julho 27, 2024

Apesar dos desafios, pecuária tem oportunidades para investir em 2024

Entrevista: Nabih Amin, vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB).

O ano de 2023 se revelou como um dos períodos mais desafiadores para a pecuária de corte brasileira, conforme avaliação de especialistas do setor. O desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno resultou em uma acentuada queda nos preços da arroba do boi. Além disso, um caso atípico de mal da vaca louca no estado do Pará provocou um embargo de 29 dias nas exportações de carne para a China, principal comprador da proteína brasileira. Adicionalmente, os prejuízos causados pelas elevadas temperaturas em diversas regiões do país, incluindo o Espírito Santo, ampliaram os desafios enfrentados pelos pecuaristas. Apesar desse cenário adverso, os pecuaristas enxergam oportunidades para investir em 2024. Para entender melhor este cenário, conversamos com Nabih Amin, vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB).

Desafios e oportunidades para o mercado de bovinos em 2024

Nabih Amin, vice-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), relata as complexidades vivenciadas pelo setor pecuário de corte brasileiro em 2023, enfatizando a acentuada redução de cerca de 17% nas exportações de carne bovina para vários países.

Além disso, destaca a diminuição na demanda interna e seu impacto negativo no preço da arroba bovina, que experimentou uma queda drástica em todos os ciclos pecuários, desde a criação até a engorda.

Agro Business: Sabemos que 2023 não foi um ano fácil para a pecuária de corte brasileira, com desequilíbrio na oferta e demanda no mercado interno, diminuição nos preços da arroba do boi, prejuízos com efeitos climáticos, entre outros. Nabih, em forma de retrospectiva, quais foram os principais acontecimentos em 2023 no setor?

NA: A situação atingiu um ponto crítico, levando a arroba a um patamar inferior a 200 reais, em contraste com os 330 a 340 reais registrados no ano anterior. Esse declínio teve repercussões prejudiciais, limitando a capacidade de reinvestir no setor, afetando a realização de melhorias em pastagens, cercas, tecnologia e equipamentos. No final de 2023, a estabilidade financeira do setor começou a se firmar, mas a expectativa para 2024 foi desafiada pelo prolongamento da seca, causado pelo El Niño, especialmente na Região Sudeste do país.

Após meses de escassez de chuvas, a retomada das precipitações em dezembro aliviou parte das preocupações, mas os impactos persistentes da seca continuam a afetar lençóis d’água e reservatórios. A necessidade contínua de chuvas é evidente, com a arroba em São Paulo atualmente rondando os 250 reais. Muitos pecuaristas ficaram sem água suficiente para uma alimentação adequada dos animais e outros precisaram sacrificar alguns animais nesse período que normalmente é de chuva.

Agro Business: Como você avalia o cenário para 2024, considerando as incertezas presentes?

NA: Destaco uma perspectiva positiva com o retorno da China como grande compradora de carne bovina, enviando especialistas para avaliar plantas frigoríficas e liberando novas unidades para importação.

Esse movimento sugere uma retomada em um patamar mais elevado de envios dos nossos produtos, o que, por sua vez, implica que frigoríficos aumentaram o abate de animais, resultando em uma maior demanda no mercado internacional e, consequentemente, um aumento na faixa de valor da arroba bovina.

Olhando para as perspectivas de 2024, nós temos preocupações sobre o clima e se teremos condições adequadas para nos tranquilizar. No entanto, observamos com otimismo o retorno da China ao mercado em uma escala mais ampla, liberando outras unidades frigoríficas para exportação de nossa carne.

Existem fatores imprevisíveis, como bloqueios comerciais e questões climáticas, mas no segmento convencional, as perspectivas para 2024 são mais otimistas em comparação com 2023.

Agro Business: Como está o movimento dos envios da carne bovina brasileira para o exterior? 

NA: Temos observado positivamente o movimento de diversos países, aproximadamente 10 nos últimos dois meses, liberando o recebimento da carne bovina brasileira.

Um ponto de destaque para os Estados Unidos (EUA), que permaneceram fora do mercado por vários anos e retomaram suas compras recentemente, inicialmente em volumes modestos que cresceram significativamente. Atualmente, os EUA ocupam a posição de segundo maior cliente do país, ficando apenas atrás da China. Esses acontecimentos representam uma excelente notícia para o nosso setor pecuário capixaba e brasileiro.

Agro Business: Apesar de ser territorialmente pequeno, como o Espírito Santo contribui para o cenário nacional?

NA: Se analisarmos os dados do IBGE, o Brasil possui uma população bovina em torno de 231 milhões de cabeças. Já o Espírito Santo, com seus 2,1 milhões de cabeças, representa apenas 1% do total nacional. Embora essa participação seja relativamente pequena se comparada a estados como Mato Grosso, que possui uma população bovina de 34 milhões, o pecuarista capixaba está prosperando cada vez mais em qualidade.

Apesar da limitação territorial, o estado abrange 1,3 milhão de hectares em pastagens, abrigando aproximadamente 2,1 milhões de cabeças de gado. O Espírito Santo continua a produzir carne de alta qualidade, evidenciado, inclusive, em competições como o Circuito Nelore de Qualidade.

Agro Business: O Espírito Santo recebeu reconhecimento em competições recentes, não é mesmo?

NA: Em 2023, tivemos a participação de 303 dos maiores pecuaristas brasileiros participando dessa competição do Circuito Nelore de Qualidade. Um dos  capixabas, Nelore Heringer de Vila Velha, ficou entre os 10 melhores pecuaristas produtores de carne do Brasil. Esse feito, alcançado entre 303 dos melhores competidores do país, é um sinal claro da qualidade crescente na produção de carne capixaba.

A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil e a Associação Capixaba dos Criadores de Nelore estão dedicadas a fornecer informações, aprendizados e capacitações para que os pecuaristas e neloristas possam prosperar, aumentar a produção e obter maior rentabilidade. No momento, eles desempenham um papel crucial na geração de empregos, divisas e no sustento de diversas famílias.

Agro Business: Qual é o principal desafio enfrentado pelo setor e quais ações podem ser tomadas para melhorar a situação?

NA: O maior desafio na pecuária de corte é a falta de padronização das carcaças dos animais. Precisamos evoluir na produção de animais de forma homogênea. Diversos produtores estão se dedicando à produção de animais de alta qualidade, mas é essencial que todos sigam padrões uniformes. A falta de homogeneidade resulta em experiências variáveis para os consumidores, onde a carne pode estar boa em uma semana e dura na seguinte.

É crucial que todos os produtores adotem práticas que garantam a produção homogênea, proporcionando ao consumidor uma carne macia, saborosa e suculenta em qualquer época do ano, quando adquirem produtos nas gôndolas dos supermercados.

Fonte: Agro Business Folha Vitória – ES

Curadoria: Marisa Rodrigues, publisher Portal Boi a Pasto

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