julho 27, 2024

Alimentação de bezerros na fase de recria

Os bezerros quando nascem não apresentam o rúmen e os outros pré-estômagos funcionais, sendo que o alimento líquido passa diretamente por uma estrutura denominada goteira esofageana, que leva todo o alimento ingerido (leite), diretamente ao estômago verdadeiro deste pré-ruminante, o abomaso.

Marco Antônio Passareli Finardi*

Enquanto a dieta do animal é limitada ao leite, tem-se a funcionalidade desta estrutura que é ativada por estímulos nervosos. Este reflexo diminui com o avanço da idade do animal. Quando se inicia o fornecimento de alimentos sólidos de maneira antecipada a estes animais, ou seja, a partir do primeiro mês de vida, o animal apresenta um desenvolvimento precoce do rúmen, fato este que permite o surgimento da população microbiana e consequentemente em alta atividade metabólica no rúmen.

Com a ingestão destes alimentos sólidos e fibrosos, há o início da secreção salivar e do desenvolvimento ruminoreticular. Estes alimentos, muitas vezes estarão “contaminados” com restos de saliva da mãe ou de outros animais, eructação, bolo ruminal, ou mesmo fezes de animais adultos. Tudo isto leva a ingestão de microrganismos que colonizarão o rúmen. Além desta ação desencadeada pelos microrganismos, existem mudanças anatômicas, onde estes alimentos sólidos e fibrosos, degradados pelos microrganismos, ocasionam o desenvolvimento das papilas ruminais, sendo que seu desenvolvimento está associado à capacidade absortiva do rúmen. 

Em resumo, quanto mais cedo os bezerros tem acesso à alimentação sólida, estimulada principalmente por farelos de grãos, maior torna-se a capacidade alimentar destes, bem como o fornecimento de nutrientes que são de extrema importância para o desenvolvimento deste animal.

A produção de leite das vacas influencia na lucratividade do processo produtivo, uma vez que a diferença na ingestão de leite entre bezerros é tida como uma das mais importantes fontes de variação do peso ao desmame de bezerros. Desta forma, vacas com maior produção leiteira, tendem a desmamar bezerros mais pesados. Mas devemos lembrar que vacas com alta produção leiteira, podem tem prejuízo quando pensamos na condição corporal, haja vista que quanto maior a sua produção leiteira, maior torna-se a sua exigência nutricional. Se lembrarmos de que a condição corporal da matriz apresenta alta correlação com desempenho reprodutivo, devemos também lembrar que vacas com alto potencial leiteiro também requerem mais nutrientes para manter a condição corporal e consequentemente a eficiência reprodutiva. Quando não são realizados os devidos ajustes na nutrição destas matrizes, estes animais podem perder condição corporal e ter afetada a sua eficiência reprodutiva. Outro ponto de extrema importância, é que o primeiro alimento do bezerro é o colostro, que além de fornecer os nutrientes essenciais para os bezerros, também fornece anticorpos que serão importantíssimos para protegê-los dos patógenos que terão contato e podem leva-los a adoecer, pois ainda não possuem imunidade ativa. Quando se fornece suplementação mineral adequada as matrizes, consegue-se aumentar o aporte de microminerais neste colostro e no leite e desta forma, fornecer estes microminerais aos bezerros, fato que será muito importante para o desenvolvimento do sistema imunológico deles. 

 Ainda, é interessante que se consiga realizar uma seleção para que se obtenham matrizes que produzam leite em quantidade satisfatória, mas que também consigam manter um bom escore corporal para que mantenham sua eficiência reprodutiva.

Suplementos minerais

O leite, como única forma de alimento para os bezerros, é um alimento completo, que fornece todos os nutrientes essenciais para a vida destes animais. Ocorre que quando se busca grande desempenho produtivo, aumenta-se também a exigência nutricional dos animais, sendo que nestas situações acabamos por ter uma limitação no fornecimento destes nutrientes pelo leite para o alto desempenho dos animais. Nestas situações, então é muito vantajoso o fornecimento de uma fonte complementar de nutrientes, sendo que os minerais são apenas um destes nutrientes que acabam por se tornar limitados para o maior desempenho dos animais. Sempre que possível deve-se introduzir no sistema de cria o creep-feeding, para que haja a possibilidade de fornecimento de um alimento complementar aos bezerros de forma a torna-los menos dependente do leite de suas mães e através da ingestão de alimentos sólidos, se consiga um melhor aporte de nutrientes que favoreçam um maior desempenho destes animais, pois desta forma, teremos estes animais tornando-se ruminante mais cedo e com isso, poderemos ter animais mais pesados à desmama.

Creep-feeding trata-se de um cocho de suplementação que ao seu redor apresenta uma cerca, de forma que esta cerca dê acesso somente aos bezerros ao cocho. Com isso, é possível que se forneça a estes animais um suplemento mineral proteico energético ou mesmo uma ração concentrada balanceada exclusivamente para estes animais.

Creep-grazing, por sua vez, é um sistema de pastejo onde somente os bezerros tem acesso ao pasto de alta qualidade, ou mesmo um sistema de pastejo rotativo onde os bezerros acessam os piquetes antes das vacas. Com isso, os bezerros devem ter a sua disposição, gramíneas e/ou leguminosas de alto valor nutricional, tenras, altamente palatáveis, de porte mediano, devendo ser utilizadas no seu ponto ótimo nutricional de forma a fornecer aos bezerros o máximo de proteína e energia, apresentando alta digestibilidade. O emprego deste sistema visa também disponibilizar aos animais um alimento de alta qualidade que também forneça aos animais um maior aporte nutricional de maneira a favorecer um melhor desempenho destes animais.

Manejo nutricional para novilhas

A recria é a fase entre a desmama até o momento que o animal é encaminhado para a reprodução ou terminação. Para as fêmeas é o período de maior crescimento, quando o animal utiliza recursos nutricionais para atingir o tamanho que lhe permita reproduzir. Para a eficiência do sistema produtivo, é importante que se consiga reduzir a idade de entrada em reprodução, sendo isto possível somente, obtendo-se maior peso a desmama e elevada taxa de crescimento em pastagens, desta forma, evitando-se baixo desempenho.

Desta forma, a nutrição das futuras matrizes deve-se basear nas taxas de ganho de peso necessárias para que as novilhas alcancem o peso adequado antes do início do acasalamento.

Como estratégias a serem utilizadas para que se consiga alcançar o peso ideal de entrada à reprodução, o produtor deve além de fornecer aos animais pastagens com alta oferta de forragem e boa qualidade nutricional, suplementos que forneçam minerais e fontes de proteína e energia, ajustando-se estes a época do ano, de forma a complementar os nutrientes limitantes, levando a um bom desempenho dos animais.

As novilhas nesta fase não necessitam ser confinadas, sendo o confinamento nesta fase, uma alternativa em sistemas que necessitem de uma complementação nutricional por uma deficiência ou mesmo falta de alimento volumoso oriundo da pastagem. O sucesso da pecuária de corte brasileira está baseado no baixo custo de produção que ocorre somente porque o sistema de produção predominante é a pastagem. Desta forma, realizando-se os devidos ajustes nutricionais durante o período de águas e seca, é possível atingir o objetivo esperado no sistema de pastejo.

Manejo nutricional para vacas de corte em gestação

Durante a gestação é extremamente importante que o produtor forneça meios para que as vacas gestantes consigam ingerir nutrientes em quantidades suficientes para satisfazer as suas necessidades nutricionais, bem como a quantidade de nutrientes adicionais para o desenvolvimento fetal. Com o passar dos meses, as exigências nutricionais aumentam, sendo que durante o terço final de gestação, há um aumento intenso, que estão associados à maior taxa de crescimento e desenvolvimento fetal. Devemos ainda lembrar que após o período gestacional, temos o parto e consequentemente o período de lactação, onde os animais acabam por entrar em um balanço energético negativo, ou seja, o aporte de energia que os animais ingerem é menor que o gasto energético. Neste período, os animais acabam por gastar suas reservas corpóreas. Caso as vacas cheguem ao parto em baixa condição corporal, não conseguirão repor suas reservas e manterão esta condição baixa, fato que pode prolongar o período de anestro, aumentando o intervalo entre partos. Ainda, caso haja a limitação de nutrientes para o feto, haverá o nascimento de bezerros fracos e mais susceptíveis a adoecer, fato que diminui a sobrevida destes. Ainda no período de lactação, caso as vacas não recebam uma dieta adequada, a deficiência nutricional pode comprometer a quantidade e a qualidade do colostro e do leite produzidos, afetando desta forma o desempenho e a saúde de suas progênies.

Quando pensamos em estação de monta, esta comumente ocorre no período chuvoso, sendo que o terço final de gestação se dá durante a seca. Desta forma, é muito importante que os produtores se preparem para este período do ano, para que tenham oferta suficiente de pastagem para satisfazer os animais. Ocorre ainda, que durante este período do ano, há uma queda na digestibilidade das forragens, bem como no valor nutricional, então é extremamente importante que os produtores forneçam aos animais suplementos minerais proteicos, para que além dos minerais, haja o fornecimento de proteína que é extremamente importante para que se consiga um adequado funcionamento ruminal e consequentemente os animais consigam ingerir a quantidade necessária de forragem para atender as necessidades nutricionais.

Recria e terminação 

Quando pensamos em recria e terminação de animais voltados a produção de carne, primeiramente devemos lembrar que estamos falando de duas categorias animais, diferentes entre si, e com exigências nutricionais diferentes. A categoria de recria, é composta por animais que ainda se encontram em crescimento e desta forma, necessitam de nutrientes para ganho de condição corporal (aumento de massa muscular), mas também exigem nutrientes para seu crescimento corporal. Quando pensamos em animais de engorda, já temos animais adultos, onde necessitam de nutrientes além da manutenção, para melhorarem sua condição corporal. Animais de terminação são aqueles onde buscamos somente realizar a deposição de gordura na carcaça, ou seja, animais que já apresentam ótima massa muscular. Quando pensamos em deposição de massa muscular, temos animais que aproveitam melhor os nutrientes e o convertem em carne. Já a fase de terminação há uma maior demanda energética pelos animais e desta forma, a conversão alimentar não é tão eficiente.

É importante que o produtor se atente a estes pontos, bem como as características climáticas e oferta de alimento aos animais, para que desta forma, possa realizar os ajustes necessários na nutrição, com a introdução de suplementos que além de fornecerem minerais essenciais, também forneçam fontes de proteína e energia, em quantidades diferentes conforme a época do ano. Com estes devidos ajustes, é possível com que os animais de recria apresentem melhor desempenho em crescimento e ganho de massa muscular, enquanto os animais de terminação com os devidos ajustes possam apresentar uma melhor deposição de gordura.

No mercado existem formulações prontas, ajustadas para cada categoria animal, bem como época do ano, que podem auxiliar o produtor a alcançar seus objetivos, devendo sempre respeitar as recomendações e formas de utilização conforme o fabricante.

*Marco Antônio Passareli Finardi é Médico Veterinário, Coordenador Técnico do Segmento de Pequenos Ruminantes e Equinos do Departamento Técnico de Nutrição Animal do Grupo Matsuda. Contato: marco_finardi@matsuda.com.br

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