Ao dividirmos o sistema de produção da bovinocultura de corte em cria, recria e engorda, identificamos, de forma geral, a recria como a fase de maior duração, mesmo nos sistemas mais tecnificados.
No modelo conhecido como Boi 777, ocorre a produção de 21@ em 24 meses, tendo a fase de cria duração de 8 meses, com produção de 7@, a recria, com duração de 12 meses, produzindo mais 7@ e, por fim, a fase de engorda, com duração em torno de 4 meses e produção de mais 7@.
Dessa maneira, a fase de recria enfrenta, pelo menos, uma fase de seca e uma fase de águas, necessitando de estratégias de suplementação de acordo com a época do ano e com os objetivos para cada fase.
No caso dos meses mais secos, a produção requer bastante atenção por parte dos pecuaristas, uma vez que os pastos, geralmente, possuem menor qualidade e disponibilidade e, consequentemente, acarretam ganhos reduzidos ou até mesmo perdas de peso corporal.
Sendo assim, a estratégia de suplementação a ser adotada logo após a desmama será determinante para a terminação ou não desse animal na próxima seca.
Como definir uma estratégia de suplementação para o período da seca
A definição sobre qual estratégia adotar dependerá da disponibilidade e qualidade de forragem, olhando sempre para o binômio pasto + suplemento, encarando como a dieta do animal, e não somente considerar o suplemento que está sendo ofertado, sendo a qualidade do pasto fator determinante do sucesso ou fracasso da estratégia.
A suplementação feita apenas por suplemento mineral não extrai o melhor desempenho do animal, além de não pagar os custos do pasto. Seguindo essa estratégia, teremos animais sendo produzidos com 30, 36, 42 meses ou mais, passando por uma recria longa, caracterizada por ganho de peso nas águas e perda de peso na seca.
Como fonte proteica, pode ser fornecida proteína de origem vegetal (farelos) e/ou substrato, para os microrganismos do rúmen produzirem proteína microbiana, desde que estejam disponíveis os ingredientes básicos como nitrogênio e energia.
As estratégias de suplementação mais estudadas e adotadas para produção de carne nos sistemas mais tecnificados são:
- proteico de baixo consumo (1 g/kg de peso corporal);
- proteico energético de médio consumo (3 g/kg de peso corporal).
Outro ponto de atenção na definição da estratégia são as metas de produção e os objetivos das próximas fases, uma vez que a composição do ganho é afetada pelo consumo de alimentos e pela taxa de ganho do animal (Ensminger, et al., 1990).
Quando o consumo é limitado, a taxa de ganho é deprimida, sendo a estrutura desse ganho composta principalmente por proteína. Com o aumento da ingestão de alimentos, o ganho de peso diário aumenta, entretanto, a proporção de proteína na composição desse ganho diminui (Paulino, et al., 2007). Assim, o padrão nutricional no início da recria pode afetar o desempenho no período das águas subsequente, positiva ou negativamente.
A suplementação na seca e desempenho produtivo dos animais na recria
O estudo de Roth (2012) teve como objetivo avaliar o efeito da suplementação na primeira seca dos animais, logo após a desmama, sobre o desempenho nas épocas subsequentes.
No estudo, foram utilizadas duas estratégias de suplementação:
Período de seca (Fase I):
- suplementação mineral proteica com consumo de 1g/kg de peso corporal;
- suplementação mineral proteico-energética com consumo de 3 g/kg de peso corporal.
Período das águas (Fase II):
Os animais que receberam 1g/kg de peso corporal na seca foram redistribuídos em duas estratégias de suplementação de verão:
- a suplementação mineral com 100 g/animal/dia;
- suplemento mineral proteico com consumo de 1 g/kg de peso corporal.
Os animais que receberam 3 g/kg de peso corporal na seca foram divididos em duas estratégias de suplementação de verão:
- suplementação mineral com 100 g/animal/dia;
- suplementação mineral proteico com consumo de 1 g/kg de peso corporal.
