novembro 9, 2024

O agro é uma chave para o futuro

Por Xico Graziano, engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) Está aumentando a importância da agropecuária na economia brasileira. O fato contraria a teoria clássica. Pois em vez de significar uma volta ao passado, o Brasil encontrou no agro um caminho para o futuro. Dois indicadores macroeconômicos comprovam a valorização recente do agro nacional: o desempenho das exportações e o crescimento do PIB setorial. As exportações oriundas do agronegócio somaram US$ 31,4 bilhões no 1º quadrimestre de 2020, acréscimo de 5,9% sobre igual período de 2019. Considerando-se a média dos quatro primeiros meses, as exportações do agro representam 46,6% da exportação total do país. Em maio, somente, essa fatia de participação alcançou 55,8%. Incrível. Por sua vez, as importações do setor de agronegócio caíram 4,5% no quadrimestre, somando US$ 4,57 bilhões. Resultado: o agronegócio gerou superávit na balança comercial de US$ 26,83 bilhões nos primeiros quatro meses de 2020. A receita do agro paga as compras externas do país. Quanto à geração de valor, os estudos do Cepea-USP mostram que, no ano de 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio subiu 3,81%. No mesmo período, anual, segundo o IBGE, o PIB brasileiro total cresceu apenas 1,1%. O agronegócio empurrou a economia nacional. Nesse 1º trimestre de 2020, o PIB do agronegócio continuou crescendo, chegando a 3,29%, comparado com o mesmo período de 2019 (Cepea-USP). Já o PIB nacional caiu 0,3% (IBGE). Esses dados indicam que está crescendo a participação do agronegócio no PIB total do Brasil. Em 2019, o PIB do agronegócio sobre o PIB brasileiro cravou 21,4%. Esta é a fatia da riqueza brasileira gerada a partir da produção rural. Mas, atenção: falar em “agronegócio” significa considerar todo o complexo, ou seja, a soma das cadeias produtivas situadas antes, dentro e depois da porteira das fazendas. E não a produção rural per si. É fundamental entender esse ponto. A importância da agropecuária não se mede mais, como no passado, apenas pela atividade econômica existente dentro das propriedades rurais. O conceito de agronegócio é mais abrangente. Mais moderno e correto. Na metodologia do Cepea-USP, o agronegócio está composto por quatro segmentos produtivos relacionados entre si, cujas participações são (2019): Insumos (rações, fertilizantes, máquinas, defensivos, medicamentos), com peso de 6%; Primário (lavouras e pecuária), com peso de 22%; Indústria (frigoríficos, lacticínios, usinas de açúcar, celulose, torrefação de café, etc), com peso de 30%; e Agrosserviços (assistência técnica, transporte de cargas, varejos, restaurantes, finanças, propaganda, exportação, etc), com peso de 42%. Resumindo, para fixar o conceito: a produção rural, propriamente dita, representa apenas 22% do valor agregado do agronegócio. O processamento industrial e os setores de serviços, relacionados ao agro, preponderam, com 72% do agronegócio. Percebam que exclusivamente o setor primário rural, aquele praticado dentro das fazendas, tem baixa participação no PIB nacional, ao redor de 4,7% (basta multiplicar 0,22 por 21,4%). Quando, todavia, considera-se a somatória de atividades que dependem da produção rural, ou são por estas movimentadas, fica claro que a agropecuária tecnológica dinamiza e multiplica a renda de vários setores econômicos. Gera renda e empregos espalhados pelo país. Esse raciocínio, fundamentado nas variáveis macroeconômicas, vislumbra que o agronegócio poderá se tornar o maior negócio do Brasil. Fará parte do modelo de desenvolvimento. Participará do núcleo da política econômica. Acreditem. Descubram. O agro é uma chave para o futuro.

