Com a aproximação da estação chuvosa, volta ao debate a questão da suplementação mineral dos bovinos na época das águas: deve-se ou não fazer?
A suplementação mineral para época das águas apresenta divergência por parte dos criadores, onde alguns acham que nessa época, devido à boa disponibilidade de MS (matéria seca) das forragens, pastos verdes e cochos na maioria das vezes sem cobertura, são os fatores primordiais para não se utilizar suplementos nessa época. Essas condições levam há um baixo consumo dos suplementos pelos animais e com isso os criadores acreditam não haver necessidade de fornecer suplementos.
Só que, infelizmente para os defensores dessa versão, é aí que mora o perigo, pois é justamente nessa época que os animais aumentam o seu metabolismo, onde muitas enzimas (METALOENZIMAS) dependem dos minerais para serem ativadas.
Devemos lembrar que mesmo nessa época das águas os pastos, que são a base nutricional dos animais, não fornecem todos os nutrientes necessários, dentre eles os microminerais (Se, Zn, Cu, Mn, Co e I) e os macrominerais (P, Na, Mg e S), para atender as suas exigências.
Atualmente estamos tendo uma crescente demanda do mercado mundial, por carne bovina de qualidade, proveniente de animais criados a pasto, logo as perspectivas para pecuária brasileira são imensas. Segundo dados da FAO, órgão da ONU, que acompanha a agricultura e pecuária, apontam que em 2040, 60% da carne comercializada para abastecer o mercado mundial, será brasileira.
Isso exigirá dos produtores brasileiros profissionalismo e somente com uso de tecnologias práticas e economicamente viáveis, esse crescimento sustentável da pecuária brasileira será possível. Essas tecnologias são:
- Nutrição Correta;
- Controle Sanitário Eficiente;
- Melhoramento Genético;
Diante disso, devemos adotar medidas para suplementar corretamente os animais nessa época visando atender o aumento desse metabolismo e, consequentemente, tendo melhores resultados na produtividade (carne e leite). A pecuária só se torna competitiva se usarmos tecnologias práticas e economicamente viáveis. Lembrando ainda que o uso correto das técnicas de nutrição, manejo e da sanidade, além de aumentar a produtividade em nível animal e de rebanho, contribui significativamente para redução da emissão de GEE (gases de efeito estufa), uma das principais preocupações quando falamos em sustentabilidade ambiental.
Importância da suplementação mineral
Devemos lembrar que os bovinos, assim como os caprinos e ovinos são ruminantes, possuem pré-estômagos (rúmen, retículo e omaso) e um estômago verdadeiro (abomaso). O processo digestivo nesses animais se inicia com a ingestão dos alimentos, seguido de: mastigação, ruminação, fermentação microbiana, digestão ácida e digestão enzimática (ver figura 1).
A microbiota ruminal é composta por fungos, leveduras, bactérias e protozoários, que são responsáveis em transformar as forragens ingeridas em energia, proteínas e vitaminas que vão nutrir bovino, caprino ou ovino. Por isso é de fundamental importância manter esse ambiente ruminal o, mas sadio possível, onde segundo (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003) as condições ideais seriam:
- Temperatura (38 a 41°C).
- Umidade (85 a 90 %).
- Ph (oscilação de 5,5 a 7,2, ideal 6,4 a 6,8).
- Matéria seca de 10 a 18%.
- Substratos: Nitrogênio, aminoácidos, minerais, carboidratos.
- Anaerobiose: muito pouco Oxigênio (< 0,6% – fermentação aeróbica) e bem mais dióxido de carbono (> 60 – 70% – fermentação anaeróbica).
O suplemento mineral é o complemento da dieta dos animais (pasto). Mas o pasto não fornece todos os nutrientes necessários (energia, proteína, vitaminas e minerais) para mantença e produção, inclusive nas épocas das águas, já que sofrem variação nutricional durante todo o ano (ver figura 3 abaixo).
