Nos primeiros três dias de setembro, o Brasil registrou 12.252 focos de queimadas, 62,8% a mais do que o observado em igual intervalo de agosto (4.555), conforme o Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Pará lidera o número de ocorrências, com 3.104, focos. Não distante, Mato Grosso aparece com 2.909 registros. Na sequência estão Amazonas (1.070), Minas Gerais (964), Tocantins (693), Maranhão (679), Acre (575), Rondônia (556), Piauí (358) e São Paulo (290), fechando o ranking dos dez estados com mais registros na parcial desta semana.
No ano, número de queimadas no Brasil passa de 139 mil; MT lidera
No acumulado de 2024, 139.303 focos de queimadas foram registrados em todo território nacional, um salto de 50,5% em relação a igual recorte de 2023 (68.853). Entre os dez estados com maior número registrado pelo BDQueimadas, Mato Grosso lidera com 28.796 focos. Seguido por Pará (22.076), Amazonas (16.305), Mato Grosso do Sul (10.286), Tocantins (9.162), Maranhão (8.300), Rondônia (7.161), Minas Gerais (6.191), São Paulo (5.700) e Roraima (4.672).
Faesp solicita socorro a vítimas de incêndios
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) enviou ao governador Tarcísio de Freitas um ofício solicitando medidas adicionais de apoio aos produtores rurais afetados pelos incêndios recentes no estado. Conforme o documento, a Faesp reconhece as ações já tomadas pelo governo estadual, como a criação de um gabinete de crise e a alocação de recursos financeiros, mas enfatiza que a situação atual exige medidas mais abrangentes.
“O governador sempre foi muito sensível ao setor agropecuário e temos certeza de que será ágil na tomada de decisões para socorrer os produtores. Agora é reconstruir tudo e trabalhar muito para que os impactos que certamente teremos na economia sejam minimizados e as famílias possam continuar a trabalhar para a segurança alimentar”, diz em nota o presidente da Faesp, Tirso Meirelles. A Federação ainda destaca o impacto dos incêndios, que já causaram prejuízos estimados em R$ 1 bilhão e atingiram mais de 8 mil propriedades rurais em 317 municípios.
Segundo Meirelles, algumas cadeias produtivas foram severamente afetadas pelos incêndios e milhares de famílias, que sobrevivem do que cultivam, estão sem conseguir enxergar um futuro no campo. Com a perda da plantação e do gado, além de financiamentos a pagar, temem não ter condição de continuar no campo.
As medidas solicitadas pela Faesp são:
Ampliação do estado de emergência:
A Faesp pede que o estado de emergência seja expandido para além dos 45 municípios atualmente incluídos, considerando a extensão dos danos causados pelos incêndios.
Suspensão de sanções:
A Federação solicita a suspensão de multas e sanções aplicadas por órgãos fiscalizadores aos produtores rurais cujas áreas foram atingidas pelos incêndios, visando aliviar o ônus financeiro sobre os agricultores.
Diálogo e cooperação:
A Faesp propõe a criação de um espaço de diálogo entre o governo e o setor agropecuário para desenvolver soluções conjuntas para a recuperação das perdas e a implementação de medidas preventivas para lidar com a nova realidade climática. O presidente da Faesp ressalta que essas medidas são essenciais para garantir que todos os produtores rurais afetados recebam o apoio necessário para se recuperar e retomar suas atividades, contribuindo para a estabilidade econômica e a proteção ambiental do estado de São Paulo. “A Faesp reforça seu compromisso em colaborar com o governo na busca por soluções eficazes para enfrentar essa crise e construir um futuro mais resiliente para o setor agropecuário paulista”, concluiu Tirso Meirelles.
Questionado pelo Agro Estadão sobre as demandas da Faesp, o governo de SP, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, informou que foram disponibilizados R$ 110 milhões para os produtores paulistas afetados pelos incêndios. Destes, R$ 100 milhões em seguro rural para a mitigação dos efeitos econômicos e financeiros do extremo climático, e R$ 10 milhões para suporte aos agricultores por meio de custeio emergencial para despesas de manutenção e recuperação da produção.
Os recursos são via Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP) e para ter acesso ao crédito o produtor deve procurar a Casa de Agricultura do seu município. Referente às sanções, o governo paulista afirma que “a Secretaria de Agricultura e Abastecimento disponibiliza um termo circunstanciado que, entre outras funções, tem o objetivo de impedir sanções indevidas em propriedades comprovadamente vitimadas por incêndios florestais, com laudo dos prejuízos atestado pelo corpo técnico da pasta.”
Com relação ao decreto estadual que define o estado de emergência, o governo de SP informa que “o documento é expansível a todos os municípios do estado. As cidades podem entrar em contato com a Defesa Civil do Estado e realizar a adesão, que será analisada tecnicamente e homologados pelo governo estadual.”
SP amplia ações de enfrentamento aos incêndios
Nesta terça-feira, 3, o governo de São Paulo anunciou que vai ampliar o enfrentamento às queimadas em parceria com a iniciativa privada. A parceria foi selada em reunião no Palácio dos Bandeirantes, com a participação do governador Tarcísio de Freitas e de secretários. “Entidades de setores produtores de açúcar, energia elétrica, gás, água e concessionárias de rodovias disponibilizaram suas estruturas de monitoramento e combate ao fogo ao estado”, informa o governo paulista.
