julho 27, 2024

Chuvas extremas no Sul geram prejuízo bilionário para produção agrícola

SC já estima uma perda de R$ 2 bilhões na agricultura; PR e RS também contabilizam prejuízos

Por Marcos Fantin e Bianca Anacleto* — São Paulo

O Sul do Brasil está sendo atingido por muita chuva nos últimos meses devido ao fenômeno El Niño. Recentemente, fortes precipitações causaram enchentes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além das perdas humanas e materiais, a produção agrícola sulista também tem sido prejudicada pelas condições climáticas extremas.

Santa Catarina já estima uma perda de R$ 2 bilhões na agricultura. O Paraná prevê um prejuízo de 30% da safra do trigo e o Rio Grande do Sul anunciou um atraso no plantio da soja.

Paraná

No Paraná, as regiões mais afetadas pelo excesso de chuva são o sudoeste, o centro-sul e os Campos Gerais. O boletim do Departamento de Economia Rural (Deral), referente ao período entre 14 e 20 de novembro, destaca que o excesso de umidade no solo tem dificultado as operações para a conclusão do plantio da soja no sudoeste paranaense.

“Devido ao alto volume de chuvas, a cultura da soja apresenta um comportamento atípico, com aceleração do desenvolvimento”, diz o documento.

As chuvas que acontecem desde a metade de outubro mantêm essas áreas do Estado em alerta em várias outras culturas. De acordo com Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR, o final do ciclo das culturas de inverno – trigo, cevada, e aveia – registrou redução significativa em quantidade e qualidade na produção.

As colheitas de trigo e cevada foram praticamente concluídas, frustrando produtores devido ao excesso de chuvas. A qualidade também foi severamente afetada, segundo o Deral.

“Essas culturas foram as que mais tiveram prejuízo, em torno de 30% da produção do estado. Agora, os produtores que conseguiram colher vão receber menos pelo produto, enquanto alguns nem isso conseguiram”, disse Ana Paula.

O destaque das culturas de verão é o atraso na semeadura da soja, principalmente no sudoeste paraense, que costuma plantar mais cedo. O feijão está quase no final do plantio e muitas áreas também estão inundadas. A técnica ressalta que a falta de luminosidade também é um problema que tem agravado a situação das lavouras. “O milho primeira safra também está sofrendo com a falta de luminosidade, o tempo nublado não favorece o desenvolvimento”.

Com a previsão do pico de intensidade do El Niño durar pelos próximos três meses, quando justamente as lavouras de verão estão a campo, Ana Paula garante que a preocupação vai permanecer. “As plantas não têm se desenvolvido, o excesso de umidade promove doenças e os produtores não conseguem fazer o manejo adequado porque as máquinas não entram no campo”.

O boletim do Deral informa que as lavouras de milho e soja seguem com bom desenvolvimento, com a maioria das plantações em desenvolvimento vegetativo, enquanto o restante está entrando na fase de florescimento. O feijão se desenvolve bem, em fase de frutificação e maturação, as lavouras de café apresentam bom desenvolvimento, e as frutas, como laranja e maçã, estão sendo colhidas manualmente, com frutos saudáveis.

Em SC, perda na produção agrícola, por conta as chuvas, é de cerca de R$ 2 bilhões, afirma secretário da Agricultura — Foto: Roberto Zacaria/Secom
Legenda: Em SC, perda na produção agrícola, por conta as chuvas, é de cerca de R$ 2 bilhões, afirma secretário da Agricultura — Foto: Roberto Zacaria/Secom

Santa Catarina

O Estado de Santa Catarina tem previsão de chuva acima da média para o próximo trimestre, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri). Em dezembro e janeiro, a média mensal deve variar entre 140 e 200 mm.

O secretário de agricultura de SC, Valdir Colatto, estima que a perda na produção agrícola, por conta as chuvas, é de cerca de R$ 2 bilhões. “No final de semana, a chuva foi intensa, houve deslizamentos e alagamentos, então o valor deve ser maior. As culturas mais afetadas foram a soja, milho e feijão, cerca de R$ 200 milhões de prejuízos”, afirma Colatto.

Outras culturas também foram afetadas, como explica Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc). Ele analisa que as produções de fumo, arroz e maçã também foram prejudicadas.

“Os produtores que fizeram investimentos para a safra deste ano não vão ter retorno”, afirma Barbieri. O vice-presidente destaca, especialmente, a perda no cultivo de cebola, hortaliça que o estado é líder na produção nacional, que deve ficar em torno de 50%.

O boletim Hortigranjeiro publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CNA), nesta terça (21), já indica aumento no preço da comercialização da cebola no mês de outubro. O valor da hortaliça aumentou a 82,95% na Ceasa/AC, 62,26% na Ceasa/RJ, 56,49% na Ceasa/GO e próximo de 50% na Ceasa/ES e na Ceasa/PR. O arquivo ainda indica que a tendência é que o mercado catarinense supra o mercado no mês de novembro, mas a chuva tem prejudicado a colheita.

Colatto comenta que a chuva eliminou o cultivo de hortaliças em Santa Catarina, obrigando o Estado a importar produtos do Rio de Janeiro. A Secretaria da Agricultura estima uma perda de R$ 50 milhões no setor de hortaliças.

Os impactos também se estendem à produção de leite, que chega a ser de R$ 20 milhões. Colatto explica que, como as estradas estão obstruídas, não é possível fazer o escoamento do produto.

De acordo com a Defesa Civil de SC, até o dia 19 novembro, 71 cidades catarinenses haviam decretado situação de emergência. O governo do Estado montou um comitê de crise. No âmbito dos produtores rurais, o secretário da agricultura diz que o foco inicial é na parte de infraestrutura, pois muitas regiões estão isoladas, sem energia elétrica e internet.

“Outra preocupação é com relação à sanidade animal e vegetal. Muitos animais estão morrendo e fungos têm se proliferado nas plantações. Santa Catarina possui diversas qualificações sanitárias, como ser um Estado livre de febre aftosa”, conta Colatto.

Gilsania Cruz, meteorologista da Epagri, afirma que o órgão estava alertando sobre os altos volumes de chuva desde o inverno, sendo os meses de outubro e novembro os mais volumosos. “A previsão se confirmou. Em outubro, o registro no Estado foi acima de 600mm e em novembro, até a primeira quinzena, supera os 400mm”, comenta Cruz.

No RS, cinco pessoas morreram e mais de 28 mil tiveram que deixar suas casas; uma das cidades afetadas foi São Sebastião do Caí — Foto: Mauricio Tonetto/Secom
Legenda: No RS, cinco pessoas morreram e mais de 28 mil tiveram que deixar suas casas; uma das cidades afetadas foi São Sebastião do Caí — Foto: Mauricio Tonetto/Secom

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, cinco pessoas morreram e mais de 28 mil tiveram que deixar suas casas em razão de eventos meteorológicos na última semana. De acordo com os dados mais recentes da Defesa Civil estadual, há 24.976 pessoas desalojadas (que estão na residência de amigos ou familiares) e 3.351 em abrigos públicos no Estado. Associados às fortes chuvas, foram registrados vendavais, enxurradas, inundações, soterramentos e uma microexplosão (uma intensa corrente de vento com poder destrutivo).

No agro, as chuvas também causam problemas. O último boletim do Emater/RS, publicado no dia 16 de novembro, informa que a área de semeadura atingiu 22%, registrando atraso no plantio de soja.

Na semana passada, o tempo seco intercalado com pancadas de chuva permitiram o avanço do plantio, com a área de semeadura em 22%, porém registrando atraso no plantio de soja. Porém, a volta das chuvas e o prognóstico pessimista para as próximas semanas mantém potenciais estragos que podem prejudicar ainda mais o avanço do plantio.

Com relação às perspectivas fitossanitárias, “há apreensão quanto à manutenção do quadro de umidade e de temperaturas elevadas, circunstâncias que podem propiciar a instauração de doenças durante a fase inicial do desenvolvimento vegetal”, informa o boletim.

O plantio do arroz segue fortemente impactado pelas inundações, e algumas áreas exigirão ressemeadura. A semeadura no Estado alcançou 82% e os preços continuam em elevação.

No milho, houve um avanço modesto no plantio em razão da predominância de atividades relacionadas a outras culturas, como trigo e soja. A área total plantada atingiu 81%. Segundo o Emater, uma parcela dos agricultores só pretende retomar o plantio em safrinha, avançando a semeadura durante o mês de janeiro.

*Sob supervisão de Marcelo Beledeli

Curadoria: Marisa Rodrigues para o Portal Boi a Pasto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp