilizado na produção agrícola. A crise hídrica pode levar os agricultores a mudanças nas práticas de irrigação e, quando isso ocorrer, a sociedade precisa ser informada sobre tais atitudes. Dessa forma, a divulgação de informações em relação à agricultura irrigada poderá ser pautada a partir de dados e fatos e a percepção do copo d’água ocorrerá a partir de um olhar científico. Temos tecnologia e conhecimento para isso! Por: Luís Henrique Basso, pesquisador da Embrapa Instrumentação com curadoria Boi a Pasto.