“A gente aumenta nosso potencial de trabalho. Nosso objetivo é integrar o setor público e o privado, entender as necessidades de cada área e unir a força do estado com a força da iniciativa privada para trazer boas políticas públicas que ajudem a população”, comentou em nota o coordenador da Defesa Civil de São Paulo, coronel Henguel Ricardo Pereira.
A cooperação será intensificada nos próximos dias com a integração das empresas no Plano de Contingência montado na operação SP Sem Fogo. “Vamos fazer isso de forma mais organizada, integrando as informações e os meios do poder público e da iniciativa privada,” destacou a secretária do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende.
Entre as parcerias o governo estadual destaca, por exemplo, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única) que conta com 10 mil brigadistas e 2 mil caminhões pipa disponíveis para combater incêndios nos canaviais. Já a Florestar, especializada no setor de inteligência em segurança patrimonial, ofereceu um trabalho em conjunto com o governo para o monitoramento de Unidades de Conservação afetadas pelas chamas.
Presente na reunião, o secretário de Agricultura e Abastecimento de SP, Guilherme Piai, destacou a estrutura da secretaria estadual que conta com diversas unidades de extensão técnicas em diversos municípios paulistas. “Colocamos nossa secretaria à disposição. Essa coordenação deve ser muito bem mapeada, como vamos fazer esse trabalho de forma organizada. Temos muita capilaridade com as Casas de Agricultura”, disse o secretário.
Conforme dados meteorológicos, por enquanto, uma massa de ar seco deve impedir a formação de chuvas, favorecer temperaturas elevadas, reduzir a umidade do solo e aumentar o risco de fogo. As altas temperaturas devem persistir, ao menos, até o dia 19 de setembro. “A partir de meados de setembro, devemos ver os primeiros sinais de chuva. As precipitações não devem ser volumosas, mas serão os primeiros sinais, o que deve diminuir esse momento crítico”, explica Desirée Brandt.
Defesa Civil de SP estende alerta de risco
A Defesa Civil de São Paulo, por meio Centro de Gerenciamento de Emergências, renovou até a próxima sexta-feira, 6, o alerta de risco elevado para incêndios para as regiões norte, noroeste e oeste do estado. Conforme comunicado do governo paulista, o Mapa de Risco, que é uma das ferramentas tecnológicas que auxiliam a Defesa Civil no monitoramento de queimadas em vegetação durante o período da estiagem, indica “grau máximo de risco nas respectivas faixas do território paulista”.
Nos próximos dias, as regiões norte, noroeste e oeste do estado continuarão com o tempo seco e sem condições para precipitações. As temperaturas seguem em elevação, com a umidade relativa do ar caindo, atingindo níveis mais críticos, ou seja, valores abaixo dos 20%, deixando a sensação de tempo quente e abafado.
No interior do estado as temperaturas podem chegar aos 39ºC em Presidente Prudente, Araçatuba, Tupã, Birigui e Martinópolis, no período mais quente do dia. Destaque para a umidade relativa do ar, que deve atingir níveis críticos variando entre 13% e 15%, segundo a agência de notícias do governo de SP.
Seca histórica e risco de extinção do Bioma Pantanal
Legenda: A Ministra do Meio-Ambiente Marina Silva disse em entrevistas, nessa semana, que “a associação de altas temperaturas, queimadas e desmatamentos pode resultar na extinção do Pantanal em até 100 anos”.
Nesta quarta-feira, em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, ressaltou preocupação com o período de de seca que o Brasil enfrenta e apontou que apenas dois estados da federação não foram afetados por escassez hídrica severa, sendo que nove estão em situação crítica.
Conforme dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 2024 já registra a seca de maior extensão e intensidade no país dos últimos 70 anos. Ainda de acordo com a unidade de pesquisa, 58% de todo o território nacional está com alguma condição de seca.
Convidada a prestar esclarecimentos sobre as ações do governo federal, diante de uma escalada de queimadas e incêndios florestais, Marina Silva negou que a pasta sofra cortes governamentais para ações como o combate aos incêndios que assolam o Brasil e afirmou que são necessárias políticas públicas e ações conjuntas com o setor privado. A ministra também disse que se o atual governo não tivesse reduzido o desmatamento no ano passado e em 2024, a situação estaria pior.
Segundo a ministra Marina Silva, a associação de altas temperaturas, queimadas e desmatamentos pode resultar na extinção do Pantanal em até 100 anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o fim deste século. Isso tem um nome: baixa precipitação, alto processo de evapotranspiração, não conseguindo alcançar a cota de cheia, nem dos rios nem da planície alagada. E, portanto, a cada ano se vai perdendo cobertura vegetal. Seja em função de desmatamento ou de queimadas. Você prejudica toda a bacia e assim, segundo eles, até o final do século nós poderemos perder a maior planície alagada do planeta”, disse a ministra do Meio Ambiente durante audiência pública.
Fonte: Agro Estadão
Curadoria: redação do portal Boi a Pasto