julho 27, 2024

Alimentando o mundo e o Brasil

Todos sabem a potência agrícola que o Brasil se tornou de modo que boa parte do aumento de produção de grãos que será necessário nas próximas décadas dependerá do desempenho brasileiro Ciro Antonio Rosolem* Isso não se discute mais. Entretanto, na semana mundial da alimentação, é interessante voltar o olhar para os nossos produtos básicos, presentes na mesa de muitos brasileiros de todas as classes econômicas. Sabemos que produzimos divisas e que a agricultura vem mantendo o País. Mas, estaríamos produzindo o suficiente para nós mesmos? Vejamos o arroz. O arroz é capaz de suprir 20% da energia e 15% da proteína da necessidade diária de um adulto, além de conter vitaminas, sais minerais, fósforo, cálcio e ferro.  No Brasil, o consumo anual é de, em média, 25 quilos por habitante. Embora tenha ocorrido redução da área cultivada entre 1975 e 2005 em 26%, a produção aumentou em 69 %, com um incremento de 128% na produtividade média. Isso permitiu ao País ser autossuficiente em arroz, chegando a exportar o produto em alguns anos. Em média, o Brasil tem exportado aproximadamente 5% do que produz. Projeções de produção e consumo de arroz nos próximos anos, feitas pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), dão conta de um aumento médio de produção de 1,2% ao ano nos próximos 10 anos, com aumento médio de 0,86% no consumo, um pouco abaixo do crescimento esperado para a população brasileira. Assim, mesmo em longo prazo, não deverão ocorrer problemas sérios de abastecimento. O Brasil é o maior produtor mundial de feijão. De cada 10 brasileiros, sete consomem feijão diariamente. Feijão de todos os tipos, de todas as cores. O grão típico da culinária do país é fonte de proteína, vitaminas do complexo B e sais minerais. O consumo do produto, em média por pessoa, chega a 19 Kg/ano. Espera-se que a produção cresça a uma taxa anual de 1,8%, com crescimento anual de 1,2 % no consumo, até 2020. Embora possa em alguns anos haver necessidade de importação de pequenas quantidades de feijão, há um equilíbrio razoável entre os crescimentos da demanda e da produção. O trigo é o segundo cereal mais produzido no mundo, com significativo peso na economia agrícola global. Embora tenhamos obtido recorde de produção na última safra, isso ainda não foi suficiente para atender toda nossa demanda pelo pão de cada dia. Nem há perspectiva de que isso ocorra em curto prazo. Isso, porque, no Brasil, as condições climáticas são desfavoráveis à cultura. Normalmente produzimos um trigo caro e nem sempre de alta qualidade. Estimativas do MAPA preveem uma taxa de aumento de consumo do trigo de 1,3% ao ano. Ainda assim, acredita-se na possibilidade de redução das importações, uma vez que o Brasil vem investindo na autossuficiência da produção interna do cereal. E a mandioca, como vai? A mandioca é o quarto alimento maior fornecedor de calorias. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, a oferta nacional de mandioca aumentou 7,5%, enquanto o processamento de fécula cresceu 36%. Novo aumento de produção deve ser observado em 2015, evolução de 5,1% comparada a 2014, considerando dados nacionais agregados. O consumo per capita mundial de mandioca e derivados, em 1996, foi de 17,4 kg/hab/ano, sendo de 50,6 kg/hab/ano no Brasil. Os países da África destacam-se nesse aspecto; a República Democrática do Congo, República do Congo e Gana apresentaram, respectivamente, valores de 333,2, 281,1 e 247,2 kg/hab/ano. A produção brasileira de mandioca é praticamente consumida no mercado interno, com menos de 0,5% da produção nacional sendo exportados nos últimos 10 anos. O mercado da mandioca é muito instável, o que torna temerária qualquer projeção. Entretanto, considerando a história da produção de mandioca no Brasil, não se espera que falte nos próximos anos. Desta forma, fica claro que a agricultura está sim, provendo o mundo e trazendo divisas para o Brasil, sem deixar de produzir os produtos mais apreciados nas mesas brasileiras. Sobre o CCAS O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br . Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel *Ciro Antonio Rosolem, Vice-Presidente de Estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). Fonte: CCAS / alfapress

Churrasco de carne boa e consciência leve

“O Brasil é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada!” Amado de Oliveira* Frase acima é de autoria de Fernando Penteado Cardoso, Engenheiro Agrônomo e, Presidente da Fundação Agricultura Sustentável – Agrisus. Esse agrônomo, verdadeiramente sabe das coisas e, tem razão. Sabe-se hoje, que com pastagens bem manejadas e com aplicação do conhecimento disponível, nossa pecuária pode produzir proteína de boa qualidade, gerar emprego e renda e ainda mitigar a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Recentemente Ciro Antônio Rosalem, membro do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor da Faculdade de Ciências Agrícolas da UNESP/Botucatu, publicou um artigo na Revista BeefWorld, Edição de nº 12, que contribui para desmistificar o tema. Em seu artigo, esclarece por exemplo que no Brasil é comum se multiplicar uma das estimativas disponíveis de emissão de metano pelogado bovinopor mais de 200 milhões de cabeças e, pronto, imagina-se estar calculado o total da emissão de gases de efeito estufa da pecuária. Segundo o professor este é o primeiro engano (engano?), pois estes mais de 200 milhões de bois, vacas, touros, bezerros, novilhas não emitem a mesma quantidade de gás, já que cada categoria de animais consome quantidades e qualidades diferentes, portanto, sem fazer nenhuma conta já se pode afirmar que a emissão da pecuária é menor do que se alardeia. Defende o professor que o carbono que o boi emite por flatulência e eructação vem do alimento consumido, no caso do Brasil, normalmente de capim. Este alimento é transformado em carne, leite e dejetos que retornam ao chão e outra parte para a atmosfera. Portanto para o boi crescer e a vaca produzir leite e metano, é necessário que se alimentem de carbono, ou seja, de capim, ou ainda, se confinados de milho ou soja. Este carbono é consumido na forma destes alimentos, ou seja, estes animais não fabricaram nada, apenas devolveram a atmosfera o que nela estava. Outra afirmação interessante do professor em seu artigo, é que se recuperar os 24 milhões de hectares de pastagens degradadas no bioma cerrado, com melhoria de manejo, resultaria em sequestro de 36 milhões de toneladas de carbono por ano, quantidade três vezes maior que os 11,4 milhões que debitam como emissão do rebanho brasileiro. Aponta ainda o artigo que as pastagens acumulam carbono o que, geralmente não é considerado e ainda que, o simples fato de se adubar as pastagens, melhorando o nível de proteína, pode diminuir em cerca de 15% a quantidade de metano emitida, por quilo de matéria seca ingerida. Até mesmo na questão de pastagens degradadas, a conclusão do professor é óbvia, pois apesar do capim crescer menos nestas condições, portanto, fixar menos carbono, o boi também só emite o que comeu, o que implica em afirmar que pode não haver ganho de carbono no solo, mas não dá para ter emissão liquida. A íntegra do artigo do professor Ciro Antônio Rosalem está no endereço: http://www.beefworld.com.br/noticia/o-boi-mocinho-nao-bandido/. Sugiro o acesso e leitura a todos os interessados. Este convite é extensivo àqueles que enchem a boca para acusar o boi de patinho feio, quando se trata da emissão de gases de efeito estufa, bem como, àqueles que gostam de degustar número elaborados, de toda ordem, para debitar ao boi e a pecuária de corte uma fatura que não é sua. Trazendo a frase de Fernando Penteado que afirma que o Brasil é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada, gostaria de indagar: o que é mitigado com a queima de combustíveis fósseis pelos milhões de veículos de todos os portes e finalidades? E ainda, qual o tamanho da emissão de gases de efeito estufa dos lixões? Porque o Governo Federal prorrogou o prazo para as prefeituras adequarem seus lixões? Não sei o tamanho deste problema, mas como são debatidos com frequência pelas mídias, deve ser grande.  Claro que as questões levantadas não são apenas provocações. Se tratam de buscar alertar aos leitores da necessidade de se avaliar e medir as emissões na produção de alimentos com a mesma régua de valores dos demais setores da economia. Mas, quanto ao nosso churrasco, vindo de carne de boa origem, não fará mal nem mesmo a sua consciência. Bom apetite e tenhamos todos um feliz ano novo! *Amado de Oliveira Filho é economista, especialista em mercados de commoditieis agropecuárias, direito ambiental e desenvolvimento sustentável e consultor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Fonte: Acrimat

Água para Comer

Segundo a FAO-ONU, o mundo tem um grande desafio pela frente. Produzir alimentos para 9 bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, ser sustentável. Unidos, podemos conquistar esse objetivo: alimentar e preservar o planeta. Mas isso só é possível quando consideramos a utilização da irrigação na agricultura e entendemos o seu papel. João Rebequi * Neste ano, diante da gravidade da crise hídrica que vive o país, a população urbana, por falta de conhecimento, acabou condenando a irrigação agrícola como uma grande vilã. Entretanto, é fundamental que a sociedade saiba que, sem áreas irrigadas, não há como fazer crescer a produção, principalmente sem aumentar as áreas de cultivo. Só podemos fazer mais com o mesmo (ou menos) usando irrigação. Além disso, o desenvolvimento técnico dos equipamentos nos últimos anos comprova ser possível utilizar água na agricultura com racionalidade e sem desperdício. Em diversos debates no Brasil e no mundo sobre o gerenciamento dos recursos hídricos, foi demonstrado que a irrigação é um instrumento efetivo no auxílio na produção de alimentos que a futura e crescente população mundial irá demandar. O que podemos discutir, a partir daí, é a eficiência de aplicação hídrica para cada cultura. Imaginar o mundo sem irrigação seria aceitarmos falta de alimento, pessoas passando fome e aumento nos preços. O que a população urbana precisa entender é que água na irrigação não é consumida, é utilizada dentro do melhor ciclo hidrológico possível e que os equipamentos de irrigação, são como a torneira dentro de casa, bem utilizados, não desperdiçam sequer uma gota de água e, o mais importante, é que a grande maioria dos irrigantes brasileiros tem essa consciência e usam seus equipamentos de maneira adequada e sustentável, ou seja, aplicam somente a quantidade de água que a planta precisa e, em alguns casos, até menos trabalhando no limite do stress hídrico de cada cultura. Voltando a comparação com a água consumida em casa, a agricultura usa bem suas torneiras, e a água utilizada, além de produzir alimentos, volta ao ciclo hidrológico devidamente filtrada, sem a necessidade de tratamento.  Um diferencial é a utilização das boas práticas de manejo agrícola. Com elas, é possível racionalizar a água utilizada nas fazendas. Essa racionalização depende das culturas nas quais serão utilizadas com irrigação, e passa, também, pelos métodos utilizados para tal.  É importante usufruir da infraestrutura e tecnologias já disponíveis no mercado, para utilizar somente a quantidade de água que a cultura necessita ou até menos. A irrigação por pivôs, por exemplo, é uma alternativa econômica e rentável, que aplica a água de maneira uniforme, evitando o desperdício. A água é aplicada na hora certa e na exata quantidade que a planta necessita. Tanto o pivô central quanto outros métodos de irrigação têm excelentes níveis de eficiência de aplicação, alcançando índices que variam entre 95% a 98%. O foco profissional do setor, desta forma, deve recair sobre um triângulo agronômico de eficiência na produção (fazer mais com menos), atender à planta em sua necessidade hídrica e escolher o método adequado de irrigação. Entendendo esse processo, é incorreta atribuir ao agronegócio e à irrigação a vilania da crise hídrica nacional.  * João Rebequi é presidente da Valmont e vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) Fonte: Fonte Comunicação

