dezembro 5, 2024

Escolha de sementes influencia na produtividade da pastagem

Artigo: Gisele Rosso, Embrapa Gado de Corte

A disponibilidade de sementes de forrageiras é essencial e condicionante da sustentabilidade de sistemas de exploração da pecuária baseados em pastagens cultivadas. Hoje, o mercado brasileiro dessas sementes movimenta, anualmente, mais de 250 milhões de dólares e gera cerca de 50 mil empregos no país. As sementes oriundas de cultivares lançadas pela Embrapa representam 60%, sendo 48% de braquiarão (capim-marandu) e 12% de mombaça e tanzânia.

Legenda: Sementes de pastagens incrustradas

Qualidade x preço – A formação de pastagem ampliou a fronteira para exploração pecuária e agrícola. Primeiramente, as sementes eram importadas da Austrália. Hoje, o Brasil é o maior produtor de sementes de forrageiras tropicais do mundo e exporta para mais de 20 países. O mercado está solidificado e tem condições de ampliar ainda mais, caso os pecuaristas entendam a importância de optar por uma boa semente para aumentar a produtividade e a lucratividade.

Uma pesquisa realizada nos comércios de semente de Campo Grande apontou falhas no processo de produção de pastagens. Mesmo tendo à disposição uma avançada tecnologia para maximizar ganhos, os pecuaristas procuram comprar sementes levando em consideração o preço. A qualidade, na maioria das vezes, não é cogitada. O que é um equívoco, e pode acarretar danos ao produtor.

Para o especialista da Embrapa Gado de Corte, Ademir Hugo Zimmer, ainda não se criou a cultura da boa pastagem, como do milho e da soja. “Os pecuaristas acham que estão fazendo economia, mas, na verdade, o custo da semente na formação da pastagem representa apenas 5% ou um pouco mais do custo total do processo”, ressalta Zimmer. Segundo o responsável técnico de uma empresa que comercializa sementes, o engenheiro agrônomo Rodrigo Lins G. de Arruda, isso acontece, na maioria das vezes, por falta de informação. “O mais correto seria analisar a semente. Caso o consumidor encontre preços muito variados dos mesmos produtos, é melhor levá-los para análise, porque um deles pode não conter o que indica no rótulo”, alerta o engenheiro agrônomo.

A escolha de uma semente de qualidade possibilita muitas vantagens ao pecuarista. Uma pastagem mal formada pode chegar a levar de um a dois anos para ser utilizada, enquanto com uma boa formação pode-se utilizá-la antes, 60 a 70 dias após a emergência.

Semente de qualidade – Para selecionar um lote de sementes, o pecuarista deve conhecer o Valor Cultural (VC), ou seja, a porcentagem de pureza e germinação do lote a ser adquirido. Dentro dos padrões que regem as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é exigido o mínimo de invasoras e misturas de outras espécies. Um lote de má qualidade poderá introduzir invasoras de difícil controle, em conseqüência, o pecuarista acaba tendo mais gastos com uso de herbicidas. Se for bem escolhido, o lote vai apresentar baixo custo, fácil semeadura, germinação e estabelecimento rápido e uniforme do pasto.

Muitos produtores procuram por sementes com baixo VC, com grande quantidade de palhas e torrões, porque utilizam equipamentos velhos, que jogam no solo mais sementes do que o desejado. Atualmente, existem máquinas de precisão. Já é possível regular o equipamento para jogar 2 quilos de sementes.

Uma dica para o consumidor é adquirir sementes de forrageiras em empresas de confiança. É necessário fazer amostras na sacaria (fundo, boca e meio do saco) e levar para análise em um laboratório idôneo. “Ao invés de analisar as sementes antes de adquiri-las, o pecuarista prefere degradar uma pastagem. Ele não vê o pasto como um produto de valor”, considera Kichel.

No entanto, para uma boa formação da pastagem, não bastam apenas sementes de qualidade, inúmeras técnicas agregadas também são relevantes, como: conservação do solo, correção da fertilidade, controle de pragas e invasoras, época de plantio, clima. Segundo o pesquisador Kichel, o ideal é escolher um lote de boa qualidade, com custo compatível.

Pesquisa – O pecuarista descapitalizado procura técnicas de baixo custo, milagrosas, para diminuir gastos e aumentar a lucratividade. Quando são introduzidas novas cultivares no mercado, geralmente, ele não procura saber se têm boa procedência, se foram lançadas após pesquisas, e acabam adquirindo o produto sem garantias de qualidade. Outro equívoco é comprar o capim da moda. A pastagem deve ser escolhida conforme a exigência da área a ser plantada. O ideal é não comprar sementes pirateadas, que não possuem o selo de qualidade. Espécies de forrageiras introduzidas no mercado sem pesquisas podem acabar reduzindo os ganhos do pecuarista e até causar prejuízos, porque não se conhece o seu real comportamento. Para se ter uma avaliação garantida, demoraria, em média, cerca de 10 a 15 anos.

O capim annoni (Eragrostis plana Nees), uma planta daninha amplamente distribuída em quase toda a região Sul do país, foi lançado no mercado como forrageira, acabou se alastrando e causando prejuízos aos produtores rurais. Com grande capacidade de disseminação, facilmente domina a gramínea do pasto invadido. A planta foi trazida da África para o Rio Grande do Sul misturada com o capim-de-rhodes. Hoje, a comercialização da semente desse capim é proibida. Esse é o risco de adquirir sementes piratas, elas podem trazer pragas que não existem em certas regiões, como aconteceu com o annoni.

Degradação – Uma pastagem mal formada, que começa com a escolha de uma semente de forrageira de má qualidade, pode causar muitos prejuízos, inclusive deficiência na sustentabilidade dos sistemas de produção animal. A degradação, dependendo do grau em que ela esteja, pode provocar: redução na produção de forragem, aparecimento de invasoras, diminuição da área coberta pela vegetação e erosão provocado pela chuva.

Numa pastagem bem formada, o pecuarista pode aumentar consideravelmente a produtividade, diminuindo a idade do animal para o abate e produzindo mais arrobas por unidade. Por esses motivos, se for considerado o valor da semente no custo total do processo, o preço torna-se insignificativo. A escolha da forrageira, além da produção que se deseja, deve ser adaptada as condições de clima e solo. O pesquisador Zimmer sugere a diversificação para evitar danos de pragas.

Fonte: Gisele Rosso – DRT 3091/PR Embrapa Gado de Corte Telefones: (67) 368-2142 e 368-2023 E-mail: girosso@cnpgc.embrapa.br 

Curadoria: Marisa Rodrigues, publisher do portal Boi a Pasto

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