outubro 11, 2024

Por que devemos avançar no sentido da seleção de fêmeas?

Historicamente, o melhoramento genético para gado de corte se baseou na identificação de touros superiores em características de importância econômica e na proliferação de seus genes nos rebanhos, para que se obtenha progresso genético. Essa abordagem é comprovadamente eficiente, pois foi possível observar, de maneira inconteste, ao longo dos anos, a mudança positiva conquistada pela introdução de reprodutores melhoradores nos plantéis.

O melhoramento genético de bovinos para carne via seleção de machos fundamenta-se no fato de que é possível aplicar uma intensidade de seleção extremamente rigorosa à essa categoria animal. Na prática, um touro pode ser o suficiente para servir de 25 a 50 vacas em uma estação de monta e, se considerarmos a inseminação artificial, a multiplicação da genética do reprodutor tende ao infinito. Deste modo, por não ser necessário uma quantidade muito grande de machos na população é possível selecionar apenas aqueles que estão muito acima da média e, disseminar essa superioridade ao longo dos rebanhos.

Contudo, faz-se necessário relembrar que a genética de um novo indivíduo é constituída de amostras retiradas, ao acaso, de seu pai e de sua mãe. Metade de seus genes origina-se do touro e a outra metade da vaca. Assim, espera-se que utilizar touros selecionados em rebanhos cujas matrizes inferiores são sistematicamente descartadas, produz-se um impacto positivo consideravelmente maior do que a utilização dos mesmos machos nos rebanhos em que as vacas não são descartadas enquanto estiverem parindo.

Um exemplo simples pode ser usado para ilustrar tal situação: Considerando a característica peso ao sobreano, se acasalarmos um touro com DEP de + 16,00 em um rebanho de vacas com DEP média de +6,59, O resultado será uma progênie com DEP média predita de 11,29. Mas se utilizarmos o mesmo touro em um rebanho de vacas com DEP média de -2,5 o resultado será uma progênie com DEP média predita de +6,75. Trata-se de +4,54 Kg de superioridade genética predita ao comparar os dois cenários, o que representa uma diferença genética expressiva e, que muito provavelmente, refletirá na produtividade dos animais.

Na prática, faz-se necessário observar um conjunto de características para proceder a seleção de fêmeas, e o que foi exposto acima trata-se apenas de um pequeno exemplo.

Há de se considerar que as DEPs das fêmeas não são tão acuradas quanto as dos machos, mas é possível obter uma resposta média positiva utilizando essas informações. Novas abordagens analíticas, como a inclusão dos dados de desempenho de animais FIV/TE e seleção genômica, possibilitam que se calcule DEPs com alta acurácia para fêmeas, o que pode potencializar ainda mais o ganho genético nos rebanhos ao se aplicar o descarte das matrizes geneticamente inferiores.

Até aqui tudo o que foi explanado a respeito das matrizes está dentro do universo da avaliação quantitativa, que é importante, mas não é única.

Uma avaliação fundamentada na apreciação visual é extremamente relevante, pois nem tudo pode ser ?mensurado e avaliado com a utilização de cálculos avançados e metodologias para predição genética. Aprumos, pigmentação, harmonia, caracteres sexuais secundários, funcionalidade e raça são exemplos de características que têm uma importância considerável para a criação de bovinos, e somente o olho humano pode avaliar com um aceitável nível de acerto.

Vacas com alto valor genético predito para características de crescimento, mas que não conseguem se locomover ou que não sejam funcionais como mães não devem ser candidatas a passar os seus genes adiante. Dentro do mesmo contexto, a avaliação da expressão racial se destaca com uma importância muito grande, pois pode funcionar como um marcador fenotípico de características de produção e também como identidade comercial para o conjunto de animais inseridos em tal grupo.

No Sistema Integrado de Avaliação Genética do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos da ABCZ – PMGZ está disponível uma ferramenta que permite consultar informações genéticas/zootécnicas de vacas e novilhas e que também possibilita executar simulações de diferentes cenários de seleção e descarte. No módulo avançado, nomenclatura atribuída a esta ferramenta para a seleção de fêmeas, é possível observar os resultados do impacto da genética materna no desempenho dos bezerros, a evolução genética e fenotípica das vacas e acessar dados que auxiliam na tomada de decisão sobre quais fêmeas devem ter seus genes proliferados no rebanho. Além disso, é possível gerar relatórios de vacas e novilhas para que os animais possam ser avaliados no curral, pois, como mencionado anteriormente, a avaliação quantitativa não é suficiente.

Somente permitir a reprodução das fêmeas que passarem, concomitantemente, no crivo das avaliações quantitativa e visual (qualitativa), proporciona a construção de um rebanho produtivo, consistente e capaz de fornecer genética melhoradora para os rebanhos de produção de alimentos. Os melhores touros são, quase sempre, filhos das melhores vacas e, quanto a isso, não existem questionamentos. Adicionalmente, a maior parte do custo de produção está concentrado nas fêmeas que, consequentemente, devem ser produtivas e eficientes.

Deste modo, o avanço no sentido da seleção de fêmeas é uma proposta razoável, baseada em resultados sólidos, que pode trazer aos rebanhos a maximização do progresso genético e a consolidação dos mesmos como produtores de animais melhoradores.

Por: Dr. Henrique Torres Ventura, Superintendente Técnico-Adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ

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