O uso intensivo e sustentável dos recursos naturais

“Intensificação sustentável.” Este é um conceito que cada vez mais ganhará notoriedade. Maurício Antônio Lopes* A razão é simples. A população mundial seguirá crescendo, mais urbanizada e exigente, em um planeta de recursos naturais finitos. Vai exigir mais alimentos, energia e bem-estar, o que requer uso mais eficiente das riquezas da natureza – e será preciso conservar tais bens para as gerações futuras. “Fechar essa conta” define a intensificação sustentável. O estudo Visão 2014-2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, lançado pela Embrapa em 2014, sinaliza que, por volta de 2030, poucos países vão concentrar boa parcela da população e da renda. A população mundial, gradativamente se tornará mais idosa. A renda per capita em importantes países consumidores irá se elevar, assim como a demanda por proteínas nobres como leite, carne, ovos, peixes, frutas, verduras e legumes. Em duas décadas, deve aumentar em 3 bilhões o número de consumidores do planeta e a região da Ásia-Pacífico concentrará cerca de 60% da classe média mundial. Tão significativo quanto o crescimento da população e a mudança das exigências e preferências dos consumidores é o fato de que tal cenário deverá ser  observado mais em regiões onde é baixa a possibilidade de se ampliar a produção de alimentos. Há carência de terras agricultáveis e de recursos essenciais, principalmente água, como nas imensas áreas desérticas e semiáridas da África e da Ásia. No mundo, as áreas que poderiam ser utilizadas para a  expansão da fronteira agrícola estão na Rússia e no Leste Europeu. Mas seu aproveitamento é limitado em razão do clima e da necessidade de grandes investimentos, de difícil realização nas próximas décadas. O Canadá, país onde há terras e boa infraestrutura de suporte à produção agrícola, convive com sérias limitações climáticas. A América do Sul é a região que dispõe de condições de clima e recursos naturais mais favoráveis para a expansão sustentável da atividade agrícola, especialmente em sua faixa tropical e subtropical. Potencial semelhante existe em partes da África Subsaariana, embora o aproveitamento nessa região dependa de substantivas mudanças políticas e estruturais, uma tarefa para muitas gerações. Repousa, portanto, sobre a América Tropical, a grande responsabilidade de alimentar a população e, ao mesmo tempo, ampliar a ação de prover alimentos para um mundo que seguirá crescendo e demandando em quantidade, diversidade e alto padrão de qualidade.  Fazê-lo, de forma sustentável, demandará sofisticação tecnológica que amplie a eficiência de uso dos recursos ambientais – especialmente água, solo e biodiversidade – e garanta serviços ecossistêmicos adequados, como reciclagem de resíduos, recomposição das reservas hídricas, melhoria da atmosfera, dentre outros. O Brasil lidera um grande esforço de geração e uso de tecnologias “poupa-recursos”, de baixa emissão de carbono, capaz de promover a expansão sustentável da produção agrícola. Expansão baseada mais em ganhos na produtividade da terra, em sintonia com o novo Código Florestal. O Plano ABC – “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono” é uma arrojada política pública que visa ampliar a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o sistema de plantio direto (SPD), a fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas plantadas e o tratamento de dejetos animais. Por isso, chama a atenção do mundo o potencial de intensificação sustentável da agricultura brasileira. Uma grande extensão de nossas áreas agrícolas pode ser utilizada de maneira segura 365 dias ao ano, produzindo, no mesmo espaço, grãos, proteína animal, fibras e bioenergia. E, diferentemente de qualquer grande produtor de alimentos no mundo, o Brasil mantém 62% do seu território com cobertura vegetal natural. Esse protagonismo e as oportunidades de geração e disseminação de tecnologias capazes de promover a expansão sustentável da produção agropecuária dominarão as discussões de especialistas nacionais e internacionais no primeiro Congresso Mundial sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O evento, organizado pela Embrapa e instituições parceiras do Brasil e do exterior, acontecerá a partir desta segunda-feira, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Este fórum terá como pano de fundo a ambição de se garantir a segurança alimentar e nutricional no futuro. É uma grande oportunidade para que o Brasil se apresente como nação preparada a contribuir por duas vias complementares: pela via da vocação natural, de país grande e diverso, com pujante riqueza ambiental; e pela via da competência, amparada em sua história de pesquisa e inovação agropecuária consolidada nas últimas quatro décadas. * Maurício Antônio Lopes é Presidente da Embrapa (Artigo publicado na edição do dia 12 de julho do jornal Correio Braziliense) Fonte: Embrapa