Adubação de precisão potencializa desempenho dos fertilizantes minerais

Resultados a campo comprovam que uso do sulfato de cálcio granulado reduz o alumínio tóxico, sendo uma excelente fonte de nutrientes para o solo. Quem conhece a importância que o solo tem para a agricultura vai concordar que uma boa produção é reflexo, entre outras coisas, de um solo equilibrado e com os nutrientes necessários. Os elementos disponíveis no solo são essenciais para qualquer cultivo, seja de inverno ou verão. Porém, alguns estudos apontam que existe uma carência significativa de cálcio e enxofre nos solos das lavouras do Rio Grande do Sul, sendo que esses nutrientes são essenciais para equilibrar o solo. O engenheiro agrônomo e especialista em solo, Eduardo Silva e Silva, destaca que é importante que o produtor faça uma análise de solo antes de aplicar insumos como o enxofre. “Aplicando-se na dose errada, pode não dar resultado algum ou pode resultar em desequilíbrio e, aplicando-se na dosagem correta, com base no diagnóstico de terra, os resultados, principalmente sobre os parâmetros ‘produtividade’ são bastante evidentes. É comum que o produtor visualize os benefícios desse nutriente na planta já no momento do arranque, pelo vigor, pela coloração, pelo porte maior da planta, se comparada às outras”, explica o engenheiro. No que se refere à construção de fertilidade do solo, torna-se latente a necessidade de olharmos o solo como um sistema e, sendo assim, condicioná-lo já no inverno, elevando os níveis de cálcio, de enxofre e neutralizando o alumínio tóxico, o que fornecerá à cultura subsequente (de verão) um ambiente mais favorável à manifestação do potencial produtivo do material genético. E, sem dúvida alguma, o sulfato de cálcio é uma rápida, acessível e inteligente fonte, principalmente se estiver na forma granulada”, destaca o agrônomo, que também é diretor técnico da SulGesso, empresa catarinense referência em fertilizantes minerais à base de cálcio e enxofre. No noroeste do Rio Grande do Sul, em Vista Alegre, a lavoura do engenheiro agrônomo e agricultor Darci Francisco Schaefer vem demonstrando, na prática, os resultados positivos a cada ano. O produtor conta que no cultivo de nabo vem utilizando o chamado gesso agrícola desde 2010 e, em 2014, começou utilizar o produto na forma granulada, chamado SulfaCal, em adubação de precisão. “Atuo com lavouras desde 2005, quando adquiri a primeira área para cultivar, em Vista Alegre, e em 2010 comecei usar o gesso agrícola e depois o sulfato de cálcio granulado, junto com a adubação de precisão. Essas aplicações de cálcio e enxofre foram fundamentais para o enraizamento melhor da planta, e consequentemente mais resistência ao estresse hídrico”, conta Darci. Mesmo em 2019, quando a região foi afetada por uma severa estiagem, as áreas com aplicação de cálcio e enxofre obtiveram a maior produção. A partir da ajuda do cálcio e do enxofre, o solo fica descompactado e permeável, permitindo que as raízes atinjam água e nutrientes encontrados no solo e responsáveis pelo desenvolvimento da planta. O agricultor conta que nas áreas onde aplica o sulfato de cálcio granulado há mais tempo, a produtividade é melhor, pois foi possível reduzir o alumínio tóxico. “Hoje já temos duas áreas com zero de alumínio tóxico, e isso não foi de um ano para outro, foi um trabalho que viemos fazendo ao longo dos últimos anos”, explica o produtor Darci Schaefer.

Produtores brasileiros utilizam agricultura de precisão

O atual cenário na agricultura brasileira é promissor para quem trabalhada com agricultura de precisão (AP) Segundo dados da pesquisa “A mente do agricultor brasileiro na era digital”, divulgada pela McKinsey & Company, pelo menos 47% dos produtores usaram uma tecnologia de AP e 33%, utilizaram duas delas ou mais na última safra das principais culturas comerciais no Brasil. A pesquisa ouviu mais de 750 agricultores de diferentes culturas e regiões do Brasil, abordando temas como comportamento digital, soluções de financiamento, processo de aquisição de insumos, influenciadores e nível de adoção tecnológica. Como obstáculo para a adoção os produtores apontam que a fluência tecnológica, principalmente em relação maquinários, como o maior impeditivo.  “Apesar de adquirirem as ferramentas, os agricultores muitas vezes não conseguem utilizar todo o potencial devido à falta de conhecimento. Essa afirmativa gera um alerta e uma oportunidade para nossa comunidade, a aquisição das tecnologias não é mais um obstáculo, cabe a nós, profissionais, consultores, professores, pesquisadores e estudantes, orientar para um melhor entendimento dos benefícios por elas gerados, o mercado precisa cada vez mais de pessoas aptas a trabalhar com esse tipo de ferramenta”, comenta do presidente da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP), Marcos Ferraz. Ainda segundo os dados da pesquisa, os pioneiros na adoção da agricultura de precisão no Brasil são produtores de cultivo de larga escala e/ou agricultores mais jovens. “Isso mostra a influência da nova geração, que está mais disposta a implementar esse tipo de tecnologia e também a influência do tamanho de área, que possibilita compra de equipamentos e maquinários maiores e mais modernos. No entanto, vale ressaltar que agricultura de precisão não depende necessariamente desse tipo de maquinário, mas uma vez que o investimento já foi feito, essas propriedades têm mais urgência por contratar serviços e profissionais que possibilitem um melhor uso das tecnologias adquiridas”, orienta Ferraz. De acordo com os agricultores ouvidos pela pesquisa, a VRA (taxa de aplicação variável) e  os drones são as tecnologias mais adotadas, enquanto há disposição para a utilização de sensoriamento remoto, telemetria e IoT (internet das coisas), sendo que 53% dos entrevistados utilizam pelo menos uma tecnologia ou estão dispostos a adotar pelo menos uma nas próximas duas safras. “Isso mostra que a perspectiva é boa, quebramos a barreira da desconfiança e do custo de aquisição das tecnologias, mas ainda faltam bons profissionais para utilizá-las. Obviamente esses profissionais se concentram onde a demanda é maior nos grandes agrupamentos agrícolas, mas com o tempo e, principalmente, com a democratização do conhecimento, essas técnicas chegarão ao pequeno e médio produtor. Temos um mercado com bastante interesse (alta demanda) e pouca oferta, é um prato cheio para todos que atuam na área”, destaca o presidente.

Opor alimentos orgânicos aos convencionais é invenção ideológica, diz Xico Graziano

Métodos distintos não se eliminam. Ambos convivem em harmonia – Por Xico Graziano O Ministério da Agricultura lançou no dia 8.jun.2020 uma Campanha de Promoção do Produto Orgânico. Muito legal. Mostra que inexiste oposição entre os alimentos “convencionais” e os “orgânicos”. Ambos convivem em uma agricultura de qualidade. Parte inferior do formulário Opor os “orgânicos” aos “convencionais” é uma invenção ideológica, típica do raciocínio binário, polarizado, que afeta a sociedade brasileira. Trata-se, simplesmente, de formas distintas de produção rural. Uma não elimina a outra. A agricultura orgânica tem origem com o britânico Sir Albert Howard, cujos experimentos iniciais, há um século, foram desenvolvidos na Índia. Existem várias correntes de agricultura alternativa à convencional, destacando-se a biodinâmica, baseada na filosofia antroposófica. Todas elas representaram uma reação à tendência de “quimificação” no agro. Naturalismo, tradicionalismo, religiosidade e, em doses variadas, anticapitalismo, uniram-se para alicerçar esse modo de produção alternativo no campo. Recentemente, menos que filosofia, é o temor dos resíduos de pesticidas (agrotóxicos) que empurra consumidores de elite para o mercado dos orgânicos. Um marketing poderoso tenta convencer que os produtos orgânicos são “melhores” que os convencionais. O conhecimento técnico, todavia, não comprova isso. Alan Dangour, avaliando 52.741 artigos científicos, afirmou não ser possível concluir que havia diferença nutricional entre alimentos produzidos por sistemas orgânicos ou convencionais. Seu trabalho, publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, é similar à pesquisa conduzida por Crystal Smith-Spangler, da Universidade de Stanford, publicada na revista Annals of Internal Medicine. É, igualmente, um mito supor que os pesticidas naturais –como a piretrina, a nicotina e o óleo de Nim– utilizados na agricultura orgânica, sejam inofensivos para o homem e outros animais. Todos eles apresentam toxicidade à saúde e afetam o meio ambiente. Seu malefício, ou o risco, como em qualquer substância, depende da dose e da exposição. Na abertura da campanha, a ministra Tereza Cristina deixou claro o compromisso em garantir a sustentabilidade da agropecuária e a segurança dos alimentos, sejam orgânicos sejam convencionais. Sem distinção. A tendência de consumo dos orgânicos é francamente ascendente, em todo o mundo. Além de tradicionais produtores, grandes investidores têm apostado nesse nicho, altamente rentável. Por isso, a atividade se tornou uma boa alternativa para pequenos agricultores no Brasil. Tecnificados, inseridos nas cadeias produtivas, o agronegócio orgânico progride bacana no campo. Existem cerca de 21.800 registros no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, gerenciado pelo Ministério da Agricultura. A maioria vende em “feirinhas” locais. Aqueles, porém, devidamente certificados, por auditoria ou de forma cooperativa, garantem presença crescente nos supermercados. Enfrentam a competição das gôndolas. Orgânico ou convencional, importa ter qualidade. Com sustentabilidade na produção. Lucro na certa.

