Medida da Febraban contra desmatamento segue linha de nova legislação da Europa que afeta o Brasil
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SÃO PAULO E BRASÍLIA – A preocupação com o desmatamento da Amazônia é um fator decisivo nas negociações do Brasil com outros países, em especial os europeus. A medida a ser adotada pela Febraban, que não ofertará crédito a frigoríficos que compram gado de áreas desmatadas de forma ilegal, vai na mesma linha da recente legislação aprovada pelo Parlamento Europeu. Ela afeta as exportações brasileiras e deve facilitar a adequação do produto nacional às exigências para venda na União Europeia.
Compromisso de Lula para 2030 terá impacto positivo no PIB mundial, caso se consolide guinada após política de Bolsonaro
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Compromisso de Lula para 2030 terá impacto positivo no PIB mundial, caso se consolide guinada após política de Bolsonaro Zerar o desmatamento na Amazônia e no cerrado até 2030, como o Brasil se propõe a fazer, pode gerar um ganho de até US$ 240 bilhões (R$ 1,2 trilhão) para o PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Os cálculos são do pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas) e economista sênior da LCA Consultores, Bráulio Borges, e consideram tanto o aumento da emissão de gases do efeito estufa por conta das queimadas quanto a redução da floresta, o que reduz a absorção de carbono. Ele afirma que segue a lógica do CSC (Custo Social do Carbono). O cálculo envolve a estimativa dos impactos causados pelas mudanças climáticas, como danos causados à saúde humana e ao meio ambiente, e os custos para remediá-los. Um menor aquecimento global, por exemplo, significaria desde menos gastos com energia para ar-condicionado até uma elevação menor do nível dos oceanos (que pode desvalorizar imóveis nas regiões litorâneas e até mesmo destruí-los) ou uma maior produtividade agrícola e do trabalho (neste último caso, por conta dos impactos sobre a saúde humana). Segundo o economista, a queda do desmatamento nos dois primeiros governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a redução da emissão de gases de efeito estufa proporcionou, em valores atuais, um ganho de US$ 818 bilhões (R$ 4,2 trilhões) para a economia mundial entre 2003 e 2011, na comparação com um cenário em que os resultados de 2002 fossem mantidos. Em contrapartida, o aumento do desmatamento e suas consequências na alta de emissão de gases de efeito estufa de 2019 a 2022, já durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), levaram a uma perda estimada em US$ 201 bilhões (cerca de R$ 1,02 trilhão, na comparação com a tendência em 2008 e com a estimativa para o ano passado). Bráulio usou dados de emissões líquidas do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima, e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para desmatamento. Para estimar os custos, foi usado o chamado CSC (Custo Social do Carbono) por tonelada adicional de CO2 (gás carbônico) despejada na atmosfera —de US$ 185 por tonelada em 2020 e chegando a US$ 226 em 2030. Considerando uma trajetória linear de redução, a partir de 2027, os biomas sairiam do patamar de perdas e passariam a gerar ganhos para a economia mundial, que somam os US$ 240 bilhões. Com desmatamentos zerados em ambos os biomas em 2030, a captura de GEE pelas florestas seria maior do que as emissões brutas por conta de desmatamentos e queimadas, explica o pesquisador. Ele lembra que também é preciso considerar que os ganhos são diluídos no tempo —ou seja, não necessariamente se materializarão integralmente entre 2027 e 2030— e caso o desmatamento se mantenha zerado a partir de 2031, o ganho acumulado vai crescendo. “Esses ganhos e perdas afetam a economia mundial ao longo de muitos anos, já que os gases de efeito estufa têm efeitos por séculos, e os ganhos e perdas são diluídos no tempo. Há cerca de cinco anos, era uma utopia, mas hoje está clara a maneira como o Brasil pode monetizar a preservação, por meio do mercado de crédito de carbono”, diz Borges. Em novembro do ano passado, ainda na condição de presidente eleito, Lula ressaltou em discurso na COP 27 (conferência para o clima), no Egito, que o combate às mudanças climáticas seria prioridade nos quatro anos de seu governo. “Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida, não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação dos nossos biomas até 2030, da mesma forma que mais de 130 países se comprometeram ao assinar a declaração de Glasgow sobre as florestas”, disse o petista. “Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas. Durante os três primeiros anos [do governo Bolsonaro], o desmatamento na Amazônia teve um aumento de 73%, essa devastação ficará no passado”, concluiu. Borges avalia que a guinada na política ambiental, com a derrota de Bolsonaro em 2022, coincide com o avanço nas discussões sobre preservação ambiental, que o Brasil pode capitanear nos próximos anos. Nesse cenário, o destaque