Identificação animal como estratégia de defesa sanitária

A globalização resultou no aumento da comercialização internacional de animais e de seus subprodutos. Porém, as doenças infecciosas são uma das principais barreiras para a expansão deste comércio. Thaís Basso Amaral e Vanessa Felipe de Souza* Todavia, para o Brasil se manter como o primeiro exportador mundial de carne bovina é necessário reforçar as medidas de controle sanitário, sendo o principal desafio manter e expandir a área livre de febre aftosa, especialmente porque outros países da América do Sul ainda são endêmicos ou apresentam surtos esporádicos da doença. Em países como o Brasil, cuja produção é caracterizada por deslocamentos entre propriedades e com distintos sistemas de criação, a identificação individual é importante para assegurar a rastreabilidade do processo produtivo. Para o produtor, antes mesmo da rastreabilidade em si, a identificação permite otimizar o controle interno da atividade pecuária, facilitando a gestão da propriedade rural. Concomitante ao crescimento da pecuária brasileira, o mercado global está cada vez mais atento tanto à qualidade da carne, como à inocuidade do produto final, à eficiência do sistema de produção, bem como à atenção ao bem-estar animal. Essas demandas foram desencadeadas pela exigência da sustentabilidade da cadeia produtiva, e foram intensificadas com a descoberta da doença da vaca louca em 1996, na Europa, além do constante risco da ocorrência de febre aftosa. Em adição, o mercado consumidor passou a exigir o rastreamento do alimento na cadeia produtiva, além da transparência no processo. Assim, é estratégico para o País adotar ações padronizadas que resultem em alimentos seguros, com garantia de origem, e associados à sustentabilidade produtiva. Para garantir a rastreabilidade de toda a vida do animal até a comercialização do produto final, qualquer sistema deve passar pelo controle individual. A identificação é a chave para o registro de todas as ocorrências e práticas de manejo. É um procedimento essencial que possibilita a avaliação do desempenho do rebanho e sua higidez sanitária, o que contribui para a tomada de decisões administrativas. Além disso, atende às normas e aos procedimentos em boas práticas agropecuárias, para garantir ao mercado alimentos de qualidade e livres de resíduos e contaminantes de qualquer natureza. Destaca-se, ainda, seu papel no sucesso das ações de defesa sanitária animal que, dependendo do sistema de identificação utilizado, pode fornecer informações relevantes em tempo real. Outra vantagem é que a adoção de um sistema de rastreio eficiente atende às exigências de comércio internacional e condições sanitárias regulamentadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Como exemplo desses benefícios, a identificação individual dos animais localizados na fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul resultou no reconhecimento do local como zona livre de febre aftosa com vacinação pela OIE, quatro anos após a implementação da Zona de Alta Vigilância (ZAV) nesta fronteira. Destaca-se que o Estado possui doze municípios na linha de fronteira com o Paraguai, o que corresponde a 30% do território e 17% de seus bovinos. Entre os sistemas de identificação animal, a tatuagem na face interna do pavilhão auricular, marcas a ferro quente e brincos numerados são os mais utilizados. No entanto, a diversidade de raças e manejos, a tatuagem e marcação a ferro em animais de pelagem escura ou excesso de pelos, e os erros na transcrição manual de dados (associados ao labor e pouca eficiência) motivou a procura por métodos mais eficientes. Em relação à marcação a ferro quente, além do desconforto causado ao animal, pode danificar o couro se não atendidas as recomendações da Lei nº 4.714, de 29 de junho de 1965, com consequente redução do valor desse. No caso dos brincos, a perda anual varia entre 3% e 15%, de acordo com a raça e o tipo de ambiente, o que favorece erros no processo de rastreabilidade e perdas para o produtor. O brinco pode causar ainda um processo traumático e lesões da pele, o que propicia a instalação de infecções e bicheiras. Por outro lado, a utilização de dispositivos eletrônicos como transponders (RFID), balanças eletrônicas, GPS, leitores de códigos de barras, sensores de biometria, entre outros, é sem dúvida a forma mais segura e eficiente para identificação de animais, pois elimina erros na transcrição manual de dados, bem como a necessidade de contenção do animal. Com informações sobre as ocorrências relevantes ao longo da vida do animal como vacinas, regime alimentar, variação de peso, indícios de febre, ocorrência de cio e parto, entre outras, é possível rastrear a origem de problemas ao longo da cadeia de produção, além de permitir o monitoramento da saúde do animal, ajustar o manejo, além de embasar com segurança a tomada de decisão quanto a compra e venda de animais, e estimar a previsão de lucros, por exemplo. Assim, é possível atingir o efetivo controle da produção desde o nascimento dos animais até o fornecimento do produto final na gôndola, melhorando a produtividade e a eficiência do processo produtivo. Independente do método, a identificação individual de animais contribui de forma inconteste com informações para estratégias de combate a doenças, monitoramento da eficiência de vacinas, consolidação de sistemas de informação e vigilância nos âmbitos nacional e internacional, redução de inconsistências de identificação tanto durante a inspeção quanto em diagnóstico clínico e laboratorial, e otimização do efetivo controle de movimentação animal, seus produtos e subprodutos. É, portanto, elemento essencial em qualquer estratégia de segurança e defesa sanitária animal. *Thaís Basso Amaral e Vanessa Felipe de Souza são pesquisadoras da Embrapa Gado de Corte Fonte: Embrapa Gado de Corte

