novembro 21, 2024

O melhoramento genético do futuro já começou

Seminário da ANCP mostra sintonia com a pauta internacional e não se omite na hora de provocar os pecuaristas pelas mudanças inevitáveis

Em um futuro do melhoramento animal que começou, ontem, não há espaço para dar as costas a dois sustentáculos: sustentabilidade e qualidade do produto final carne. Essa foi a tônica das palestras e debates do “26º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores”, realizado em 22 de julho, em Ribeirão Preto (SP).

O tema central do encontro, “Genética de excelência para a lucratividade”, olhou a conjuntura da pecuária seletiva sob aspectos técnicos e mercadológicos.

Carlos Viacava, pecuarista e vice-presidente da entidade organizadora, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), parte do princípio que “toda a evolução genética que se promover deve estar alinhada com as necessidades do meio ambiente”.

Ele se refere a uma demanda dos consumidores mais exigentes, dentro e fora do País, que querem um produto com baixa emissão de gases efeito estufa (GEE), considerando o bem-estar animal, da melhor qualidade e com custo acessível, principalmente no mercado interno.

“Para isso, a tecnologia deve nos ajudar a produzir mais com menos recursos e em um ciclo menor”, pondera.

A coordenadora da Área Técnico Comercial da ANCP, Lilian Roberta Matimoto Nakabashi, médica veterinária, sustentabilidade é um tema internacional e o Brasil precisa ocupar um papel de protagonismo nesse cenário, com prática certeira e investimentos.

A coordenadora da Área Técnico Comercial da ANCP, Lilian Nakabashi (Foto: Arquivo pessoal)

“Da nossa parte, a ANCP, por exemplo, nesse momento reformula suas ferramentas de avaliação (certificações) para meio ambiente”, reforça. Nakabashi entende que este “é um diálogo sério e que a pecuária de vanguarda precisa provocar entre seus pares”.

Um dos pontos é buscar “unidade para se construir voz ativa diante dos fatos verdadeiros sobre a produção bovina de corte”; ou seja, dar nome aos bois de quem trabalha bem ou mal à sociedade.

Para Viacava, essa visão já prevalece, pois “há inúmeros trabalhos e experiências de campo reduzindo ainda mais o ciclo pecuário, promovendo precocidade e o consequente aumento da taxa de desfrute”.

“Dessa forma, emite-se menos GEE e até torna a fixação de carbono positiva. Então, o futuro do melhoramento está atrelado à preservação ambiental”, ratifica.

Carne de melhor qualidade – Outra diretriz importante é a qualidade da carne que produzimos, destaca o criador.

Além das DEPs existentes, outras ligadas a essa característica devem surgir como, por exemplo, a da maciez, do marmoreio, entre outras, somando-se às existentes como área de olho de lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS), mensuradas a partir de ultrassonografia de carcaça.

Muitas palestras e questionamentos trouxeram à baila a carne que produzimos e a que queremos produzir. O boi-China é o limite ou a atenção aos pequenos nichos de mercado é tudo? Como a pecuária seletiva, com a genômica, pode ajudar a responder às demandas por qualidade.

Nesse sentido, Viacava enfatiza que o avanço na genômica está permitindo saltos importantes na identificação de animais superiores para carne de qualidade, para o Nelore e em uma frente multirracial; isto é, no apontamento de quais são os melhores bovinos entre as várias raças que disputam o mercado.

Pelo lado de desempenho zootécnico, novas também são esperadas, como para o caráter mocho (importante no manejo e na redução de estresses na fazenda), para facilidade de parto e para lucratividade, procurando traduzir o ponto ideal para abate de um bovino terminado em confinamento.

Nakabashi ainda salienta as novas Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs) integrantes de índices bioeconômicos como MGTe de cria, recria, confinamento e F1, todas para auxiliar o produtor em diferentes sistemas de produção, na hora de escolher machos e fêmeas mais produtivos para deixarem suas genéticas no rebanho.

Mais de 250 participantes – Após três anos de interrupção por conta da pandemia, o tradicional evento retornou no formato presencial reunindo criadores, pesquisadores, técnicos agropecuários, empresas da área de genética, professores e estudantes de ciências agrárias.

