
Tendências relacionadas às mudanças climáticas e iniciativas brasileiras para transformar esse cenário foram pauta de mesa-redonda no CNMA 2025
No segundo dia do CNMA, a mesa-redonda “Mudança Climática e Mulheres COP30 – Dos Fatos à Comunicação” reuniu especialistas para debater a relação entre a questão ambiental, a sociedade e o agronegócio brasileiro. O CEO de Descarbonização da MWN, Cristian Malevic, destacou o papel ainda essencial dos combustíveis fósseis na matriz energética global, especialmente no setor de transporte e maquinário pesado. Segundo ele, a transição energética é inevitável, mas deve ocorrer de forma gradual, com planejamento e viabilidade econômica, para evitar impactos sociais e produtivos.
“O diesel, pela importância que tem na movimentação de caminhões, máquinas e barcos, ainda será necessário por muito tempo. Mas a indústria precisa se preparar para uma transição gradual em direção a fontes como o etanol e essa mudança levará tempo, especialmente diante do crescimento populacional global. A opção energética precisa ser economicamente viável e não pode gerar desequilíbrio social”, sintetizou.
O vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para a América do Sul, João Irineu Medeiros, explicou que desde o início da era industrial, a queima de combustíveis fósseis vem intensificando a emissão de gases de efeito estufa, elevando a temperatura média do planeta e dos oceanos. Segundo Medeiros, se nada for feito até o final do século, o volume de emissões pode triplicar, levando a aumentos de até cinco graus na temperatura global, o que tornaria regiões próximas à linha do Equador, como partes da América do Sul e da África, praticamente inabitáveis.
“Os países que mais emitem (China, Estados Unidos e União Europeia) são os que mais aquecerão as regiões produtoras de alimento, tornando a produção mais cara e ameaçando nossa segurança alimentar. É importante termos ciência de que o que fizermos agora definirá o futuro das próximas duas gerações”, refletiu.
Expertise brasileira e a COP 30
Como moderador da mesa-redonda, o presidente da Rede ILPF, Francisco Matturro, ressaltou o potencial do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como uma das principais soluções sustentáveis para o sequestro de carbono e a manutenção da produtividade no campo.
“O sistema ILPF traz renda de curto, médio e longo prazo e já está presente em quase 18 milhões de hectares no Brasil, sequestrando carbono de forma efetiva. Em um país tropical, o solo descoberto pode atingir 50 °C, e uma semente que cai ali não germina, ela ‘cozinha’. Já em solo coberto, com 30 °C, ela germina e produz. A própria cobertura vegetal é um agente de sequestro de carbono. Quando combinamos braquiária, forrageiras e florestas plantadas de forma técnica, o resultado é um sistema equilibrado, capaz de neutralizar as emissões de metano e garantir produtividade sustentável. O ILPF é o que sustenta o Brasil e representa a mais recente evolução da nossa produção agrícola”, afirmou.
Citando outro exemplo de iniciativa no Brasil, o líder do projeto Prospera na Corteva Agriscience, Alexsandro Mastropaulo, apresentou os resultados e a evolução da iniciativa criada em 2016 com foco no desenvolvimento sustentável no campo. O programa, que conta com parceiros como a Massey Ferguson, a Abramilho e o Ministério da Agricultura, já treinou mais de 16 mil pessoas — sendo 31% mulheres — e atua em cinco estados do Nordeste.
Mastropaulo destacou que o protagonismo feminino tem sido decisivo para o fortalecimento do agronegócio regional, tanto na lavoura quanto no empreendedorismo rural, com impactos diretos na produtividade e na renda das famílias. “No Nordeste, por exemplo, a presença da mulher é fundamental pois ela não atua apenas na lavoura, mas como empreendedora rural, multiplicando o conhecimento nas comunidades. Temos exemplos de produtoras que praticamente dobraram a produção de silagem, passando de 22 para 38 toneladas, graças ao uso de tecnologias e boas práticas de manejo. A mulher rural pensa na família, no futuro e nos vizinhos, compartilhando saberes e fortalecendo o coletivo. Esse potencial é imenso e só tende a crescer”, pontuou.
E o potencial brasileiro para apresentar soluções reais e inovadoras ao público internacional na COP30 foi ressaltado pelo secretário da conferência global pelos Estados Amazônicos, Marcello Brito. Ele frisou o papel do agronegócio brasileiro no evento, destacando o potencial do país para apresentar soluções reais e inovadoras ao público internacional. Segundo ele, o Brasil tem exemplos concretos de sustentabilidade e inclusão no campo, especialmente no fortalecimento do cooperativismo como ferramenta para viabilizar práticas como o crédito de carbono entre pequenos produtores.
“O Brasil tem uma série de fatores maravilhosos no agro para apresentar durante a COP30. É muito mais do que mostrar o que já fazemos, é sobre projetar o futuro do nosso agronegócio. E se quisermos transformar a pequena produção e enxergar oportunidades onde há desafios, o caminho é o cooperativismo. Não dá para fazer crédito de carbono em uma propriedade isolada, mas é possível dentro de um sistema cooperativo”, finalizou.
Fonte: Attuale Comunicação
Curadoria: Marisa Rodrigues para o portal Boi a Pasto