Perspectivas para o agronegócio demandam tecnologias para uma produtividade sustentável

O agronegócio brasileiro é visto hoje como amplo e complexo sistema que compreende os segmentos de alimentos, fibras e energias renováveis. Leandro Pires* Segundo o Ministério da Agricultura, o PIB do agronegócio cresceu 1,08% e representou 21,3% do PIB do Brasil em 2014. A agricultura brasileira vem crescendo de forma sustentável e produtiva, o que culminou em uma produção de grãos de 193 milhões de toneladas no último ano. Os recentes ganhos de produtividade, publicados em junho de 2015, mostram que entre as safras 2013/14 e 2014/15 houve um incremento de 5,6% na produção de grãos e um aumento de 1,1% de área plantada. Um aumento de produtividade de 4,5% em um ano! Segundo o Banco Mundial, a população projetada de 9 bilhões de habitantes até 2050 demandará um aumento de 120% do consumo de carnes e de 148% do consumo de soja. Este cenário mostra-se como um sólido fundamento para o agronegócio brasileiro, que possui alto potencial para aproveitar essa oportunidade por sua disponibilidade de solo arável não explorada. Entretanto, o aumento de produtividade continuará sendo demandado em função da competição internacional das commodities agrícolas e da sustentabilidade de longo prazo. Nesse contexto, cresce a importância do setor de insumos, no qual se inserem as máquinas agrícolas, para o aumento de produtividade. As commodities agrícolas podem oferecer mais valor agregado do que outros produtos e com ganhos contínuos de produtividade nas cadeias a montante. Esses ganhos se baseiam em vantagens comparativas naturais do Brasil, inovações para competir nos mercados internacionais e investimentos em pesquisa de produção em áreas tropicais. As inovações em máquinas agrícolas e tecnologias como agricultura de precisão, integração de máquinas e gestão de frota contribuem para esse aumento de produtividade. Por meio delas se obtêm melhor uso da terra, redução de custos com insumos, redução de desperdícios de produção e melhor eficiência operacional. Tais inovações, além do foco em produtividade, possuem demanda de requisitos de segurança e sustentabilidade crescentes como, por exemplo, o Proconve MAR-I, programa para controle de emissões de poluentes. Com essas perspectivas de mercado e demandas por inovação, o 7º Simpósio SAE BRASIL de Máquinas Agrícolas irá reunir indústria, academia e entidades setoriais para discutir o aumento de produtividade com o desafio de manter a sustentabilidade. O encontro será realizado no dia 2 de setembro, na Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre. Participe! *Leandro Pires é Gerente de Administração de Vendas da John Deere e chairperson do 7º Simpósio SAE BRASIL