Por que o produtor deve fazer planejamento nutricional, por Julliano Pompei

Julliano Pompei, Coordenador Técnico do Departamento de Nutrição Animal da Matsuda, fala de estratégias no campo que podem ajudar o produtor. Julliano Pompei é produtor Rural, médico veterinário formado pela Universidade do Oeste Paulista e Mestre em Ciência Animal, pela Universidade Estadual de Londrina (PR). Atualmente é Coordenador Técnico do Departamento de Nutrição Animal da Matsuda. A atividade pecuária exige uma atenção constante do produtor durante todo o ano, pois ela não se desenvolve de um modo nativo. Produzir bois, para o abate ou leite, exige conhecimento e muito manejo do rebanho e, com a aproximação da seca, essa atenção tem que ser redobrada. É fato que a mudança do clima não acontece em todas as regiões do País, ao mesmo tempo. No Sudeste, costuma ser em meados de maio, e vai até final de agosto, ou início de setembro. Já na região Sul, não chove desde final de dezembro de 2019, enquanto no Nordeste está chovendo, ainda, e assim por diante. Por isso, as dificuldades dos produtores, quando decidem elaborar um Planejamento Nutricional, não são poucas. O período de seca é uma transição bem conhecida pelos pecuaristas do Brasil, o que não quer dizer que seja simples enfrentá-la, principalmente se o produtor não lançar mão das ferramentas adequadas. O importante é lembrar que nesse período as pastagens reduzem, acentuadamente, o seu crescimento, proporcionando um menor volume de pasto aos animais. Entretanto, além dessa sazonalidade na produção, o que vem, de fato, limitar o bom desempenho dos animais criados em pastos no período de seca é a própria concentração dos nutrientes. O comum e esperado em pastagens tropicais que, com a entrada do período seco, ocorra uma queda gradativa nas concentrações de alguns nutrientes, vitais para os ruminantes, como Proteína Bruta (PB) que pode apresentar uma redução de até 50%; os Macro e Micro minerais com queda em até 80%, e também da Energia, em menor proporção, porém não menos importante de até 20%. Se não bastasse esta perda dos valores nutricionais, como forma de “proteção” ocorre um aumento da fração fibrosa, deixando esses materiais com uma menor digestibilidade, aumentando, assim o tempo de passagem do alimento pelo trato digestório dos animais, onde se tem, como consequência, uma redução da ingestão do alimento. Não há o que ser feito para evitar essas alterações em nossos capins, uma vez que são fatores fisiológicos das plantas em países tropicais como o Brasil. Porém, é possível e desejável garantir um bom volume de pasto para os animais neste período, uma vez que a correção dos valores nutricionais, em si, é algo mais fácil de se obter. Para garantir uma boa oferta de pasto, sabendo que o capim passará a reduzir o seu crescimento e até mesmo não crescer durante o período, o pecuarista deve reduzir a taxa de lotação de seus pastos, ainda no final do período chuvoso e, se possível, ainda realizar uma adubação de cobertura, aproveitando as últimas chuvas para obter um maior volume de capim, ou mesmo “bucha, massega”, como é chamado pelos produtores. O importante é que as pastagens tenham uma boa relação de folha/talo. Isso quer dizer ter folha, muita folha de capim reservadas para o período seco pois, sem dúvida esse será o alimento mais barato desse período. Planejar é preciso Sabemos que no Brasil apenas 50% dos produtores se preparam para a chegada da seca, daí a importância das empresas fabricantes de suplementos minerais se dedicarem não somente ao aprimoramento da qualidade do produto, mas também à prestação de serviços, pré e pós-vendas, orientando os pecuaristas antes de adquirí-los, bem como depois, para fornecê-los corretamente aos seus rebanhos.  Mas como elaborar esse Planejamento? Antes de mais nada, o pecuarista precisa ter os números da propriedade nas mãos. Não é difícil elaborá-los, desde que ele saiba onde está, o que tem para fazer e para onde precisa ir. A Nutrição Animal segue os mesmos princípios há décadas e o que se deve  fazer é respeitar a fisiologia dos animais, fornecendo-lhes o que sua genética exige, o que nem mesmo as melhores forragens conseguem. Lembrando que os produtores precisam ficar atentos  às adversidades climáticas pois, no Brasil, existem “diversos continentes” com climas variados, o que  afeta diretamente a qualidade do que os animais irão ingerir. Essas dificuldades podem ser transpostas com uma boa Suplementação, seja apenas Mineral, ou Mineral Proteica, e/ou Mineral Proteica Energética ao longo do ano. Em todas as divisões animais, seja no corte ou no leite, têm-se como objetivo o ajuste fino da nutrição.  Durante o período de seca não poderia ser diferente, afim de se evitar o chamado boi sanfona que reduz os lucros da pecuária. Lembrando, por fim, que na época da seca a deficiência mineral nas pastagens se acentua, mas o grande fator nutricional limitante é o nitrogênio, quando a atividade da microbiota ruminal cai sensivelmente, pois não há o mínimo necessário de nutrientes para estimular o crescimento dos microrganismos ruminais. É a suplementação correta  que fornece proteína, energia e os minerais fundamentais para favorecer a multiplicação da microbiota ruminal.

