julho 27, 2024

Churrasco de carne boa e consciência leve

“O Brasil é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada!”

Amado de Oliveira*

Frase acima é de autoria de Fernando Penteado Cardoso, Engenheiro Agrônomo e, Presidente da Fundação Agricultura Sustentável – Agrisus. Esse agrônomo, verdadeiramente sabe das coisas e, tem razão. Sabe-se hoje, que com pastagens bem manejadas e com aplicação do conhecimento disponível, nossa pecuária pode produzir proteína de boa qualidade, gerar emprego e renda e ainda mitigar a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE).

Recentemente Ciro Antônio Rosalem, membro do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor da Faculdade de Ciências Agrícolas da UNESP/Botucatu, publicou um artigo na Revista BeefWorld, Edição de nº 12, que contribui para desmistificar o tema.

Em seu artigo, esclarece por exemplo que no Brasil é comum se multiplicar uma das estimativas disponíveis de emissão de metano pelogado bovinopor mais de 200 milhões de cabeças e, pronto, imagina-se estar calculado o total da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Segundo o professor este é o primeiro engano (engano?), pois estes mais de 200 milhões de bois, vacas, touros, bezerros, novilhas não emitem a mesma quantidade de gás, já que cada categoria de animais consome quantidades e qualidades diferentes, portanto, sem fazer nenhuma conta já se pode afirmar que a emissão da pecuária é menor do que se alardeia.

Defende o professor que o carbono que o boi emite por flatulência e eructação vem do alimento consumido, no caso do Brasil, normalmente de capim. Este alimento é transformado em carne, leite e dejetos que retornam ao chão e outra parte para a atmosfera.

Portanto para o boi crescer e a vaca produzir leite e metano, é necessário que se alimentem de carbono, ou seja, de capim, ou ainda, se confinados de milho ou soja. Este carbono é consumido na forma destes alimentos, ou seja, estes animais não fabricaram nada, apenas devolveram a atmosfera o que nela estava.

Outra afirmação interessante do professor em seu artigo, é que se recuperar os 24 milhões de hectares de pastagens degradadas no bioma cerrado, com melhoria de manejo, resultaria em sequestro de 36 milhões de toneladas de carbono por ano, quantidade três vezes maior que os 11,4 milhões que debitam como emissão do rebanho brasileiro.

Aponta ainda o artigo que as pastagens acumulam carbono o que, geralmente não é considerado e ainda que, o simples fato de se adubar as pastagens, melhorando o nível de proteína, pode diminuir em cerca de 15% a quantidade de metano emitida, por quilo de matéria seca ingerida.

Até mesmo na questão de pastagens degradadas, a conclusão do professor é óbvia, pois apesar do capim crescer menos nestas condições, portanto, fixar menos carbono, o boi também só emite o que comeu, o que implica em afirmar que pode não haver ganho de carbono no solo, mas não dá para ter emissão liquida.

A íntegra do artigo do professor Ciro Antônio Rosalem está no endereço: http://www.beefworld.com.br/noticia/o-boi-mocinho-nao-bandido/. Sugiro o acesso e leitura a todos os interessados. Este convite é extensivo àqueles que enchem a boca para acusar o boi de patinho feio, quando se trata da emissão de gases de efeito estufa, bem como, àqueles que gostam de degustar número elaborados, de toda ordem, para debitar ao boi e a pecuária de corte uma fatura que não é sua.

Trazendo a frase de Fernando Penteado que afirma que o Brasil é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada, gostaria de indagar: o que é mitigado com a queima de combustíveis fósseis pelos milhões de veículos de todos os portes e finalidades?

E ainda, qual o tamanho da emissão de gases de efeito estufa dos lixões? Porque o Governo Federal prorrogou o prazo para as prefeituras adequarem seus lixões? Não sei o tamanho deste problema, mas como são debatidos com frequência pelas mídias, deve ser grande. 

Claro que as questões levantadas não são apenas provocações. Se tratam de buscar alertar aos leitores da necessidade de se avaliar e medir as emissões na produção de alimentos com a mesma régua de valores dos demais setores da economia. Mas, quanto ao nosso churrasco, vindo de carne de boa origem, não fará mal nem mesmo a sua consciência. Bom apetite e tenhamos todos um feliz ano novo!

*Amado de Oliveira Filho é economista, especialista em mercados de commoditieis agropecuárias, direito ambiental e desenvolvimento sustentável e consultor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

Fonte: Acrimat

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp