julho 27, 2024

Agronegócio X Meio-Ambiente

Podemos acabar com a fome sem acabar com o planeta?

Por Marisa Rodrigues – Jornalista

A Degradação da natureza visando o aumento na produção de alimentos de um lado, com o planeta chegando a mais de 7,5 bilhões de pessoas, e de outro, o aumento da fome, principalmente na África Subsaariana, Ásia, Oceania, África, entre outros, traz uma questão a se considerar. Como produzir mais alimentos sem prejudicar ainda mais o meio ambiente?

Esse cenário coloca os países em uma situação conflitante. De um lado têm que produzir mais, para vencer a fome, que se alastra pelo planeta e de outro, não pode mais desmatar para aumentar as áreas de plantio, pois o planeta está numa rota, cada vez mais acelerada de autosuicídio.

Nos últimos anos, o planeta produz até o mês de agosto tudo o que deveríamos produzir em um ano. Isto é, todos os anos temos ficado em déficit com a Terra, que não consegue mais repor essa diferença para começar o ano seguinte, zerada, no azul. Nossa Terra é azul, mas há muito tempo os homens têm causado, em nome do capitalismo selvagem, uma  devastação sem precedentes, o que ocasionou as mudanças climáticas, que por sua vez, são uma resposta do planeta para tentar se proteger e sobreviver a este massacre. Ainda que isso custe a vida da humanidade como a conhecemos.

Está claro que os números de produção de alimentos são enormes, porém maior ainda é o número de pessoas passando fome no mundo. Em apenas um ano, esse número na América Latina aumentou em 13,8 milhões, de 45,9 milhões para 59,7 milhões, segundo o Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutricional 2021, da ONU. Isso equivale a 9,1% da população da América Latina e do Caribe – é a maior prevalência da fome dos últimos 15 anos.

Diante desse quadro, algo pode ser feito para mudar o rumo?

A boa notícia é que o sistema alimentar global está amadurecendo para mudanças e quem era visto como a maior ameaça à natureza pode se tornar sua melhor aliada.

Até o momento, a agricultura e o meio ambiente têm sido vistos como antagonistas.  O pensamento até agora tem sido que alguns danos ambientais são uma contrapartida infeliz, mas necessária para aumentar a produção de alimentos e nutrir a humanidade e nada pode se fazer contra isso. Mas as coisas não precisam ser assim, hoje já sabemos como alimentar uma população crescente sem destruir o planeta. Mas precisamos pensar além disso, queremos não só produzir mais, mas reduzir os danos. Precisamos investir em um sistema alimentar que restaure a natureza em vez de esgotá-la.

Todo desafio é uma oportunidade de crescimento

A produção de alimentos alterou nosso planeta mais do que qualquer outra atividade humana. Ela é responsável por 24% das emissões de efeito estufa e 70% do uso total de água doce; é talvez a maior causa da perda da biodiversidade no mundo, além disso a produção de alimentos também é a causa de 80% da perda global de habitat, uma tendência que está acelerando a cada dia.

Com certeza os números não são animadores, porém uma ameaça crescente, pode se tornar uma oportunidade ainda maior.

Por essas razões que a preservação do meio ambiente é um dos pilares do agronegócio nos dias atuais. Além de ser mais rentável ao produtor, os países compradores exigem essa medida mais ecológica.

Segundo  o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi: “Agricultura e a conservação do meio ambiente andam juntos. A boa produção de alimentos depende desses serviços que a natureza nos oferece, como um bom regime de chuvas, controle biológico, fertilidade do solo e controle de pragas. Tudo isso é que faz a produção agrícola acontecer. O bom agro não é predador, ele é parceiro da natureza”.

Só no Brasil são mais de 180 milhões de hectares de  pastos e setenta por cento disso estão com algum tipo de degradação.

E é pensando nisso que a sociedade agrícola hoje dispõe de várias técnicas e tecnologias para que seu negócio ande de braços dados com a preservação do meio. Dentre esses podemos destacar:

Novas metodologias: Forma de atingir conhecimento ou resultado. Nesta categoria estão métodos de análise, procedimentos de laboratório, formas de diagnóstico, métodos de pesquisa, entre outros. Como por exemplo o mapeamento digital de solos e Equações para predição de emissão de metano entérico de ruminantes criados em condições tropicais

Novos serviços: de natureza de pesquisa ou de transferência de tecnologia, oferecidos pela Embrapa à sociedade, como treinamentos, capacitações, análises e monitoramentos. Podemos citar o Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos (Plataforma CIM) e Planilhas para estimativa da necessidade hídrica e manejo da irrigação de videiras.

Novos produtos: São as soluções tecnológicas de natureza física e digital, como softwares, aplicativos, cultivares (sementes e mudas), animais, máquinas, equipamentos, bebidas, fertilizantes, vacinas e outros. Alguns exemplos são o SisILPF_Cedro – Software para manejo do componente florestal de ILPF – Cedro-australiano e o SisILPF_Elliottii – Software para manejo do componente florestal de ILPF – Pinus elliottii

Novos processos: São os procedimentos para geração de produtos, como processos para obtenção de embalagens, alimentos, bebidas, rações, produtos químicos, biológicos, industriais e mais. Como os Imunoestimulantes em rações para peixes e o Beneficiamento da casca de coco verde para a produção de fibra e pó.

Novas Práticas agropecuária: São técnicas de produção agropecuária e de manejo de recursos naturais, como adubação, plantio, controle de doenças e pragas, conservação de solo e água, entre outros. Alguns exemplos são o uso do amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Belomonte) em pastagens consorciadas com gramíneas no Acre e a manutenção e recuperação de pastagens, e as técnicas de manejo de pastos para a obtenção de maiores produtividades sem que haja aumento de território de plantio.

Novos sistemas: São conjuntos de práticas de manejo para produção vegetal ou animal. Inclui sistemas de criação, sistemas de produção em rotação, sucessão ou consorciação, sistemas integrados e outros. Como por exemplo Sistemas modulares para produção de plantas irrigadas com água salobra e Sistema de produção agroecológico de mandioca.

Esses são apenas alguns exemplos de soluções tecnológicas que estão a disposição do agronegócio ecologicamente correto. É preciso trabalhar com inovações para se ter um negócio sustentável, que não cause nenhum impacto ambiental e que seja socialmente justo. Esse compromisso gera mudanças na realidade socioprodutiva.

Mas Infelizmente, o agronegócio brasileiro ainda é vítima da associação com casos de desmatamento ilegal que prejudica toda uma cadeia de produtores que trabalham de maneira correta e profissional.

Segundo o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, o Brasil tem ao seu favor o Código Florestal, mas é preciso avançar nessa implementação. “Temos que avançar rapidamente nos quase 5 milhões de Cadastros Ambientais Rurais (CAR), que já estão disponíveis e implementar o Programa de Regularização Ambiental (PRA). O desmatamento ilegal joga contra o Brasil, contra o agronegócio e contrao meio ambiente. Ele precisa ser combatido com vigor e é um problema nosso, interno. Afinal, toda a competência do agronegócio está sendo colocada à prova por causa desse ponto, então é preciso virar essa página do desmatamento ilegal e avançar naquilo que de fato vai nos trazer vantagens competitivas no mercado nacional e internacional”

Podemos concluir dizendo que há sim uma forma de acabar com a fome sem que se acabe com o planeta, mas faz-se necessário uma transformação no modelo de produção dos agricultores e agropecuaristas que ainda não se atualizaram referente às novas soluções tecnológicas. Como o próprio Marcelo Morandi disse em entrevista: “Além do desmatamento ilegal, devemos avançar para como podemos ir além disso e transformar esse grande patrimônio natural que temos em produto que o mercado internacinnal quer comprar. Um produto ambiental”

Redação – Sabrina Oliveira – Produtora de conteúdo

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