Onde tem cooperativa bem liderada, cresce a renda e a distribuição da renda

Por José Luiz Tejon Megido, mestre em Educação Arte e História da Cultura pelo Mackenzie, doutor em Educação pela UDE/Uruguai e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) Precisamos falar do crescimento do país, e em paralelo da luta contra a desigualdade. O agronegócio brasileiro como um todo tem, sim, condições de dobrar de tamanho. Podemos e devemos ter um objetivo de buscar US$ 1 trilhão em 5 anos, com acesso a todos os mercados do mundo, não apenas com os grãos, o açúcar, as carnes, o papel e celulose, a citricultura, o café. Também com esses. Mas com fruticultura, trigo, arroz, feijão, leite, piscicultura, biocombustíveis, e a agroindústria brasileira dobrando de tamanho e construindo marcas e valor.  Qualquer plano estratégico e de negócios de “a” a “z” nas cadeias produtivas do agro revelam essa possibilidade facilmente. Mas podemos criar riquezas e não distribuir. O país pode crescer, mas os mais pobres perderem renda: 6,5% dos brasileiros vivem na linha de extrema pobreza do Banco Mundial.  As iniciativas como Bolsa Família e outros projetos assistencialistas atenuam dramas de curto prazo, mas não resolvem nada a longo prazo. E ainda correm o risco de serem utilizadas como instrumentos de propaganda política. A fórmula e o modelo de negócios para criarmos riquezas e melhorar a dignidade está na cara dos brasileiros.  No agronegócio basta comparar onde tem cooperativismo com lugares onde não existem cooperativas. Podemos ver crescimento do PIB em ambas, porém iremos ver níveis de desigualdades diferentes em ambas. Onde tem cooperativa bem liderada, cresce a renda e a distribuição da renda.  No agronegócio quando olhamos para 4 milhões de produtores rurais do país, micros e pequenos, sem acesso à assistência técnica, a única forma de dar dignidade a 80% do total dos agricultores do Brasil, chama-se cooperativismo.  E quando olhamos para as cooperativas de crédito, de táxis, de catadores de lixo, do trabalho, de saúde, de consumo, de energia, assistimos ali formulando o futuro, de um futuro que já existe aqui e agora.  O desafio do país será dobrar de tamanho o seu PIB, e o desafio da sociedade será o de diminuir a desigualdade e distribuir riqueza. Olhem para o oeste do Paraná, só para ficarmos num exemplo, e investiguem por que ali tem riqueza, progresso e níveis elevados de dignidade humana para todos. Sobre o CCAS O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel.

Por que é importante fazer suplementação nas águas, por José Leonardo Ribeiro

O zootecnista fala sobre a importância da suplementação dos bovinos no período das águas para o animal não perder o desempenho produtivo e reprodutivo O sistema de criação de bovinos baseado na exploração de forragem é preponderante no Brasil. Por este motivo, pecuaristas que não compreendem a relação e a interação (solo – planta –animal), dificilmente utilizarão os recursos disponíveis de maneira eficiente. Bovinos manejados em regime de pasto têm como principal fonte de alimento a forragem, que possui oferta e valor nutricional (qualidade) variável ao longo do ano. A estação da seca (outono e inverno) é marcada pela menor oferta de forragem – consequência da quantidade reduzida de água, baixa temperatura e menor fotoperíodo. Em adição, o valor nutricional desta forragem normalmente é inferior (menores teores de proteína, energia e minerais), pois quase sempre é oferecida aos animais com idade de crescimento mais avançada. Para evitar a perda de bovinos manejados em regime de pasto, neste período, pecuaristas investem em tecnologia de suplementação a pasto e substituem minerais linha branca pelos proteicos, proteico-energéticos ou rações de semiconfinamento. Estes suplementos disponibilizam além dos macros e microminerais, carboidratos não estruturais, proteína e aditivos melhoradores de desempenho. Como resultado, o ambiente ruminal é enriquecido com nitrogênio e nutrientes digestíveis totais fermentescíveis. Os microrganismos se tornam mais eficientes ao degradar fibra, os animais aumentam a ingestão de alimento e ganham mais peso. A suplementação com fontes proteicas na estação da seca é mais disseminada e compreendida no campo, quando comparada ao mesmo procedimento adotado no período das águas. Na estação chuvosa a forragem se apresenta verde e abundante, o que reduz consideravelmente o uso de suplementos proteicos, proteico-energéticos e rações. Na estação das águas, o fornecimento de 80 g de suplemento mineral contendo macro (cálcio, fósforo, magnésio, enxofre e sódio) e microminerais (manganês, zinco, cobre, iodo, cobalto, selênio e ferro) propiciará aproximadamente 400 a 500 g de peso vivo (PV)/ animal / dia, caso não haja restrição de qualidade e oferta de alimento volumoso. Este é o principal motivo pela menor suplementação proteica nas águas, porém a eficiência alimentar e desempenho dos animais poderiam ser bem superiores. É importante ressaltar que a adoção de suplementos que forneçam somente minerais no verão não é uma prática incorreta, pelo contrário, o não fornecimento destes minerais resultaria em perdas produtivas e reprodutivas. No entanto, a suplementação com fontes adicionais de proteína e carboidratos de rápida degradação ruminal resultam em: Maior desempenho em pastagens manejadas intensivamente – estas áreas são normalmente muito adubadas e apresentam elevados teores de nitrogênio. É necessário fornecer carboidratos visando à sincronização com a porção solúvel e de rápida degradação ruminal da proteína disponível na forragem. Maior desempenho em pastagens manejadas de maneira mais leniente (baixa taxa de desfolha, onde há maior presença de material senescente). Neste caso, é necessário o aporte de proteína verdadeira (aminoácidos), o que resultará em maior consumo e digestibilidade do alimento.O incremento de desempenho é necessário, visto que a constante valorização da terra, maior preço da reposição e o incremento dos custos de produção obrigam a atividade pecuária a se tornar cada vez mais eficiente. Apenas o aumento do teor de proteína bruta e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) do capim, no período das águas, não é suficiente para um ganho de peso adicional dos animais. A suplementação resultará em maior investimento, porém a compensação virá com o aumento de peso (mérito individual) e da produtividade (@/hectare/ano). O período de engorda de um animal suplementado com proteinado, em comparação ao ruminante que recebe apenas mineral linha branca, é inferior. Este sistema acarreta no ganho indireto de poder retirar o animal mais cedo do pasto, disponibilizando o espaço para outro bovino, que iniciará o processo de recria ou engorda. É fundamental que o produtor de proteína de origem animal avalie não somente o quanto investirá na alimentação complementar, mas o retorno do capital investido quando a suplementação é realizada de maneira correta.

Entenda como o marketing pode impulsionar o agronegócio brasileiro

O Brasil sabe o que é marketing e consegue identificar o que não presta neste meio, como a famosa figura do marqueteiro político. José Luiz Tejon Megido* No entanto, nosso país desconhece a real importância do marketing como fundamento da administração para mudar a percepção existente do agronegócio brasileiro no mundo. Temos gente bem-intencionada, como o próprio Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, que criou uma estratégia de internacionalização, mas ainda nos falta um verdadeiro gestor do marketing ético, competente e que altere as percepções predominantes sobre o Brasil no exterior. Temos atividades de vendas e promoção em diversos países e feiras, mas praticamente todas pertencendo em uma relação business to business. Falamos com tradings e importadores, mas não chegamos aos varejos, aos consumidores e nem na opinião pública dominante dos nossos países clientes. Nossos saltos em conhecimento de produção dentro do cinturão tropical do planeta significam para o mundo uma segurança alimentar fundamental num breve futuro. Nossos saltos, com 66% do território do país com matas nativas preservadas, é recorde mundial, e ninguém sabe. Nosso cooperativismo que envolve cerca de um milhão de produtores familiares em ótimo nível, também é desconhecido pelo resto do planeta. Ninguém associa nosso domínio em frangos no mundo a esse êxito de integrações, por exemplo. Temos também orgânicos, biodinâmicos e hidropônicos excelentes assim como os europeus, e ninguém sabe. O que fazer? Precisamos de uma gestão competente feita por quem domina e sabe o que o marketing significa. No caso do agro, a realidade já é muito maior do que aquilo percebido. Nada do que existe no mundo foi pedido pelos consumidores, tudo foi imaginado, criado, materializado e vendido por grandes inteligências de marketing. O agronegócio do Brasil é grande, mas a percepção mundial dele é muito menor do que a realidade que já temos. O Brasil será o tamanho que o nosso talento de marketing impactar. * José Luiz Tejon Megido é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM. Fonte: CCAS / Alfapress