Uma proposta sustentável para alimentar o mundo

Em dez anos, Plano ABC pode evitar emissão de 1,8 bilhão de toneladas de dióxido de carbono na agropecuária. João Guilherme Ometto* e Roberto Rodrigues*  Crescem as expectativas quanto aos planos de redução das emissões de gases de efeito estufa que cada país submeterá à COP 21 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), de 30 de novembro a 11 de dezembro, em Paris. Como em um grande mosaico, é a junção dessas propostas, denominadas INDC’s (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que permitirá avaliar o resultado em relação à meta de redução da temperatura global. No cenário doméstico, detalhados estudos e simulações, realizados por especialistas de comprovada capacidade técnico-cientifica, exploram as possibilidades de um caminho seguro, mas nada trivial, que compatibilize compromissos ambiciosos do ponto de vista ecológico e a capacidade de crescimento do Brasil. É um grande desafio, já que são duas demandas legítimas da sociedade: preservação ambiental e desenvolvimento. Embora os objetivos não sejam excludentes, é evidente a forte correlação entre a expansão do PIB e as emissões de gases de efeito estufa. Ademais, as medidas necessárias para a mitigação em alguns setores específicos da economia representam custos que, por vezes, podem comprometer a própria atividade se não forem bem calibrados. São inegáveis, também, as muitas oportunidades nessa agenda, pois existem temas que já pavimentaram um caminho no qual é possível avançar a passos largos em um casamento bem-sucedido entre o desenvolvimento produtivo e a preservação dos recursos. Em 2009, quando o Brasil  comprometeu-se a cortar entre 36,1% e 38,9% de sua curva de emissões projetada até 2020, aquilo que foi apresentado de maneira voluntária na Dinamarca, na COP 15, virou política nacional e, para cada setor da economia, foram elaborados planos de mitigação. Além dos louváveis resultados, reconhecidos internacionalmente, da política de combate ao desmatamento, os compromissos brasileiros renderam outro fruto. Nasceu no País a iniciativa mais ambiciosa dos trópicos para a redução de emissões no meio rural: o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas Visando à Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, o Plano ABC. Este direciona parte dos recursos do crédito agrícola para financiar atividades e tecnologias de mitigação, como a recuperação de pastagens degradadas, plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e fixação biológica do nitrogênio. Trata-se de mudança expressiva na orientação da política agrícola, já que oferece ao produtor agropecuário a oportunidade de olhar todas as possibilidades de interação e otimização dos recursos existentes dentro de sua propriedade. Com isso, dá a ele a possibilidade de verificar, através dos resultados obtidos na prática, que é possível equilibrar de maneira cada vez mais harmônica o tripé econômico, ambiental e social. Apesar de bem estruturado do ponto de vista conceitual, é necessário, ainda, um conjunto de ajustes para que o plano ganhe a escala que se deseja. A COP 21 pode ser um excelente estímulo para isso. Em uma iniciativa inédita, a Fundação Getúlio Vargas, por meio de seu Centro de Agronegócio, realizou um conjunto de propostas de revisão do plano, através do Observatório ABC. As sugestões apresentadas, a partir de consultas públicas com a participação de importantes entidades do agronegócio, abordam desde a necessidade de se disponibilizarem juros diferenciados, até o desenvolvimento de coeficientes e indicadores de emissões e remoções de gases de efeito estufa dos diversos sistemas produtivos. Além disso, o documento aborda a necessidade de se ampliar a divulgação das tecnologias apresentadas e a capacitação de pessoal, por meio de assistência técnica e treinamento, já que o ABC representa mudança profunda. O monitoramento e o controle ágeis e precisos dos resultados são fundamentais para se mensurar a efetividade do programa, e isso somente poderá ser realizado com investimentos em novas tecnologias. O potencial é enorme e pode superar em mais de dez vezes a meta originalmente estipulada pelo governo no Plano ABC. Em um cálculo conservador, realizado pela equipe da FGV, no qual se consideram apenas a utilização de algumas práticas previstas no plano e um grupo de sete culturas, além do rebanho bovino em 1.285 municípios, as emissões evitadas em um período de dez anos, somadas ao estoque de Co2eq (Equivalência em dióxido de carbono) no solo, chegariam a 1,8 bilhão de toneladas, utilizando-se a métrica GWP (Global Warming Potential/Potencial de Aquecimento Global) e as projeções da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Ministério da Agricultura. Desde 2009 o agronegócio movimenta-se rapidamente, permitindo que o Brasil chegue à COP ao final do ano com vários ativos importantes: além do Plano ABC, um Código Florestal que deverá recuperar de 12 milhões a 25 milhões de hectares de florestas nativas e, mais recentemente, a contribuição decisiva para a aprovação do marco legal da biodiversidade. Toda essa evolução tem um custo significativo, mas que não pode ser alto a ponto de inviabilizar as iniciativas propostas. É aí que mecanismos de financiamento estruturados e um mercado de carbono bem calibrado serão fundamentais ao cumprimento das metas. Uma vez mais, o agronegócio mostra como produzir mais com menos, oferecendo um caminho seguro e concreto para alimentar o mundo de modo cada vez mais sustentável. *João Guilherme Ometto, engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), é vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da FIESP e coordenador do Comitê de Mudança do Clima da entidade. *Roberto Rodrigues, engenheiro agrônomo (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP), foi ministro da Agricultura (2003-2006), é Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as Cooperativas e presidente do LIDE Agronegócio.

Semeadura direta: onde estamos?