que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem recebido e sua presença no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), empresta ao país uma reputação bastante positiva em todo o mundo, avalia o economista. “Já voltamos com o Fundo Amazônia, voltamos com o plano de combate ao desmatamento e já estamos recompondo orçamentos e equipes dos ministérios. O Brasil tem compromissos ambiciosos em relação a ser um país economicamente próspero, socialmente justo, politicamente democrático, culturalmente diverso e ambientalmente sustentável”, disse Marina em Davos. “Mas a gente precisa correr atrás, alguns resultados vão precisar ser entregues em breve e vai ser preciso estipular metas mais ousadas e um plano para cumprir essas regras”, diz Borges, que destaca oportunidades na expansão do setor elétrico por meio de energia eólica e solar e definição de padrões de emissões. Com a guinada na política ambiental, o Brasil também pode se beneficiar nos próximos anos da atração de capitais por meio de investidores que levam em conta a preservação ambiental. Além disso, o país pode evitar sanções aos produtos brasileiros e destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia, conforme já sinalizado por líderes europeus. “E podemos ganhar royalties para manter a floresta de pé e ganhar para reflorestar. O mercado de crédito de carbono está se tornando cada vez mais global. Se o Brasil reduzir a zero o desmatamento, vai ter um excedente em relação às metas e poderá exportar isso para outros países cumprirem as suas”, diz Borges. O pesquisador acrescenta que, embora efeitos do desmatamento sejam captáveis com mais clareza pelos economistas —como o aumento da criação de gado nos estados da Amazônia Legal ou da extração de madeira ilegal— há custos que o desmatamento gera e que são mais difíceis de captar, como o da redução do regime chuvas
Destruição de área indígena leva ICMBio a criar uma força-tarefa no Tocantins
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Segundo o ICMBio, há 12 anos a Mata do Mamão tinha o dobro do tamanho que tem hoje – a proibição da circulação tinha como objetivo conter a ocupação ilegal, principalmente, de criadores de gado, mas não foi o bastante para frear a destruição na mata. A destruição de uma área indígena protegida por decisão judicial levou o ICMBio a criar uma força tarefa no Tocantins. “Essa é a quantidade de gado que tem só num pedacinho aqui da ilha. Se tem povos originários aqui, como é que vai lidar com tudo isso né, isso é de retireiros”, narra um fiscal em um vídeo. Fiscais do Ibama flagraram um rebanho em uma área da Ilha do Bananal conhecida como a “Mata do Mamão”, um santuário ecológico de floresta nativa. É onde os biomas do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal se encontram. É também o lar de indígenas que escolheram viver isolados. Pegadas indicam a presença de integrantes do povo Avá-Canoeiro. Para protegê-los, desde 2019, a circulação de não-indígenas no local é proibida pela Justiça Federal. Mas a decisão não está sendo respeitada. Como narra um dos fiscais. “O que a gente vê é o saqueamento completo desse lago no que diz respeito à pesca predatória”, diz o fiscal em um vídeo. Eles registraram a degradação em parte do Parque Nacional do Araguaia, onde fica a Ilha do Bananal. Carcaças de pirarucu, cervos e pássaros abatidos por pescadores e caçadores que invadiram o local; madeiras extraídas ilegalmente, e até construção de barracos. “A degradação desse ambiente é muito grave porque afeta diretamente o modo de vida dos índios, a biodiversidade do local e o trabalho e a razão de ser do parque nacional”, diz o chefe do Parque Nacional do Araguaia, Lino Rocha. Segundo o ICMBio, há 12 anos a Mata do Mamão tinha o dobro do tamanho que tem hoje. A proibição da circulação tinha como objetivo conter a ocupação ilegal, principalmente, de criadores de gado, mas não foi o bastante para frear a destruição na mata. Agora, uma força tarefa de fiscais ambientais foi criada para investigar os crimes na região e tentar identificar os responsáveis. Tudo para preservar a biodiversidade e manter o grupo de indígenas Avá-Canoeiro isolado, como determina a Justiça. O Ministério Público Federal e o Ibama estudam ainda alternativas para melhorar o monitoramento da região. “O Ibama tem uma proposta da gente criar uma alternativa tipo uma zona de amortecimento pra aquela mata”, diz o superintendente do Ibama/TO, Isac Braz Cunha. “Com esse diagnóstico que foi feito, que outras medidas possam vir a ser tomadas. Que venham trazer essa efetividade”, diz o procurador da República Álvaro Manzano. Representantes do povo Avá-Canoeiro querem que a preservação da natureza caminhe junto com a garantia de proteção do grupo de indígenas que ainda vive isolado. “A gente nem sabe de onde vem esses vaqueiros, é preocupante não só para os isolados, mas para a fauna de dentro da ilha. Porque ali tinha que ser preservado e não ser destruído como está sendo destruído hoje”, diz a indígena Typyire Silva Âwa. Fonte: G1 Curadoria: Boi a Pasto