Os agricultores que alimentarão o mundo

Crescimento econômico e dinâmica populacional serão importantes motores de transformação da sociedade nas próximas décadas. Maurício Antônio Lopes* A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial deverá atingir cerca de 9,8 bilhões até 2050, crescimento que será acompanhado por evolução da renda e da demanda por alimentos. Em função das mudanças demográficas, teremos uma população mais urbana, mais idosa, mais rica e mais exigente, demandando mais frutas, legumes, proteína animal, além de alimentos mais elaborados e sofisticados. Essa realidade pressionará os setores agroalimentar e agroindustrial e poderá elevar os riscos relacionados à poluição, esgotamento do solo, da água e da biodiversidade, além de intensificar estresses devido às mudanças climáticas globais. Outra preocupação crescente refere-se ao tipo de unidades produtivas e de agricultores que serão necessários para garantia da segurança alimentar e nutricional das populações no futuro. Afinal, sem agricultores e sem fazendas não há sistema alimentar. Assim, uma ação central em qualquer estratégia de desenvolvimento é a busca de condições que viabilizem econômica, social e ambientalmente a produção de alimentos, proporcionando renda e condições de vida dignas aos agricultores, aos trabalhadores do campo e suas famílias, além de proteção aos recursos naturais. Esta discussão ocorre em meio a um grande debate, energizado por certo viés ideológico, que antagoniza pequenos produtores e a agricultura de maior escala na discussão dos modelos de produção de alimentos mais adequados para o futuro. Para melhor contextualizar esta discussão, é preciso examinar os números levantados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 2016, sobre os agricultores no mundo. O estudo cobriu 167 países, que representam 96% da população mundial, 97% da população ativa na agricultura e 90% das terras agrícolas, mostrando existirem cerca de 570 milhões de propriedades rurais em todo o globo.  A Ásia concentra 74% delas, sendo que a China responde por 35% e a Índia, por 24%. Nove por cento são encontrados na África Subsaariana, e 7% na Europa e Ásia Central. Fazendas na América Latina e Caribe representam 4% e apenas 3% estão localizadas no Oriente Médio e no norte da África. Treze por cento das fazendas estão em países de baixa renda e 4% nos países mais ricos, ficando os países em desenvolvimento de renda mediana com 83% de todas as propriedades rurais do globo. A FAO estudou também uma amostra de 111 países e territórios com um total de cerca de 460 milhões de propriedades rurais e concluiu que 72% delas têm menos de um hectare, 12% têm entre 1 e 2 hectares, 10%, entre 2 e 5 hectares. Apenas 6% das fazendas do mundo são maiores que 5 hectares. Com o crescimento populacional, a tendência é de fragmentação ainda maior das unidades produtivas nos países mais pobres. Durante a última década, na África, o tamanho médio das propriedades foi reduzido de 2,4 para 2,1 hectares, e de 2,2 para 1,1 hectares na Índia, entre 1970 e 2011. Reduções no tamanho das propriedades impedem os agricultores de viver de maneira digna, ampliando a migração para as cidades. Some-se a isso o fato de que cresce em todo o mundo o número de agricultores ativos com mais de 60 anos de idade, grande parte sem perspectivas de sucessão, já que os filhos buscam outras profissões. Estudos da FAO também revelam que o progresso e o crescimento da renda provocam a redução no número de agricultores e o aumento no tamanho das propriedades. As maiores, com uma superfície superior a 5 hectares, cobrem 27% das terras em países de baixa renda, 43% nos países de renda média baixa, 96% nos países de renda média alta, e 97% em países de alta renda. Países desenvolvidos, grandes produtores e exportadores de alimentos, como Estados Unidos e Holanda, por exemplo, têm menos de 1% da força de trabalho no campo. Ainda assim, cerca de 14% da economia holandesa e 5.5% da gigantesca economia americana resultam da produção agrícola. Portanto, a dura realidade que se apresenta no horizonte de 2050 não poderá ser enfrentada a partir de um estéril embate entre pequenos e grandes produtores. Ambos são essenciais, uma vez que dobrar a produção de alimentos em prazo tão curto exigirá a modelagem de uma agricultura cada vez mais diversificada e especializada. O mundo precisará investir na intensificação do uso das terras já destinadas à produção, além de expansão prudente de área, com rigoroso balizamento na sustentabilidade. A agricultura comercial de maior escala seguirá se ampliando com o avanço do progresso econômico, especialmente para prover produtos de grande demanda como soja, milho, carnes, açúcar, fibras, dentre outros. Os pequenos produtores continuarão sendo uma maioria muito importante para o futuro da segurança alimentar, mas sua viabilidade dependerá de apoio e políticas públicas relacionadas à propriedade da terra e à sucessão, ao acesso a conhecimento, tecnologia e financiamento, além de mercados amigáveis à lógica da inclusão produtiva.  A produção se tornará mais diversa e especializada para ganhar a preferência de consumidores cada vez mais exigentes. Hortaliças, frutas, cafés e produtos especiais ligados à moderna gastronomia já sustentam modelos mais sofisticados e rentáveis de pequena produção em muitos países, e certamente se expandirão no futuro. O Brasil, neste momento, realiza um novo Censo Agropecuário para levantamento de informações sobre o seu setor agropecuário. Este retrato atual do mundo rural brasileiro, a ser aprontado em 2018, nos permitirá traçar um perfil detalhado da produção e dos nossos agricultores, base para projetarmos o futuro que queremos para as múltiplas agriculturas que povoam nosso imenso e diverso país. *Maurício Antônio Lopes é Presidente da EmbrapaArtigo publicado na edição do dia 14 de janeiro de 2018 do jornal Correio Braziliense.Fonte: Embrapa