Quando nossos ancestrais Neolíticos começaram a cultivar hortas próximas às residências, na transição de caça/coleta para agricultura, faziam furos na terra, ou “arranhavam” a terra com instrumentos de madeira. Assim, enterravam as sementes. Ciro Antonio Rosolem* As primeiras ferramentas eram constituídas de uma armação sustentando uma estaca de madeira. Com a domesticação de animais como os bois de tração, ao redor de 6.000 AC, na Mesopotâmia, a tração humana foi substituída pela tração animal. Com o tempo, o trabalho mecânico do solo se tornou a regra no cultivo das plantas e no controle de mato, possibilitando que cada vez menos pessoas sustentassem cada vez mais pessoas. O próximo grande desenvolvimento ocorreu ao redor de 3.500 AC, quando Egípcios e Sumérios criaram um arado colocando uma chapa de ferro sobre uma cunha de madeira, que podia “afofar” a camada superficial do solo. No século XI, os Europeus usavam uma evolução deste implemento, que incluía uma lâmina curva, chamada aiveca, que revolvia completamente o solo. Nos Estados Unidos, em 1837 um ferreiro chamado John Deere desenvolveu um arado de aiveca de aço muito mais eficiente, possibilitando o preparo de solos até então inutilizáveis, onde hoje se encontra o “Corn belt” (cinturão do milho) americano, uma das áreas mais produtivas do mundo. Assim, a mecanização continuou até o início do século passado, com o desenvolvimento de muitas ferramentas que permitiram o uso mais intensivo do solo.  Entretanto, o uso intensivo do solo começou a cobrar seu custo. Grandes tempestades de areia foram observadas nos Estados Unidos, na década dos 1930s, expondo a vulnerabilidade do sistema com agricultura baseada no arado, uma vez que o vento levava a camada mais fértil do solo. A partir disso se começou a falar em sistemas conservacionistas e preservação da cobertura do solo. O movimento foi muito estimulado com a publicação do livro (controverso na época) “Plowman’s Folly” (Insanidade do agricultor), em 1943, pelo agrônomo americano Edward Faulkner, que contestava a necessidade do arado. Suas proposições radicais encontraram mais suporte com o desenvolvimento de herbicidas como o 2,4-D, atrazina e paraquat – depois da segunda guerra, assim como do glifosato um pouco depois. Assim, a pesquisa e o uso de métodos modernos de semeadura direta tiveram enorme impulso durante os anos 1960s. Considerando o papel fundamental da aração no cultivo das plantas e controle do mato, foi necessária praticamente a reinvenção de praticamente todos os aspectos da produção agrícola. Fundamentalmente, as semeadoras especialmente projetadas, que vem constantemente evoluindo, assim como novos herbicidas, são duas das tecnologias que permitiram a prática da semeadura direta em escala comercial.  No grande esforço desenvolvido para alimentar uma população crescente e que se urbaniza, a agricultura tem se expandido, feita de diversos modos que convivem e atendem objetivos específicos. Até o momento o desenvolvimento da agricultura tem retardado a concretização da previsão de Malthus – a fome. Entretanto, o enorme crescimento e intensificação que tem sido necessários exercem pressão sobre o ambiente, há perigo de degradação do solo, de assoreamento e/ou eutroficação de cursos d’água, poluição de águas subterrâneas e por fim perda da sustentatibilidade. Nos Estados Unidos o alerta foi dado pelas tempestades de areia, no Brasil, a erosão no Paraná e desertificação de áreas agrícolas no Rio Grande do Sul. Em todas estas situações, a semeadura direta veio como salvadora. Teve como pioneiros, no Brasil, Manoel Henrique (Nonô) Pereira, Herbert Bartz e Frank Dijkstra.  Veja bem, semente é semeada, então dizemos semeadura direta para milho, soja, algodão, feijão etc., e dizemos plantio direto para cana de açúcar, eucalipto e outras espécies que são plantadas (com mudas). Então, a semeadura direta veio como um socorro para áreas problemáticas. Logo se percebeu que um fator fundamental no sistema era a presença de palha na superfície, protegendo o solo. Isto diminui a variação térmica, reduz a erosão, conserva água, melhora a saúde do solo, reduz trabalho, energia e custos, reduz o transporte de sedimentos e fertilizantes para lagos e rios. Estas vantagens resultaram em grande crescimento das áreas cultivadas em semeadura direta. No Brasil são, hoje, mais de 30 milhões de hectares. Embora nos Estados Unidos se encontre área semelhante em alguns anos, não se trata de semeadura direta permanente, como é o caso brasileiro. Assim, o Brasil é o país com maior área em semeadura direta. Isso é necessário, pois, para competir, precisamos realizar mais de uma safra por ano, o que seria inviável sem a semeadura direta.  Mais recentemente, a preocupação com as emissões de gases de efeito estufa vem exercendo grande pressão sobre a agricultura, uma vez que existem estimativas de que de 15 a 30 % das emissões teriam sua origem na cadeia do agronegócio. Neste cenário, mais uma vez a semeadura direta vem como ferramenta fundamental, tanto no atendimento das necessidades de alimento, matérias primas e energia, como na mitigação dos efeitos dos gases de efeito estufa. Semeadura direta sequestra carbono. Evita que o CO¬2 seja emitido para a atmosfera. E o efeito não é pequeno, podendo chegar a mais de 2 t/ha/ano. A ONU estima que a semeadura direta já tenha evitado a emissão de 681 Mt CO2¬ desde 1974, sendo 146 Mt somente no Brasil, desde 1992. Não é pouco! No Brasil, dentro do plano de Agricultura de Baixo Carbono, se espera que a expansão do sistema direto adicione mais 500 Kg/ha por ano de carbono ao solo, diminuindo um pouco mais a emissão.  Assim, a semeadura direta pode melhorar o sequestro de carbono no solo. Mas não basta, como se pensava, apenas produzir muita palha. Trabalhos divulgados recentemente demonstram que, mesmo sem a produção de quantidades enormes de palha, é possível aumentar o carbono estável do solo com a introdução de nitrogênio no sistema, seja por leguminosas ou fertilizantes, em solos corrigidos com calcário e/ou gesso, com pouca acidez. Quanto mais aprendemos, mais virtudes descobrimos na semeadura direta, mais motivos para que a adoção ao sistema seja estimulada.  O fato é que a agricultura exerce impacto no ambiente e na biodiversidade. Assim, considerando a capacidade