A palestra de abertura do encontro foi apresentada pelo professor e pesquisador da Universidade de Wisconsin, em Madison (EUA), Daniel Gianola, que falou sobre a história das avaliações genéticas, abordando sua evolução desde Henderson até a Avaliação Multirracial.

Na sequência, dentro do tema do “Painel 1 – O mercado pecuário e a sustentabilidade”, o pecuarista e ex-secretário de Produção e Comércio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Pedro de Camargo Neto, apresentou palestra sobre “Desafios Regulatórios da Pecuária: Ontem e Hoje”.

Ainda no Painel 1, “Incrementos na produtividade pecuária de corte com o uso de protocolos de Baixo Carbono”, foram trazidos pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Roberto Giolo de Almeida, que ressaltou a forte pressão internacional sofrida pela pecuária de corte brasileira por causa da pegada de carbono.

Abrindo o “Painel 2 – Seleção de zebuínos para qualidade da carne”, o gerente de Treinamento e Projetos Corte da ABS Pecplan, Cristiano Ribeiro, falou sobre “Mudança da demanda do mercado de genética da última década”, abordando a evolução das tecnologias e práticas que constituem o melhoramento genético voltado para rebanhos de corte.

“Seleção genética para melhoria da qualidade da carne brasileira” foi o tema da segunda palestra do Painel 2, apresentada pelo pesquisador da Embrapa Cerrados e 2º vice-presidente da ANCP, Cláudio Magnabosco, que traçou um panorama da pecuária de corte do Brasil situando os principais players no mercado, tanto produtores quanto exportadores.

Da esq. p/ dir.: Claudio Magnabosco, Carlos Viacava, Raysildo Lôbo e Fernando Baldi (Foto: Divulgação)

Magnabosco abordou os principais gargalos da pecuária de corte, como a produção de carne de qualidade em uma pecuária pautada majoritariamente a pasto, sistemas de integração lavoura-pecuária, boi de ciclo curto, entre outros. Também apresentou os métodos de avaliação e os progressos já obtidos, seleção genômica, além de sugerir inclusão da maciez da carne e outras características relacionadas à qualidade da carne como critérios de seleção.

Na última palestra do evento, o gerente Global de Tecnologia de Bovinos de Corte da Cargill, Pedro Veiga, falou sobre “Quais são os desafios para a produção de carne de qualidade”, abordando os vários processos, desde o momento em que a vaca emprenha até a chegada da carne ao prato do consumidor”.

O seminário ainda contou com dois momentos para discussão em plenário ao final dos dois painéis. Em mesa redonda, palestrantes e os moderadores Roberto Zancaner, pecuarista, e Angélica Pereira, professora da USP Pirassununga, coordenaram as perguntas feitas pelos participantes.

Homenagens – Durante a programação, a entidade também prestou homenagens a pessoas que se destacaram na pesquisa e ensino em melhoramento genético. O professor Daniel Gianola recebeu a homenagem de Mérito Pesquisador Honorário ANCP. O também professor, Joanir Pereira Eler, professor da USP que se aposenta este ano, recebeu o Mérito Reconhecimento ANCP. Já o pesquisador Fernando Baldi recebeu o Mérito Pesquisador ANCP.

Além disso, os proprietários dos touros aprovados na Reprodução Programada Genômica de 2019 também foram homenageados, recebendo o Certificado de Aprovados na Reprodução Programada de seus animais. Foram eles: Júlio Roberto M. Bernardes, Marco Aurélio O. Fernandes e José Roberto Hofig Ramos.

Para o presidente da associação, professor Raysildo Lôbo, foi um encontro muito importante em um ambiente alegre, que reuniu muitos consultores, criadores, professores e outros profissionais.

Raysildo Lôbo, médico veterinário, professor e presidente da ANCP

“Todas as palestras, com temas relacionados às questões de sustentabilidade e qualidade da carne, trouxeram mais brilho e conhecimento ao nosso encontro”, finalizou.

No encerramento do evento, a ANCP fez o lançamento oficial do Sumário de Touros das raças Nelore, Guzerá, Brahman e Tabapuã – Edição Julho/2022.

Fonte: Portal DBO

Curadoria: Boi a Pasto

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