Exportar, importar, crescer

Muitos críticos da globalização se opõem ao fato de os países darem tanta importância às exportações e às necessidades de consumidores estrangeiros, em vez de se concentrarem prioritariamente em atender às necessidades da sua população. Maurício Antônio Lopes* Mas o normal é que, numa economia de mercado, os países recorram cada vez mais à especialização e à exportação. Buscam, assim, aprimorar sua capacidade de produção em um conjunto limitado de atividades, para as quais tenham vantagens comparativas ou competitivas. Ao aumentarem sua capacidade de atender aos desejos e necessidades de consumidores estrangeiros, ganham em troca a possibilidade de acessar, via importação, determinados itens que não podem produzir. No fim das contas, o balanço entre exportar e importar é essencial para as economias abertas, que só vão progredir se tiverem maior capacidade de acessar mercados e de satisfazer o desejo dos seus clientes. O desafio é que as vantagens comparativas e competitivas das nações têm se tornado cada vez mais tênues e incertas. Os países estão constantemente ameaçados pelo ritmo cada vez mais rápido da inovação tecnológica, que tem levado ao contínuo aparecimento de novos processos e produtos, e a rupturas tecnológicas que podem mudar os mercados de forma radical em curtíssimo espaço de tempo. Nos últimos dez anos, os smartphones mudaram os mercados de telefonia, de computadores e de mídias de som e vídeo. A revolução do petróleo de xisto nos EUA vem provocando enormes turbulências no mercado de energia. E a evolução da internet de banda larga está virando de ponta-cabeça os mercados financeiro e editorial. Ninguém mais compra enciclopédias. Hoje se busca informação no Google. Num mundo tão dinâmico e mutável, é importante que os países estejam atentos às necessidades de infraestrutura e capital humano, criando um ambiente de negócios que habilite seus setores exportadores a promoverem ajustes e reconversões que os mantenham competitivos. Este é um enorme desafio para o Brasil, que continua sendo uma das economias mais fechadas do mundo, quando se avalia participação das exportações e importações no PIB. Num cenário de mercados dinâmicos e extremamente competitivos, maior abertura comercial poderia produzir ganhos de eficiência e ajudaria o país a enfrentar os desafios de produtividade e competitividade. O agronegócio, que se tornou um dos pilares da economia brasileira, é um dos setores que merece mais atenção nesse particular. Uma parcela muito alta das exportações totais do agronegócio brasileiro é composta de conteúdo doméstico apenas. Isso se dá porque o Brasil concentra suas exportações na produção primária, enviando ao exterior matérias-primas, como grãos, ou produtos pouco elaborados, como carnes, de alto conteúdo doméstico. Os países que estão mais integrados às cadeias de valor globais tendem a ter menor parcela do valor agregado doméstico nas suas exportações, que incluem componentes e bens intermediários importados de outros países. Isso é marcante entre os principais competidores do agronegócio brasileiro. As importações da China são compostas de 56% de produtos primários, enquanto 75% das suas exportações são de produtos processados, de maior valor agregado. A relação exportações/importações do agronegócio em 2016 (em US$ bilhões) foi de 151/157 para a União Europeia, de 149/147 para os EUA e de 73/111 para a China. O Brasil, ao contrário, ficou em 71/11. O grande superávit na balança comercial do agronegócio brasileiro reflete, na verdade, uma lógica excessivamente protecionista, de pouca abertura para a entrada de componentes, bens intermediários ou de produtos mais elaborados. Uma maior abertura para importações exerceria pressão saudável para que o modelo agroindustrial brasileiro desse um salto de qualidade e ganhasse competitividade e maior presença nos mercados mais sofisticados e rentáveis. Nosso modelo industrial com alto nível de protecionismo, originado na lógica da substituição de importações, nos exclui dos processos de produção que evoluem ao longo de cadeias de valor transfronteiriças, parte muito importante da globalização. O café, um produto simbólico do Brasil, é exemplo clássico da nossa desconexão das cadeias de valor de grande sofisticação e rentabilidade, como os cafés gourmet e em cápsulas, que ganham o mundo com rótulos americanos, europeus e asiáticos. E basta uma breve passagem pelos grandes supermercados de Dubai ou de Hong Kong para perceber a total ausência de produtos manufaturados originados no Brasil. Diversificar, especializar e agregar valor à produção agropecuária nacional é, mais que uma necessidade, um imperativo para o futuro. Esta agenda está se tornando crítica porque diferentes estudos indicam perspectivas de redução da demanda por produtos agropecuários pouco elaborados e de baixa elasticidade de renda, em particular pós-2030. Nesse horizonte, as previsões de expansão da classe média mundial, com maior renda per capita, sinalizam para a necessidade de novos produtos e novos processos, e grandes riscos para os exportadores excessivamente centrados na produção primária ou em produtos pouco elaborados. É por isso que o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, tem insistido na elevação da participação brasileira no comércio mundial de alimentos dos atuais 6,7% para 10% nos próximos cinco anos. Além de manter a força das commodities na pauta exportadora, será necessário especializar e diversificar nossa produção agropecuária e ampliar os destinos das exportações brasileiras. O Brasil precisará se abrir para a importação de produtos que possam favorecer processamento para exportação, elevar a competitividade de produtos com baixa participação de mercado, investir mais na negociação de acordos comerciais e na abertura de novos mercados, e atrair investimentos e empresas inovadoras para o Brasil. O agronegócio, pilar da economia brasileira, merece este salto para o futuro! Artigo publicado na edição do dia 11 de julho de 2017 do jornal Correio Braziliense. *Maurício Antônio Lopes é Presidente da Embrapa Fonte: Embrapa