abril 19, 2025

Desafios Climáticos na Agropecuária: o papel do Brasil na COP30

Legenda: Insegurança alimentar entre os ribeirinhos, no sul do Amazonas (AM).

Por Marisa Rodrigues para o portal Boi a Pasto

Mudanças climáticas, desigualdade social, transição energética e fome. Esses são os quatro grandes desafios que impactam a produção agropecuária mundial e que, segundo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e professor emérito da FGV, precisam ser enfrentados de maneira estratégica para garantir o futuro do setor, questôes importantes que serão discutidas na COP30. Ele abordou essas questões no evento #CAMPOtalks, realizado em 19 de março de 2025, no anfiteatro da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), em São Paulo.

Organizado pelo Canal Rural, o evento reuniu lideranças do agronegócio e especialistas para discutir os desafios que impactam a produção agrícola e pecuária do Brasil, além de preparar o setor para a COP30, que será realizada em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. Entre os palestrantes estavam Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, e Daniel Carrara, diretor-geral do Senar, além de representantes da indústria de insumos e pesquisadores ligados ao setor.

Legenda: Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e professor emérito da FGV

A Segurança Alimentar e os Impactos no Agronegócio

Um dos temas centrais do evento foi a segurança alimentar, um desafio que ganha novas dimensões diante dos extremos climáticos e da pressão sobre os sistemas produtivos. As enchentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, e a seca severa na Amazônia são exemplos do impacto direto das mudanças climáticas sobre a produção agropecuária. Segundo Roberto Rodrigues, se o setor não for capaz de garantir estabilidade na oferta de alimentos, o risco de conflitos sociais e geopolíticos aumentará consideravelmente.

Os números são alarmantes: mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo, sendo 33 milhões apenas no Brasil. Projeções indicam que, nos próximos dez anos, esse número pode crescer em 100 milhões globalmente e em 5 milhões dentro do país. Essa tendência reforça a necessidade de ampliar a produção de alimentos de maneira sustentável.

Pecuária Sustentável e Recuperação de Pastagens

Para dar conta do desafio de alimentar uma população mundial que chegará a 8,5 bilhões de pessoas até 2030, Roberto Rodrigues defendeu um caminho viável: a recuperação de pastagens degradadas. Hoje, cerca de 70% das áreas de pastagem no Brasil, o equivalente a 80 milhões de hectares, apresentam algum nível de degradação. O manejo correto dessas áreas permitiria um salto na produtividade pecuária, sem necessidade de ampliar a conversão de novas áreas para pasto.

A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), práticas de pastejo rotacionado e a adoção de bioinsumos são ferramentas que podem garantir uma pecuária mais sustentável, produtiva e resiliente às mudanças climáticas. A aplicação dessas técnicas pode contribuir para a redução da pegada de carbono do setor, um dos temas centrais das discussões na COP30.

Produção e Mercado: O Impacto da Clima na Cadeia da Carne

Em 2024, o Brasil produziu 31,57 milhões de toneladas de carne (bovina, suína e de aves). Desse total, 2,8 milhões de toneladas de carne bovina foram exportadas, com a China se mantendo como o principal mercado comprador. No entanto, no mercado interno, a oferta reduzida e os desafios climáticos pressionaram os preços, que chegaram a subir 20%.

Legenda: Para Daniel Carrara, diretor-geral do Senar, “o Brasil precisa escolher como é que quer ser visto durante a COP30

As condições climáticas adversas impactam não apenas a pecuária, mas toda a cadeia produtiva. No Rio Grande do Sul, produtores perderam lavouras inteiras de soja e arroz. Em Minas Gerais, cafezais sofreram impactos severos devido a geadas e secas atípicas, enquanto na Espanha, as perdas na produção de azeitonas devido ao calor extremo reduziram a oferta de azeite de oliva no mercado internacional.

COP30: Oportunidade para o Brasil Mostrar Liderança

Segundo Daniel Carrara, o Brasil precisa definir como quer ser visto na COP30.

“Podemos destacar nossos avanços na redução de emissões e práticas sustentáveis, ou permitir que a imagem do Brasil seja associada a desafios como desmatamento, conflitos agrários e insegurança alimentar”, pontuou.

Para fortalecer a posição do país como protagonista na agenda ambiental, o setor agropecuário precisa demonstrar avanços concretos, como:

– Ampliação do uso de bioinsumos e técnicas regenerativas na agricultura e pecuária;

– Reforço na rastreabilidade da carne, garantindo cadeias produtivas livres de desmatamento ilegal;

– Incentivo à transição energética, ampliando o uso de biocombustíveis e fontes renováveis no setor agroindustrial.

Um passo importante nessa direção foi o anúncio da criação de um fundo de R$ 1 bilhão, liderado por Roberto Rodrigues, para financiar pesquisas da Embrapa voltadas à produção sustentável de alimentos.

O Papel da Sociedade e a Percepção da Sustentabilidade

Outro ponto abordado no evento foi a necessidade de engajar a sociedade na agenda climática. Segundo uma pesquisa realizada pela ESPM, grande parte dos consumidores ainda não compreende o conceito de sustentabilidade e não sabe diferenciar ações genuínas de greenwashing (quando empresas utilizam a sustentabilidade apenas como estratégia de marketing, sem mudanças reais na produção).

Para Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, um dos grandes desafios do setor agropecuário é aproximar a produção rural do consumidor urbano, demonstrando que o agronegócio brasileiro pode ser parte da solução para os desafios climáticos e de segurança alimentar.

Conclusão

A COP30 será um marco na agenda climática global e uma grande vitrine para o agronegócio brasileiro. No entanto, para que o país aproveite essa oportunidade, será essencial enfrentar desafios estruturais, como:

– Melhoria da infraestrutura de produção e escoamento;

– Investimentos em pesquisa e inovação para recuperação de pastagens;

– Adoção de práticas produtivas que garantam eficiência e preservação ambiental.

Com planejamento e ações concretas, o Brasil pode se posicionar como referência mundial em agropecuária sustentável e demonstrar que é possível produzir mais e melhor, sem comprometer os recursos naturais para as futuras gerações.

Fonte: Canal Rural

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