Desafios e demandas para o agronegócio: o engenheiro agrônomo do futuro

Qual seria o cenário político e econômico do Brasil se não tivéssemos a produção de alimentos que temos hoje? Antonio Roque Dechen* A agricultura e a agroindústria formam um dos segmentos mais complexos e dinâmicos da nossa economia.  A recente crise mundial e, principalmente a brasileira, evidenciam a importância do agronegócio em nossa sustentabilidade e estabilidade econômicas.  Este ano a produção de grãos deverá superar a marca de 200 milhões de toneladas, colocando o Brasil no seleto grupo de países que produzem uma tonelada de grãos por habitante (segundo dados da Agrocunsult/2015). Acostumamo-nos tão rapidamente com o sucesso do agronegócio brasileiro que temos a impressão de que sempre foi assim. Não nos lembramos de como era a nossa agricultura nos anos 70, época em que 35% população era rural e 65% urbana.  Hoje a população rural é de 13% e a urbana 87%, e a produção de alimentos aumentou consideravelmente.  A que devemos o desenvolvimento, sucesso e eficiência da agricultura brasileira? O ensino e pesquisa agrícola no Brasil tiveram inicio com a inauguração da Escola Imperial de Agronomia da Bahia em 1877 e da Estação Agronômica de Campinas em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, instituições essas pioneiras em ensino e pesquisa e ainda jovens, 138 e 128 anos, respectivamente. A revolução verde de Norman Borlaug nos anos 70, com o desenvolvimento de novas variedades de milho, com respostas a adubação, mudou o cenário mundial de produção de alimentos.  No Brasil, a conquista dos cerrados, uma das últimas fronteiras agrícolas, graças à transferência dos resultados de pesquisa, estabeleceu com sucesso a integração lavoura e pecuária.  A adoção do sistema de plantio direto no Paraná mudou os paradigmas da agricultura brasileira.  Hoje a agroenergia e os avanços da biotecnologia estão transformando e ampliando as oportunidades na agricultura e na bioindústria. O Brasil, pela sua extensão territorial, disponibilidade de água, biomas diversos e condições climáticas favoráveis para a produção agrícola com grande diversidade de culturas, tem merecido atenção internacional, tornando-se referência na geopolítica da produção agrícola mundial. Hoje o mundo exige a produção agrícola com sustentabilidade e rastreabilidade associadas à adequação ambiental. Portanto, para o Brasil se firmar nas posições de lideranças da produção agrícola será necessário também que seja líder na adoção de ações de sustentabilidade. A Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG), em recente congresso, adotou o tema “Sustentar é integrar”.  Na abertura do evento, o presidente da Embrapa, Maurício Antonio Lopes, fez uma brilhante abordagem do “Futuro sob a lente do agronegócio”.  A sustentabilidade será uma ação imperativa, sem ela não teremos mercados. Como as nossas universidades, escolas e instituições de pesquisas estão se posicionando para a expressiva demanda de profissionais capacitados para este cenário futuro de alta tecnologia que nos espera? Estamos preparados ou nos preparando para os trabalhos em rede de pesquisas e inovação, para a integração das cadeias produtivas, preparados para um sistema agroindustrial moderno, atentos às mudanças de comportamento e de hábitos da população urbana, preparados para a agregação de valor nos produtos agrícolas? Nossos governantes estão atentos ou são sensíveis a essa novas demandas: apoiam e estimulam os setores de ensino e pesquisa agrícolas? A economia brasileira só conseguiu destaque internacional graças ao sucesso de nossa agricultura, sucesso alcançado graças às boas práticas de base tecnológica e adoção de manejo sustentável de boas práticas agrícolas.  Cabe, portanto, às instituições de ensino e pesquisa, a missão de continuar formando técnicos qualificados, e desenvolver novas tecnologias para cumprirem a nobre missão de semeá-las e garantir a sustentabilidade nos campos deste imenso Brasil. Estamos em uma era de mudanças aceleradas, são enormes os impactos da revolução tecnológica.  O Google, por exemplo, já lançou o carro autônomo. Mas não conseguiremos a autonomia de comida: os drones não trarão automaticamente alimentos do campo para a mesa sem o labor diário do agricultor e sem a participação dos profissionais de ciências agrárias no acompanhamento contínuo da produção agrícola e desenvolvimento de novas tecnologias. Neste mês de outubro quando comemoramos o Dia Nacional do Engenheiro Agrônomo, nossos cumprimentos aos Engenheiros Agrônomos pela nobre missão de produzir alimentos e construir a paz.  Norman Borlaug, Nobel da Paz em 1970, dizia: “Não se constrói a paz em estômagos vazios”. Sobre o CCAS O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/ . Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel Antonio Roque Dechen é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, presidente da Fundação Agrisus e Membro do Conselho do Agronegócio (COSAG-FIESP).  Fonte: CCAS / alfapress Curadoria Boi a Pasto