julho 27, 2024

Pesquisa aponta necessidade de plano para prevenção de doenças em caprinos leiteiros

Embrapa Caprinos e Ovinos Um estudo sobre a prevalência de doenças infecciosas em rebanhos de leiteiros caprinos na divisão entre os estados da Paraíba e Pernambuco (região que concentra cerca de 70% da produção de leite de cabra do País) aponta a necessidade de um plano de biossegurança na região, para prevenção, controle e monitoramento das enfermidades mais presentes, enfrentando os riscos de mortes, perdas produtivas e até mesmo problemas de saúde pública. A elaboração das bases do plano deve acontecer nos dois primeiros meses de 2023, em uma proposta participativa, reunindo produtores agrícolas, instituições públicas e privadas em sua construção. A proposta é integrar ações de assistência técnica, capacitação, rede de laboratórios para diagnóstico das doenças, melhoria dos serviços de vigilância epidemiológica, além de treinamentos sobre educação sanitária e boas práticas para produtores agrícolas. A pesquisa, coordenada pela Embrapa , investigou a prevalência de seis doenças (Agalaxia Contagiosa, Artrite Encefalite Caprina, Brucelose Ovina, Clamidiose, Paratuberculose e Toxoplasmose) em 51 propriedades rurais de 19 municípios diferentes da região, que compreende os territórios do Cariri Paraibano e Sertão de Pernambuco. No experimento, 937 foram identificados e coletadas amostras de sangue para exames sorológicos. Os resultados de soroprevalência observados que algumas doenças foram verificadas, como a Agalaxia Contagiosa, infecção que pode causar prejuízos na produção de leite. Ela se mostrou presente em 11% dos animais avaliados e em 51% das propriedades rurais. Toxoplasmose (18,5% dos animais) e Clamidiose (16,1%) apresentaram os maiores percentuais de prevalência ( ver tabela abaixo ). Para os membros da equipe que realizaram a pesquisa, os dados merecem atenção dos gestores públicos e do setor produtivo, pois as doenças trazem prejuízos diretos e indiretos aos rebanhos (como diminuição da produção, receita de custos com tratamento, necessidade de descartar animais), como também pode afetar a qualidade e, por consequência, a distribuição de produtos. “A região possui uma organização da produção em arranjos produtivos locais, com cooperativas e associações que, em conjunto, buscaram esforços de articulação para a transmissão do leite caprino. A implementação de um plano de biossegurança visa maior e melhor obtenção de produtos seguros e de qualidade”, explica Selmo Alves , pesquisador da área de Sanidade Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE). A proposta de um plano articular deve ser de produtores e instituições, públicas e privadas, envolvidos com o segmento caprinocultura leiteira, com o objetivo de mitigar a presença de microrganismos causadores das doenças no ambiente das propriedades rurais. “Ele será baseado em um conjunto de ações integradas, visando melhorar o manejo geral, sanitário e bem-estar dos rebanhos. Essa implantação deve ser baseada em capacitação, educação continuada e na iniciativa voluntária, com as devidas responsabilidades protegidas”, afirma Rizaldo Pinheiro , também pesquisador de Sanidade Animal da Embrapa. Os incentivadores reforçam que a conscientização e engajamento de técnicos e do setor produtivo na adoção de boas práticas é fundamental, pois os cuidados com manejo sanitário e nutricional podem reduzir bastante a incidência de doenças infecciosas nas propriedades (ver quadro abaixo sobre recomendação para prevenção de doenças ao fim deste texto ). Outro aspecto a ser considerado é a compra de animais provenientes de outros rebanhos, que, se não forem observadas as recomendações de manejo, pode levar aos rebanhos animais doentes que contaminem os demais. “É fundamental verificar se não existe rebanho de origem, ou existiram, casos de doenças, assim como observar a orientação técnica de informações sanitárias da propriedade e do rebanho, atendidas nas instituições oficiais – secretarias de agricultura estadual e municipal, bem como agências de defesa . Antes da chegada dos animais na propriedade, é importante proceder à limpeza e ao conteúdo das instalações e manter os animais adquiridos separados do rebanho existente por 60 dias (quarentena)”, frisa Selmo Alves. Perdas produtivas Resultados preliminares do estudo foram compartilhados com os proprietários das propriedades residentes e com gestores públicos dos municípios envolvidos, por meio de laudos, boletins técnicos e reuniões realizadas nos últimos meses de 2021. Uma das preocupações compartilhadas nesses encontros foi o impacto das doenças na produção do leite caprino da região da divisa, que possui um rebanho com cerca de 130 mil cabeças, e produção de nove milhões de litros por ano, aproximadamente. Os investigadores destacam que as manifestações dessas doenças podem resultar em problemas na produção e qualidade do leite, distúrbios reprodutivos, morte de animais, além de comprometimento do comércio do leite e seus derivados. “Algumas doenças como a Agalaxia Contagiosa e a Artrite Encefalite Caprina causam a mastite, o que ocasiona alteração físico-química e biológica do leite determinando o comprometimento da qualidade e causador do produto”, acrescenta Pinheiro. Esse compartilhamento de informações sobre prevalência de doenças nos rebanhos da região e a proposta de um plano de biossegurança foram contribuições importantes, na visão de agentes públicos e produtores rurais participantes dos encontros. Segundo Grazielle Sobrinho, produtora rural de Livramento (PB), as informações sobre as enfermidades desenvolvidas pela Embrapa a ajudaram exatamente em um momento em que ela ingressa na atividade da caprinocultura leiteira. “Nem sempre a gente tem como identificar as doenças, por falta de recursos e de técnicos mais experientes no assunto”, frisa ela. Geneci Lemos, produtor rural de Coxixola (PB), afirmou que, a partir das informações compartilhadas pela equipe da Embrapa, já foi possível implantar melhorias no manejo de seus animais e que um plano de controle das doenças atendidas para uma região séria “excelente” . “O conhecimento já me ajudou muito e quanto mais informação, apoio e pessoas nos orientando, melhor”, destaca o criador. Os gestores dos municípios da região classificam a proposta de criação de um plano de biossegurança para os caprinos leiteiros como uma iniciativa que, a partir do envolvimento de diferentes instituições públicas e privadas, pode trazer soluções mais efetivas para a sanidade animal nas propriedades rurais. “Esta articulação será bem-vinda. A Embrapa é uma empresa de pesquisa que apoia as instituições com ações para o diagnóstico e solução de problemas que, na maioria das vezes, o pequeno agricultor não dispõe de serviços e tecnologias”, ressalta Geandre Alves, secretário de Agricultura de São Domingos do Cariri (PB). O secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Livramento (PB), Gabriel Montenegro, foi outro gestor a participar das reuniões para apresentação