Em entrevista, uma das questões levantadas foi à forma que a pecuária é colocada como a maior vilã nas questões ambientais, e de como as mudanças climáticas associadas ao Agro vem apresentando um quadro assustador de “fim do mudo”.
No início desse ano, a Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA) publicou em seu jornal acadêmico, um estudo que afirma que, se a criação de animais para alimentação fosse eliminada, teríamos como resultado, um impacto climático positivo substancial, que mudaria o curso do quadro de aquecimento global que temos hoje.
Segundo Michael Eisen, um dos pesquisadores do estudo; o trabalho realizado por eles mostra que, acabar com a pecuária, tem o potencial único de reduzir significativamente, os níveis atmosféricos de todos os três principais gases de efeito estufa; e por hesitamos em responder à crise climática, isso se faz necessário para evitar uma catástrofe.
Diante desse cenário, conversamos em entrevista com Mauroni Cangussú – Médico Veterinário e produtor rural. Referência em pecuária regenerativa. E Prof. Dr. Rogério Martins Maurício – Especialista em Biotecnologia Ambiental e Pecuária sustentável para saber mais sobre o Eco-Suicídio, e o que podemos fazer para evitar que isso aconteça.
Em entrevista, uma das questões levantadas foi à forma que a pecuária é colocada como a maior vilã nas questões ambientais, e de como as mudanças climáticas associadas ao Agro vem apresentando um quadro assustador de “fim do mudo”. Segudo o Mauroni, esse quadro existe devido à exaustão do uso dos recursos naturais. Com o numero populacional mundial que temos atualmente, a barreira da sustentabilidade foi rompida, a sociedade está degradando mais do que a capacidade regenerativa da natureza.
“Ao longo do tempo, se você degrada mais do que regenera, você leva a eliminação da humanidade.” Mauroni Cangussú
Porém muito está sendo feito no Agro, e já existem diversas técnicas e tecnologias a disposição, sendo aplicadas em diversas propriedades que visam não só diminuir a agressão ao meio-ambiente, mas também ajudar na recuperação. E é o que chamamos de pecuária sustentável ou regenerativa.
A produção de alimentos alterou nosso planeta mais do que qualquer outra atividade humana. Ela é responsável por 24% das emissões de efeito estufa e 70% do uso total de água doce; é talvez a maior causa da perda da biodiversidade no mundo, além disso, a produção de alimentos também é a causa de 80% da perda global de habitat, uma tendência que está acelerando a cada dia.
Em vista disso a COP26 (Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas) realizada no ano passado 2021, com um grupo de 40 países, incluindo o Brasil, negociaram ações para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
Sabendo desse compromisso que não só o Brasil se propôs, mas vários países. O professor Rogério falou um pouco da importância dos Sistemas Silvipastoris nesse cenário.
Primeiro ele deixou claro que as emissões de gases ligado a agropecuária foi apenas um dos temas abordados na COP26, por ser um evento muito complexo tem uma diversidade de temas muito grande.
“A produção pecuária bovina, tem um papel social muito importante. […] É uma atividade que volta a nossa cultura em 1500 e vem se desenvolvendo.” Prof. Dr. Rogério Martins Maurício
O estudo de Sistemas Silvipastoris que é adotado na fazenda Monalisa, foi levado para a COP26 como um exemplo, mas é preciso ressaltar que a produção de metano que advém do processo de extração de petróleo é muito maior que a produção de metano dos bovinos, mas infelizmente, o mundo no geral volta o olhar para a vaca, e deixa de lado outros processos que são por vezes mais danosos. Como por exemplo, a matriz energética baseada no carvão mineral, que é extremamente poluente.
“Teríamos que ter níveis de preocupações, até chegar ao nível de preocupação da pecuária”. Prof. Dr. Rogério Martins Maurício
Chegando ao nível da pecuária, o primeiro passo é sair do sistema extrativista para um sistema sustentável. E é ai que entra os Sistemas Silvipastoris.
Podemos defini-lo como: Uma opção tecnológica de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) que consiste na combinação intencional de árvores, arbustos, pastagens e gado numa mesma área e ao mesmo tempo.
Uma das vantagens é a preservação da biodiversidade local, em segundo lugar está a falta de necessidade de fertilizantes químicos, que é uma das crises vividas nos dias atuais. Nos Sistemas Silvipastoris a bomba de fertilização são as raízes. Terceiro, é um sistema 0% agrotóxicos. Ter uma visão sistémica da propriedade. E por último, favorece o bem-estar animal.
“Uma vaca, um animal, debaixo de uma árvore, ele vai ter 3 ou 4’ de melhor conforto, com isso o estresse é menor, a qualidade da carne é melhor, o ganho de peso é melhor, e as exigências internacionais para o conforto animal, são supridas.” Prof. Dr. Rogério Martins Maurício
Quanto à transição de um sistema para o outro, o Mauroni diz que:
“Para que você comece uma pecuária regenerativa, primeiro tem que mudar a cabeça. Entender que aquele processo (extrativista) está errado.”
O primeiro passo é parar de colocar fogo, que apesar de ser um desastre para a pecuária brasileira, ainda é muito usado. Outro ponto é parar de usar químicos. Em terceiro lugar, está o respeito pelo ecossistema, com ordenamento do uso do solo.
É um processo lento, e o produtor tem que aceitar que de início sua rentabilidade vai cair um pouco, pois deverá manejar tudo de forma que você tenha no futuro uma rentabilidade maior nesse novo modelo, e produzir alimentos mais sadios.
Confira abaixo essa entrevista na integra:
Redação: Boi a Pasto