A autora observou a interação da suplementação na primeira seca (proteinado 0,1% ou proteico-energético 0,3% ofertados na Fase I) com o desempenho dos animais no verão subsequente (Fase II).
Foi constatado que animais que receberam sal mineral na Fase II, onde os animais que haviam recebido suplementação proteico-energético receberam sal mineral, tiveram um GMD inferior em 119 gramas quando comparados aos animais que receberam o mesmo suplemento mineral, mas vinham anteriormente apenas de uma suplementação proteica.
Entretanto, quando os animais receberam sal proteinado na Fase II, não foi observado efeito da suplementação anterior (Fase I).
A autora comenta que os animais que receberam 0,3% do peso vivo em suplemento na seca alcançaram um padrão nutricional mais elevado, entretanto, não foi mantido no período subsequente, quando esses animais receberam apenas sal mineral, mesmo considerando a superioridade em termos de qualidade do capim na Fase II.
Já os animais que continuaram nas águas subsequentes, recebendo proteinado em 0,1% do peso vivo, tiveram a manutenção do padrão nutricional. Assim, o planejamento nutricional dos animais se faz muito importante e temos que não apenas avaliar a estratégia para o momento, mas sim pensar e planejar para todo o ciclo de produção do animal.
Esses dados, de maneira prática, nos mostram que não é viável diminuir a suplementação em mais de um nível, ou seja, se ofertamos proteico-energético em 0,3% do peso vivo na seca, temos que ofertar ao menos 0,1% do peso vivo nas águas subsequentes. Se ofertamos proteinado 0,1% na seca, podemos retornar para sal mineral aditivado nas águas subsequentes ou manter os animais na suplementação proteica.
Uso de aditivos durante a suplementação no pastejo
Não podemos deixar de destacar o papel-chave dos aditivos melhoradores de desempenho no aumento do ganho de peso dos animais durante a suplementação em pastejo.
Segundo Neto (2014), os aditivos têm sido utilizados com o objetivo de manipular a fermentação ruminal, de forma a aumentar a eficiência na digestão e absorção dos nutrientes.
Os aditivos atuam contra bactérias gram-positivas, aumentando a produção de propionato e resultando em mais energia para o animal, e atuam na modulação da quebra de proteína no rúmen, reduzindo a degradação desta no rúmen. Com isso, maior quantidade de proteína alcança o intestino delgado (proteína metabolizável), otimizando o aproveitamento da proteína pelo animal.
Diversos estudos mostram que suplementos aditivados com melhoradores de desempenho possibilitam ganhos adicionais de peso corporal em relação ao uso de suplementos não aditivados, como podemos observar nos dados de literatura, que evidenciaram que a Virginiamicina foi capaz de gerar desempenho adicional nos mais diferentes tipos de suplementos para animais em pastagens, desde sal mineral até suplementações da ordem de 0,8% do peso corporal, com ganho médio adicional de 136 g/cabeça/dia.
Como definir o aditivo ideal para a estratégia de suplementação
Existem, no mercado, diferentes aditivos disponíveis e, para a escolha de utilização, se faz necessário compreender o modo de ação de cada um, levando em consideração as evidências encontradas na literatura, além de definir qual tipo de suplementação será utilizada, pois, dependendo do nível da suplementação, os ionóforos podem restringir o consumo, diferente dos aditivos classificados como não ionóforos. Aditivos ionóforos não são tóxicos para equinos, um ponto que deve ser visto com atenção, pois sabemos que em algumas propriedades é muito comum que esses animais dividam o mesmo espaço com os bovinos
Dessa maneira, o correto é avaliar as condições e escolher o melhor aditivo que se encaixe em cada realidade.
Como consideração final, frisamos que a fase de recria possui um impacto muito grande no resultado técnico-econômico do ciclo de produção. Assim, a utilização da suplementação para bovinos, de forma estratégica e planejada na época da seca, somada ao uso de aditivos, irá possibilitar maximizar a produtividade e a lucratividade da recria e, consequentemente, de todo o ciclo de produção.
Fonte: Embrapa Bovinos de Corte
Curadoria: Marisa Rodrigues para o Portal Boi a Pasto