As condições mínimas que microbiota ruminal precisa para ter um bom desenvolvimento é de 10% de PB (proteína bruta), 70% de NDT (energia) e 2% de minerais na MS. Se o nível de PB na MS ficar abaixo dos 7%, compromete todo o processo fermentativo por parte da micribiota ruminal e isso se resume em perda de peso e / ou produtividade (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).
Por isso, hoje em dia tem se dado muita importância em uma suplementação mineral enriquecida de proteína e energia, pois essa variância nutricional que ocorre acaba levando a um desbalanço e consequentemente perda de nutrientes, já que o sistema de produção de energia e proteína da microbiota ruminal é mais rápido do que a capacidade do animal em aproveitá-las.
A suplementação múltipla na época das águas tem sido usada com maior ênfase, após o sucesso do seu uso na época da seca. Nos pastos, durante a época chuvosa, há um aumento das concentrações proteicas das gramíneas e maiores degradações do nitrogênio no rúmen pela microbiota ruminal (bactérias, fungos, leveduras e protozoários). Com isso, ocorre um desequilíbrio na relação de proteína e energia, que deveria ser mais próxima de um para sete, uma parte de proteína para sete partes de energia. (Guia Prático do Uso da Uréia na Suplementação de Bovinos – ASBRAM, 2011).
O consumo de energia e proteína deve ser balanceado, para aperfeiçoar a fermentação e maximizar a produção de proteína microbiana. Consumo excessivo de proteína, sem quantidade adequada de energia, resulta em perda de Nitrogênio na urina e nas fezes. (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais, entre os diversos fatores existentes que são responsáveis pela baixa produtividade do rebanho brasileiro, as carências de minerais e de proteína ocupam lugar de destaque. Acredita-se que não exista um fator isolado, com potencial tão elevado, para aumentar os índices de produtividade bovina, criados a pastos, a um custo relativamente baixo, como a suplementação mineral e proteínas adequadas.
Existem vários trabalhos que demonstram a importância de se utilizar suplementos minerais contendo energia e proteína na sua composição. De acordo com alguns trabalhos de pesquisas que mostram o ganho de peso médio diários de bovinos, na fase de recria, variando de 0,543 a 1,380 kg / cabeça / dia, para consumo de suplemento de 0,2 a 0,5% do peso vivo (ver tabela 1) (CARVALHO F.A, BARBOSA F.A, MACDOWELL LEE R. 2003).,
Outro fator de fundamental importância para suplementação mineral para época das águas é a questão relacionada aos cochos. Os cochos são os “pratos” dos animais e o que acontece na maioria das vezes é, de não terem os dimensionamentos e posicionamentos corretos, o que levam a resultados insatisfatórios. Os cochos devem ter os seguintes dimensionamentos:
Em relação ao seu posicionamento, o ideal é em locais de fácil acesso para os animais e responsável pelo abastecimento, próximo das aguadas, com distância máxima permitida em torno de 300m, já que os animais quando vão iniciar seu processo de ruminação, querem “sombra e água fresca”.
Podemos observar pelos dados expostos acima, que a suplementação mineral para época das águas é de fundamental importância no processo produtivo dos animais (carne e leite), devendo o produtor ficar atento ao manejo correto das pastagens, cochos e suplementos de empresas idôneas.
Atualmente aqueles criadores que não começarem a pensar na sua atividade pecuária como uma empresa, desconsiderando as tecnologias práticas existentes e disponíveis, poderá ter sérios problemas em relação ao seu COT (custos operacionais totais) e benefícios.
Referências
ASBRAM – Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais. Guia Prático para a Correta Suplementação Agropecuária: Bovino de Corte. 2 ed. Sorocaba – SP. Contato. 2003.
BARBOSA, Fabiano Alvim, CARVALHO, Fernando Antônio Nunes e MCDOWELL, Lee Russell. Nutrição de Bovinos a Pasto. Belo Horizonte – MG. PapelForm LTDA. 2003.
SUPLEMENTOS MATSUDA. Guia Técnico de Suplementação. São Paulo – SP. 1992. P 20.
Por:
Fernando Pinna
Gestor Comercial Matsuda Bahia
Médico Veterinário
MBA’s em Gestão Empresarial e Comercial pela FGV