Por Marisa Rodrigues
Portal Boi a Pasto
Legenda: Mapa da Fome sinaliza países que enfrentam situação crônica de falta de alimento . Brasil retornou à lista em 2022. Foto: Getty Images – via BBC
Não dá pra falar de agro, clima e economia como se fossem assuntos separados. Não são. A fome, a seca, o desmatamento, o fogo e os extremos climáticos estão interligados — e nos atingem de forma brutal. O Brasil, gigante na produção de alimentos, convive com 33 milhões de pessoas passando fome. E, se nada mudar, esse número vai explodir. As previsões apontam para 880 milhões de pessoas famintas até 2030 no mundo. Estamos falhando. E rápido.
A agropecuária está no centro dessa discussão. Ou vira parte da solução global, ou seguirá sendo apontada como parte do problema. A COP30 será o nosso palco para mostrar quem somos e o que queremos ser.
E a pergunta é direta: o Brasil vai se apresentar como potência agroambiental — ou continuar sendo acusado de queimar floresta e exportar carne sem rastreio?
Os números falam alto. Enchentes no Sul, secas extremas na Amazônia, geadas fora de época, quebra de safras, alta nos preços dos alimentos. Tudo isso tem nome: crise climática. E ela já afeta diretamente a produção, o bolso e o prato dos brasileiros.
Como reagir a isso?
Começa por dentro da porteira, sim. Mas não para aí.
Temos cerca de 80 milhões de hectares de pastagens degradadas. Recuperar essas áreas é mais do que uma solução técnica — é uma estratégia nacional. Aumentar produtividade sem desmatar, regenerar o solo, melhorar a eficiência da pecuária, integrar lavoura, pecuária e floresta. Tudo isso está na mesa. Só falta vontade política, financiamento, e compromisso com o futuro.
O ex-ministro Roberto Rodrigues já vem dizendo: sem segurança alimentar, o mundo será palco de tensões e conflitos. A fome é inflamável. E a produção sustentável de alimentos é a resposta mais urgente que podemos dar. O fundo de R$ 1 bilhão anunciado para financiar pesquisas da Embrapa é um bom começo — mas precisa sair do papel. E rápido.
Outro ponto crítico é a comunicação com a sociedade. O público urbano ainda se perde entre o que é sustentabilidade real e o que é “greenwashing”. O agro precisa falar com esse consumidor de forma transparente, mostrando com dados, rastreabilidade e ações concretas que é possível produzir sem destruir.
A COP30 será, sim, uma vitrine. Mas não adianta fazer maquiagem em cima da pobreza, do atraso e da destruição ambiental. O mundo está cansado de discurso bonito. Quer ver resultado.
A escolha está feita: ou o agro brasileiro lidera uma nova revolução produtiva com base em regeneração, inovação e inclusão — ou perderemos a chance de sermos reconhecidos como potência sustentável.
E aí, caro leitor, a decisão não é só dos governos. É de cada produtor, empresa, consumidor e cidadão que acredita que o Brasil pode — e deve — alimentar o mundo sem comprometer o amanhã.
Marisa Rodrigues (*) é jornalista, escritora e estrategista em comunicação com mais de 30 anos de atuação. Fundadora da agência Taxi Blue Comunicação, criou o portal Boi a Pasto em 2008 e a editora Prato de Cerejas em 2015. Especialista em nutrição animal, suplementação e pastagens, é defensora da recuperação das áreas degradadas como caminho viável e urgente para produzir mais alimentos com sustentabilidade.
