dezembro 21, 2024

O uso intensivo e sustentável dos recursos naturais

“Intensificação sustentável.” Este é um conceito que cada vez mais ganhará notoriedade.

Maurício Antônio Lopes*

A razão é simples. A população mundial seguirá crescendo, mais urbanizada e exigente, em um planeta de recursos naturais finitos. Vai exigir mais alimentos, energia e bem-estar, o que requer uso mais eficiente das riquezas da natureza – e será preciso conservar tais bens para as gerações futuras. “Fechar essa conta” define a intensificação sustentável.

O estudo Visão 2014-2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, lançado pela Embrapa em 2014, sinaliza que, por volta de 2030, poucos países vão concentrar boa parcela da população e da renda. A população mundial, gradativamente se tornará mais idosa. A renda per capita em importantes países consumidores irá se elevar, assim como a demanda por proteínas nobres como leite, carne, ovos, peixes, frutas, verduras e legumes.

Em duas décadas, deve aumentar em 3 bilhões o número de consumidores do planeta e a região da Ásia-Pacífico concentrará cerca de 60% da classe média mundial. Tão significativo quanto o crescimento da população e a mudança das exigências e preferências dos consumidores é o fato de que tal cenário deverá ser  observado mais em regiões onde é baixa a possibilidade de se ampliar a produção de alimentos. Há carência de terras agricultáveis e de recursos essenciais, principalmente água, como nas imensas áreas desérticas e semiáridas da África e da Ásia.

No mundo, as áreas que poderiam ser utilizadas para a  expansão da fronteira agrícola estão na Rússia e no Leste Europeu. Mas seu aproveitamento é limitado em razão do clima e da necessidade de grandes investimentos, de difícil realização nas próximas décadas. O Canadá, país onde há terras e boa infraestrutura de suporte à produção agrícola, convive com sérias limitações climáticas.

A América do Sul é a região que dispõe de condições de clima e recursos naturais mais favoráveis para a expansão sustentável da atividade agrícola, especialmente em sua faixa tropical e subtropical. Potencial semelhante existe em partes da África Subsaariana, embora o aproveitamento nessa região dependa de substantivas mudanças políticas e estruturais, uma tarefa para muitas gerações.

Repousa, portanto, sobre a América Tropical, a grande responsabilidade de alimentar a população e, ao mesmo tempo, ampliar a ação de prover alimentos para um mundo que seguirá crescendo e demandando em quantidade, diversidade e alto padrão de qualidade.  Fazê-lo, de forma sustentável, demandará sofisticação tecnológica que amplie a eficiência de uso dos recursos ambientais – especialmente água, solo e biodiversidade – e garanta serviços ecossistêmicos adequados, como reciclagem de resíduos, recomposição das reservas hídricas, melhoria da atmosfera, dentre outros.

O Brasil lidera um grande esforço de geração e uso de tecnologias “poupa-recursos”, de baixa emissão de carbono, capaz de promover a expansão sustentável da produção agrícola. Expansão baseada mais em ganhos na produtividade da terra, em sintonia com o novo Código Florestal. O Plano ABC – “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono” é uma arrojada política pública que visa ampliar a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o sistema de plantio direto (SPD), a fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas plantadas e o tratamento de dejetos animais.

Por isso, chama a atenção do mundo o potencial de intensificação sustentável da agricultura brasileira. Uma grande extensão de nossas áreas agrícolas pode ser utilizada de maneira segura 365 dias ao ano, produzindo, no mesmo espaço, grãos, proteína animal, fibras e bioenergia. E, diferentemente de qualquer grande produtor de alimentos no mundo, o Brasil mantém 62% do seu território com cobertura vegetal natural.

Esse protagonismo e as oportunidades de geração e disseminação de tecnologias capazes de promover a expansão sustentável da produção agropecuária dominarão as discussões de especialistas nacionais e internacionais no primeiro Congresso Mundial sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O evento, organizado pela Embrapa e instituições parceiras do Brasil e do exterior, acontecerá a partir desta segunda-feira, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Este fórum terá como pano de fundo a ambição de se garantir a segurança alimentar e nutricional no futuro. É uma grande oportunidade para que o Brasil se apresente como nação preparada a contribuir por duas vias complementares: pela via da vocação natural, de país grande e diverso, com pujante riqueza ambiental; e pela via da competência, amparada em sua história de pesquisa e inovação agropecuária consolidada nas últimas quatro décadas.

* Maurício Antônio Lopes é Presidente da Embrapa

(Artigo publicado na edição do dia 12 de julho do jornal Correio Braziliense)

Fonte: Embrapa

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