Por Marisa Rodrigues
Jornalista e publisher do portal Boi a Pasto

Quando o pasto perde a cor e a chuva se despede, entra em cena um dos maiores desafios da pecuária brasileira: manter o desempenho do rebanho durante o período seco do ano. É nesse momento que o efeito “boi-sanfona” costuma aparecer, com os animais emagrecendo boa parte do que ganharam durante as águas. A boa notícia é que esse ciclo pode ser quebrado. Com planejamento nutricional e suplementação estratégica, é possível manter o rebanho bem alimentado, saudável e produtivo mesmo nos meses mais críticos.
A seca começa a ser vencida nas águas
A principal lição que os especialistas reforçam é que a seca se enfrenta com antecedência. Durante a estação chuvosa, o produtor precisa começar a pensar no que seus animais vão comer na seca. A vedação de pastagens (diferimento), a produção de silagem ou feno e a compra antecipada de suplementos são práticas fundamentais para garantir alimento volumoso e de qualidade quando o capim deixar de crescer.
O que muda nas pastagens durante a seca?
Durante o período seco, o pasto sofre alterações físicas e químicas. Há queda drástica na proteína bruta (até 50%), redução de energia (15 a 20%) e minerais (até 80%). Além disso, aumenta a lignificação das plantas, o que reduz a digestibilidade. Com menos nutrientes e maior dificuldade de digestão, os animais consomem menos matéria seca — em alguns casos, menos de 2% do peso vivo —, o que compromete até mesmo a manutenção corporal.
O papel da suplementação: mais que um reforço, uma necessidade
Para contornar essas limitações, a suplementação passa de recomendação a necessidade estratégica. Especialistas alertam: o nutriente mais limitante na seca é o nitrogênio, ou seja, a proteína. E quando a proteína da forragem cai abaixo de 7%, a microbiota ruminal não consegue funcionar de forma eficiente. Resultado: o animal come menos, engorda menos — ou perde peso.
Por isso, entram em cena os suplementos proteicos, energéticos e minerais, cada qual com função específica:
- Proteinados de seca: fornecem proteína verdadeira (farelos) e ureia (nitrogênio não proteico), além de minerais. Indicados para manter ou promover ganhos moderados de peso.
- Sal mineral com ureia: opção de baixo custo voltada à manutenção de peso, ideal quando há forragem em quantidade, ainda que de baixa qualidade. Requer adaptação criteriosa dos animais.
- Misturas múltiplas: oferecem bom custo-benefício e ganhos de 200 a 400g/cabeça/dia, com consumo de 1 a 2 g/kg de peso vivo.
- Semiconfinamento: intensificação do manejo com fornecimento de ração concentrada a pasto, para animais em terminação. Exige pastagem diferida de boa qualidade.
Diferentes categorias, diferentes exigências
O planejamento nutricional também deve considerar a fase de vida e a função produtiva dos animais. Vacas gestantes mal suplementadas na seca não conseguirão transferir nutrientes suficientes ao bezerro. Cria, recria e engorda exigem níveis específicos de proteína, energia e minerais. Quando bem manejado, o rebanho responde com saúde, ganho de peso, produção de leite e fertilidade.
Assistência técnica é investimento, não custo
Ainda há resistência por parte de alguns produtores em investir em suplementos e assistência técnica. No entanto, quem planeja e investe colhe os melhores resultados. A suplementação adequada evita perdas de peso, reduz o tempo de abate e melhora o giro de capital da propriedade. Além disso, os suplementos são “o que falta no pasto”, e funcionam como alicerce para a produtividade da fazenda.
Em resumo
- Antecipe-se: planeje durante as águas para enfrentar a seca.
- Diferencie as categorias: cada fase da vida animal exige um manejo nutricional.
- Suplementação é estratégica: corrige a deficiência de proteína, energia e minerais do pasto seco.
- Busque orientação técnica: nutricionistas e veterinários podem transformar o potencial da sua fazenda.
Fonte: Redação do Portal Boi a Pasto com suporte de Taxi Blue Agência de Comunicação Estratégica
Curadoria: Marisa Rodrigues para o portal Boi a PASTO